Cobertura jornalística
Amigos:
O sentimento que visita minha alma situa-se entre a frustração e a surpresa.
Ainda não havia percebido, com nitidez, que a morte, tal como a chamamos na Terra, transforma concepções, habilidades e o alcance da nossa compreensão.
Dizer que continuamos sendo o que fomos é uma verdade cuja inteireza levamos tempo para compreender. A miopia que carregamos em relação às verdades imortais somente se desfaz aos poucos, quando começamos a desprender a alma das limitações terrenas.
Imaginem que ao ser designado pelos Instrutores Maiores para realizar uma cobertura jornalística fiquei exultante. Afinal, pela vez primeira, depois do retorno ao Mundo dos Espíritos, realizaria uma tarefa que conhecia bem, era o que pensava, e que, portanto, não deveria encontrar nela senão os desafios que sustentara na existência física.
Ledo e profundo engano!
Com liberdade na composição da pauta que deveria transmitir aos estúdios da colônia, deslocamo-nos com a equipe responsável pelos equipamentos sutis de transmissão e captação das notícias do Orbe.
O largo período de militância nas hostes da comunicação fez com que os fatos escolhidos se situassem nessa área da atuação humana.
Rememorando os conhecidos critérios para uma boa cobertura, logo fui em busca de novidade, pois notícia antiga não cativa público é o que sabemos. Estranhamente, tudo o quanto surpreendi de ocorrência nos meios de comunicação terrenos, já o eram por demais conhecidos na Colônia. Os contextos em estudo, as ideias em elaboração, os planejamentos para ações futuras apresentavam-se distantes das discussões que norteavam nossos estudos nos encontros realizados no Mundo Maior. Por mais esforço que empreendesse não logrei êxito em identificar um “furo” jornalístico.
Lembrei que a proximidade dos acontecimentos com aqueles a quem ela se destina é fator que compõe o sucesso da informação. Tive, então, um entrave invencível nesse aspecto: As almas que avaliavam a tarefa apresentavam um grau de fraternidade e interesse pela Terra que as colocavam próximas de todos e de tudo. A sensação de que qualquer escolha atingiria o fim colimado gerou um desestímulo, pois que eu estava acostumado a desafiar o lugar comum, garimpando o ineditismo e identificando os mínimos indícios que apontassem realidades ainda em gérmem.
Pensei, então, na importância, que é uma bússola para todo o repórter, pois apenas os fatos relevantes produzem notícia e interessam.
Com o ânimo abatido ante as experiências e avaliações anteriores recebi o auxílio do Irmão Teles que me recordou as lições recebidas nos dias que antecederam a minha inserção no trabalho que ora realizava.
Disse-me ele, com acentuada generosidade e compreensão:
Ribeiro, se você trilha um caminho e sabe que após você, seres que lhe são caros o percorrerão, enfrentando os mesmos desafios, as mesmas lutas, incertezas e dificuldades que você já enfrentou o que você faria?
- Deixaria recados, indicações, placas sinalizando os perigos e orientando a melhor forma de superarem a jornada, respondi sem vacilar.
- E você teria a certeza de que eles acolheriam de bom grado as suas orientações?
- Talvez... Não sei.
Comecei a pensar nos meus afetos, nos meus amores e nas muitas vezes em que divergíamos sobre as grandes e sobre as pequenas coisas do cotidiano.
Então, o irmão Teles arrematou.
- Seria importante para você receber notícias da caminhada deles, não é Ribeiro? Ele não esperou a resposta como se já a conhecesse antes mesmo da indagação!
Enquanto Teles afastava-se, serenamente, dando-me ensejo à reflexão comecei a perceber que a sutileza do seu comentário abria em minhas percepções, ainda obnubiladas pelos conceitos terrenos, novas e profundas cogitações.
Percebia, agora, que novidade, proximidade e importância para aqueles que orientam nossos destinos significam a nossa evolução, o crescimento espiritual, as conquistas morais, a despeito de todas as deficiências que ainda carregamos e, sobretudo, recebi a bênção de sentir golpeado o orgulho, para entender que a humildade é um apanágio dos fortes que venceram a si mesmos.
Olhando, por entre as lágrimas que banhavam a minha face, o irmão Teles que caminhava calmamente pelas aleias floridas do grande parque onde realizávamos nossas meditações, senti que ele deixava sinais de luz na minha alma a fim de que eu concluísse o trabalho, adquirindo valores para um dia identificar nas criaturas da retaguarda, como eu, irmãos cujas lutas se constituam em pauta fidedigna.
Comunicar, portanto, não significa surpreender fatos em tempo real, ou correr contra o tempo na tentativa de adiantá-lo na informação, mas integrar as suas dimensões, pois existe o tempo de cada um!
Comunicar não é apenas relatar o novo, porquanto a novidade somente o Espírito a produz, em relação a si mesmo, porque tudo, absolutamente tudo, está contido na grande Lei!
Comunicar é aproximar os homens, as dimensões e as criaturas do Criador.
Fraternalmente.
Mendes.
Psicografia recebida por MEB. Dezembro de 2012