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Semeando Espinhos - 5ª parte


(...)

Todavia, na maior parte das vezes, o ódio é o gérmem do amor que foi sufocado e desvirtuado por um coração sem Evangelho. As grandes expressões afetivas convertidas nas paixões desorientadas, sem compreensão legítima do amor sublime, incendeiam-se no íntimo, por vezes, no instante das tempestades morais da vida, deixando atrás de si as expressões amargas do ódio, como carvões que enegrecem a alma. Só a evangelização do homem espiritual poderá conduzir as criaturas. – Emmanuel – Francisco Cândido Xavier - Questão 339

Com muito esforço Madelleine foi se aproximando do palacete. A casa estava iluminada. Atravessou o grande portão e galgou os primeiros degraus. Os criados quando a perceberam, prestes a adentrar a residência, correram para enxotá-la. Nisso ouviu-se uma voz de mulher que ordenou: - Deixem-na comigo. Retirem-se todos.

Com uma fingida tranquilidade, a condessa levou-a até um pátio interno que se comunicava com a rua. Pediu-lhe que esperasse alguns instantes até ela voltar.

Quase que, de imediato, ausentou-se. Quando a maltrapilha criatura percebeu escancarar-se uma porta no lado oposto do grande pátio interno, viu dar passagem a dois cães imensos, caçadores, ávidos por estraçalhar a primeira presa que encontrassem.

Ante os despojos quase irreconhecíveis, recolhidos em ruela escura do subúrbio, o velho general trazia os olhos marejados de lágrimas, segurando o medalhão de safira, último bem guardado por aquela a quem um dia honrou com o seu nome. Ali estava inscrito: Madelleine de Gus e Lombardy – 07 de janeiro de 1765 – fora o seu presente de casamento. O piedoso condutor do carroção que arrecadava cadáveres, lendo a inscrição, fizera a notícia chegar até ele.

Quando cada criatura for respeitada em seu foro íntimo, para que o amor se consagre por vínculo divino, muito mais de alma para alma que de corpo para corpo, com a dignidade do trabalho e do aperfeiçoamento pessoal luzindo na presença de cada uma, então os conceitos de adultério e prostituição se farão distanciados do cotidiano, de vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser. Vida e Sexo – Emmanuel – F.C.Xavier - Cap. XXII

A sentida oração de um coração que soubera perdoar, embora não pudesse esquecer, fora o derradeiro conforto de Madelleine.

O velho soldado providenciou para que ela fosse sepultada na cripta da sua família, dando-lhe mais uma vez a condição de nobreza que ela tivera na Terra e recusara.

Trazia no coração uma dor imensa, mas ao depositar o corpo de Madelleine no jazigo cumpria sua missão dolorosa, sua derradeira batalha, porquanto sentia-se mais como um pai esquecido, do que um cônjuge traído.

A notícia espalhou-se pela corte, dividindo as opiniões entre os que,fingidamente, se compadeciam da infeliz mulher estraçalhada por cães e dos que viam no fato a consumação da justiça divina.

O velho general recolheu-se às herdades distantes de propriedade da família e nunca mais foi visto na corte até ter o seu nome esquecido por todos, embevecidos com os feitos de novos heróis.

Muitas vezes, os que passavam pelas aleias floridas da velha cripta, onde jaziam os despojos de Madelleine, ouviam os soluços desesperados de uma mulher, que por mais fosse procurada pelos desavisados que ali passavam, não fora jamais encontrada.

O imaginário popular que esquece os fatos e pinta com as cores da fantasia os dramas mais dolorosos, também, ao longo do tempo, reputou o lugar como mal-assombrado; outros faziam promessas à alma da mulher que devorada por cães operava milagres para as moçoilas abandonadas por seus afetos.

A vida também não poupou o homem adúltero. Sua devassidão e leviandade não chegavam, no entanto, à perversidade. Quando Ferdinand soube do gesto cruel da esposa, através de inconfidências de um dos criados da sua confiança, não teve mais paz. Os despojos sangrentos da mulher maltrapilha e enferma atormentaram-no dia e noite. O vício do álcool, que se intensificara nos últimos anos, agravou-se. O assédio dos abortados, convertidos em perseguidores implacáveis tornou-se o caminho para a loucura.

Nas águas escuras do Danúbio, onde ele não tivera coragem de se precipitar, Ferdinand via a figura de Madelleine, chamando-o... chamando-o...

Sabendo disso sua esposa, a condessa, colocou-o a ferros, impedindo o gesto malsinado.

Apenas um dos criados do palacete, que desde a juventude de Ferdinand o acompanhava, cuidava dele. Pobre louco, do qual ninguém mais ouviu falar.

-A lei divina é uma só, isto é, a do amor que abrange todas as coisas e todas as criaturas do Universo ilimitado. A concessão paternal de Deus, no que se refere à reencarnação para a sagrada oportunidade de uma nova experiência, já significa, em si, o perdão ou a magnanimidade da Lei. Todavia, essa oportunidade só é concedida quando o Espírito deseja regenerar-se e renovar seus valores íntimos pelo esforço nos trabalhos santificantes. Eis por que a boa-vontade de cada um é sempre o arrependimento que a Providência Divina aproveita em favor do aperfeiçoamento individual e coletivo, na marcha dos seres para as culminâncias da evolução espiritual.

No escoar do tempo Ferdinand, Madelleine, o general e a condessa continuarão a senda de experiências no seu processo de resgate rumo à felicidade, porque Ele, o Mestre inolvidável prossegue, assegurando que o amor cobre a multidão dos pecados.

F I M

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