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Um soldado na guerra e na paz


A bênção da evangelização

A Terra é um lar abençoado, uma escola acolhedora onde temos experimentado, em sucessivas encarnações, a construção da paz individual que fomentará a paz coletiva e o entendimento entre os povos.

Recordo, como se estive ainda presente, aquele longínquo dia de maio em solo da bela Itália, quando o silêncio se fez nos campos de batalha da segunda grande guerra, e não mais ouviríamos a voz dos canhões nem o aterrador estrondo do vôo rasante dos bombardeiros que despejavam os impiedosos mísseis, arrasando as aldeias, cidades, espalhando a dor e a morte.

Aos poucos fomos saindo, temerosos, em expectativa, de dentro das trincheiras, deixando nossos corpos alquebrados pelo medo, pela luta intensa de tantos meses, serem banhados pelo calor do sol primaveril que, pela primeira vez, contemplávamos sem as nuvens densas dos incêndios e das sombras negras dos caças de guerra.

Havia uma quietude comovente. Percebíamos a natureza, que alheia as loucuras humanas, já apresentava o colorido das primeiras florinhas silvestres, que a perversidade humana não lograra destruir.

Imediatamente, qual se impulsionados por uma contrição interna pujante, pousamos os joelhos na Terra revolvida pelas bombas e projéteis para balbuciarmos uma prece de gratidão pela vida. As lágrimas rolavam copiosamente dos nossos olhos. Estávamos vivos e a guerra acabara.

A notícia recebida alentava-nos a alma que pulsava de esperança, antegozando o retorno ao lar, à Pátria distante, ao convívio com os amigos, à rotineira vida de um cidadão comum.

Buscávamos na tela da memória as paisagens amadas do Brasil, a tranquilidade da nossa pequena cidade, de onde saíramos naquela manhã em que o dia se apresentava envolto na neblina matutina, que parecia um véu, disfarçando a tristeza das mães, das irmãs, noivas, esposas e filhos que nos abraçavam sem saber se retornaríamos.

Agora estávamos ali, vivos, com a alma marcada pelas cicatrizes do grande conflito.

Aos poucos fomos nos levantando e olhando em volta. O último combate fora acirrado e deixara baixas significativas nos dois lados. Víamos, ainda, os corpos estendidos dos nossos mortos dentro das trincheiras.

Eles não retornariam. Não estariam no tombadilho do navio para acenarem aos seres amados. Ficariam como uma lembrança no coração saudoso dos que lá estavam para recebê-los.

Pensando assim, senti as minhas mãos tintas do sangue dos inocentes. Lembrei que do lado inimigo até ontem, havia mortos que hoje eram apenas mais umas das tantas vítimas de uma guerra que sequer queríamos e que aderimos por um sentimento que dizíamos ser de amor à Pátria e agora parecia tão sem significado.

Vivi longos 95 anos, e nos 50 anos que transcorreram após a volta do Velho Mundo, carreguei comigo a dor das famílias dos soldados que conduzi às frentes de batalha.

Cumpria ao meu dever, é certo. Porém, não ignoro que conduzir homens à guerra é levá-los à antessala da morte.

Encontrei-os, muitos, quando demandei à Pátria Espiritual. O conhecimento da Doutrina Espírita deu-me a condição de retornar em razoável situação de paz interior e ao encontrá-los, continuar o processo de liderá-los, agora para uma batalha verdadeira, para nos tornarmos semeadores da paz no mundo.

Prepará-los para um novo mergulho na carne, na sublime tarefa de alistarem-se aos batalhões do Cristo, nas tarefas da evangelização espírita, tem sido para este Espírito, cheio de débitos e sombras, um raio de sol que se renova a cada instante, como aquele que nos aqueceu no derradeiro dia da grande conflagração.

Precisamos, sempre, observar a face sombria da intolerância que faz vítimas, arrasa civilizações e ferreteia as almas para acordar em nós a mansuetude que Ele ensinou. Necessitamos das explosões e estampidos ensurdecedores da alma em desalinho para lograrmos ouvir a sinfonia da paz em magistrais acordes, tangendo as harpas sensíveis da emotividade para que os campos da paz floresçam dentro de nós.

Egydio.

O Espírito que assinou o nome acima, talvez pseudônimo, foi oficial da Força Expedicionária Brasileira na Itália.

Mensagem recebida no Grupo Yvonne do Hospital Espírita de Porto Alegre em 09 de maio de 2009.

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