60 anos do livro Memórias de um Suicida
O livro “Memórias de um Suicida” foi escrito pelo Espírito Camilo Castelo Branco, através da mediunidade de Yvonne do Amaral Pereira. Publicado pela primeira vez em maio de 1954, a obra foi ampliada em segunda edição em abril de 1957.
Segue a sinopse da FEB Editora:
Com orientação do Espírito Léon Denis, o autor espiritual Camilo Castelo Branco, sob o pseudônimo Camilo Cândido Botelho, descreve à médium Yvonne A. Pereira sua dolorosa experiência após a desencarnação pelo suicídio. Com valiosos ensinamentos, o livro mostra a grandeza da Misericórdia divina para com os suicidas arrependidos, trazendo-lhes a oportunidade de conhecer o Universo e a vida em sua integral dimensão. A gênese planetária, a evolução do ser, a imortalidade da alma, a moral cristã e outros temas relevantes são estudados para a compreensão de que “nenhuma tentativa para o reerguimento moral será eficiente se continuarmos presos à ignorância de nós mesmos”. A leitura completa da obra mostra que há um caminho de reconstrução para os arrependidos. Há sempre esperança, porquanto a reabilitação é possível.[1]
Chama a atenção nesta obra que há uma introdução (assinada pela médium Yvonne Pereira) e um prefácio da 2ª edição (assinado por Léon Denis).
A introdução traz diversas informações, quais sejam (1) a vida de Yvonne, (2) como a obra foi escrita e (3) quem são os mentores que a acompanharam nessa tarefa.
Da leitura da introdução, constatamos que os apontamentos que resultaram no livro começaram a ser escritos nos dias da juventude de Yvonne (em torno de 1926 – ou seja, há mais de 70 anos!) e levou em torno de 20 anos para a sua compilação, redação e publicação.
Yvonne nos narra que esteve impossibilitada de manter intercâmbio normal com os Espíritos durante 4 anos e relega ao esquecimento as anotações por 8 anos. Posteriormente chegam instruções para prosseguir na elaboração do livro, pois receberia a necessária assistência.[2]
É possível, portanto, reconstruir a linha de tempo da elaboração do livro da seguinte forma:
1954 - Publicação da 1ª edição
1953 - Assistência de 1 ano
1953 até 1945 - Período de 8 anos em que relega ao esquecimento as anotações
1945 até 1941 - Período de 4 anos em que ocorre a impossibilidade de manter intercâmbio normal com os Espíritos
1941 até 1926 - Recebe mensagens e faz apontamentos
Ficam claros os motivos pelos quais houve a impossibilidade de manter intercâmbio normal com os Espíritos:a 2ª Guerra Mundial assolava a humanidade encarnada e desencarnada no período de 1941 até 1945, demandando esforços de ambos os planos (físico e espiritual).
Esclarece Yvonne que “(...) deu-me a misericórdia do mesmo amado Senhor três servos dedicados de sua gloriosa doutrina de amor e de luz como tutelares que me acudissem às necessidades urgentes do trabalho reparador que me estava afeto (...):Charles, Bezerra de Menezes, Léon Denis!”.[3]
Mas quem é Charles? Na revista O Reformador de março de 1994 (página 14), é lembrado que a trilogia de romances – “Nas voragens do Pecado”, “O Cavaleiro de Numiers” e “O Drama da Bretanha” – retrata as lutas redentoras de diversos personagens comuns entre si nas três histórias. Mostram Yvonne dolorosamente falida ante seus impulsos suicidas em encarnações anteriores, mas sempre contando com a constante proteção de seu pai espiritual Charles, personagem central e autor das três obras.
Doutor Bezerra de Menezes é conhecido de todos os espíritas e Espíritos espíritas. Após 30 anos de atividade parlamentar (foi Deputado-Geral e vereador), assume a Presidência da FEB e passou a catalisar todo o movimento espírita na Pátria do Cruzeiro. “Morreu pobre, embora seu consultório [médico] estivesse cheio de uma clientela que nenhum médico queria; eram pessoas pobres, sem dinheiro para pagar consultas. (...) Por ocasião de sua morte, assim se pronunciou Léon Denis, um dos maiores discípulos de Kardec: ‘Quando tais homens deixam de existir, enluta-se não somente o Brasil, mas os espíritas de todo o mundo’”.[4]
Léon Denis, por sua vez, começa seu apostolado em 1882 (aos 36 anos) e passa a proferir incontáveis palestras e escreve brilhantes livros. Durante a Primeira Guerra Mundial desenvolve cegueira parcial e ao final do conflito bélico, está praticamente cego. Aprende o braille e continua a fixar no papel os elementos de capítulos ou artigos que lhe vinham ao espírito.[5]
Alma sensível, legou-nos verdadeiras poesias com suas descrições da obra do Criador no capítulo “O livro da natureza” de “O Grande Enigma”[6], dizendo de forma belíssima:
“Não procures Deus nos templos de pedra e de mármore, ó homem que o queres conhecer, e sim no templo eterno da Natureza, no espetáculo dos mundos a percorrer o Infinito, nos esplendores da vida que se expande em sua superfície, na vista dos horizontes variados: planícies, vales, montanhas e mares que a tua morada terrestre te oferece. Por toda parte, à luz brilhante do dia ou sob o manto constelado das noites, à margem dos oceanos tumultuosos, e assim na solidão das florestas, se te sabes recolher, ouvirá as vozes da Natureza e os sutis ensinamentos que murmura ao ouvido daqueles que frequentam suas solidões e estudam seus mistérios.”
Estes Espíritos de alta envergadura (Charles, Bezerra de Menezes e Léon Denis) participaram diretamente na elaboração de Memórias de um Suicida.
Ciente disso, podemos analisar com mais cuidado o que Léon Denis afirma no prefácio da segunda edição (em 04 de abril de 1957) do livro Memórias de um Suicida que:
“Revisão criteriosa impunha-se nesta obra que há alguns anos me fora confiada para exame e compilação, em virtude das tarefas espiritualmente a mim subordinadas (...) Fi-lo, todavia, algo extemporaneamente, já que não fora possível fazê-lo na data oportuna, por motivos mais aos prejuízos das sociedades terrenas contra que o mesmo instrumento se debatia do que à minha vontade de operário atento no cumprimento do dever”.[7]
E arremata, de forma direta e surpreendente, que:
“Entrego-o ao leitor, pela segunda vez, tal como foi recebido dos maiores que me incumbiram da espinhosa tarefa de apresenta-la aos homens (...); no entanto, não lhe alterei nem os informes preciosos nem as conclusões, que respeitei como labor sagrado de origem alheia”.[8] (grifei)
Quem são esses maiores? Em se tratando de Bezerra de Menezes e Léon Denis, somente podemos imaginar Espíritos Puros de altíssima envergadura.
Portanto, caro leitor, ao ler (ou reler)Memórias de um Suicida, tenha em mente que é o resultado de um labor sagrado determinado pelas mais altas esferas da espiritualidade deste planeta, medite profundamente sobre cada uma das lições lá contidas e empenhe-se em aplicá-las em sua vida.
Boa leitura e seja feliz.
Referências:
[1] http://www.febeditora.com.br/departamentos/memorias-de-um-suicida/#.WUhkSejyvnY – acessado em: 19 jun. 2017.
[2] CASTELO BRANCO, Camilo Cândido, Memórias de um Suicida, Introdução, 27ª ed, Brasília: FEB, 2013, páginas7 à12.
[3] CASTELO BRANCO, Camilo Cândido, obra citada, página 12.
[4] FEB, http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/06/Adolfo-Bezerra-de-Menezes.pdf acessado em: 19 jun. 2017
[5] FEB - http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/06/Leon-Denis.pdf - acessado em: 19 jun. 2017.
[6] DENIS, Léon, O Grande Enigma.
[7] DENIS, Léon, Memórias de um Suicida, página 13.
[8] DENIS, Léon, Obra citada, página 14.
continua...