A necessária empatia
Vivemos tempos curiosos, esses tempos de transição, pois, apesar de estarmos caminhando em meio ao trânsito para a regeneração humana, como previram os Espíritos junto a Allan Kardec, consoante anota em seus textos o ínclito codificador do Espiritismo, saltam aos nossos olhos comportamentos dantescos na vida social
O fato é que, nesse período de transição emergem conflitos íntimos na esfera pública que antes ficavam no anonimato, em tempos em que não éramos uma sociedade informática, com rede de comunicação global e complexa. Mas esses conflitos, oriundos na preponderância das paixões inferiores sobre a nossa natureza espiritual apenas reflete a nossa condição - impermanente - de Espíritos imperfeitos, que se afligem na coletividade como uma residualidade de um tempo de outros tempos chegados.
“Mas uma mudança tão radical como a que se está elaborando não pode realizar-se sem comoções. Há, inevitavelmente, luta de ideias. Desse conflito forçosamente se originarão perturbações temporárias, até que o terreno se ache aplainado e restabelecido o equilíbrio. É, pois, da luta de ideias que surgirão os graves acontecimentos preditos e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais foram consequência do estado de formação da Terra. Hoje, não são mais as entranhas do globo que se agitam: são as da Humanidade.”[1]
O justo é que nesse cenário, somos todos afligidos por nossas dores morais de forma aguda, como que premidos pelo tempo que se esgota para dar início aos tempos chegados de transição, de ponte entre um mundo de provas e expiação - como os Espíritos do Senhor classificaram a Terra - para um mundo de Regeneração, anunciado no Sermão Profético[2], que avisa-nos de grandes tribulações.
Tempos de dores acerbas na alma é um tempo em que a empatia é sobejamente necessária, para que nos compreendamos uns aos outros e nos entre-ajudemos.
Mas o que é empatia? O nosso confrade, Jason de Camargo a definiu como (...) a capacidade que conduz o indivíduo a se colocar no lugar do outro, a perceber o que se passa com ele pelas vias da sensibilidade, é sentir o que o outro está sentindo pelos canais não verbais.”[3] Portanto, empatia é uma habilidade socioemocional que se desenvolve e se edifica, enquanto aprendizagem do Espírito imortal, a medida em que procuramos compreender pelo sentir/agir/pensar a perspectiva do outro, sua experiência e seus sentimentos.
Para Jaime Ribeiro, ela é uma habilidade fundamental para a liderança do futuro, afirmando-a como “a capacidade de ver o mundo através dos olhos de outra pessoa, entendendo e dividindo os sentimentos dessa pessoa.”[4] Compreender as dores morais do outro é fundamental nessas horas de transição, em que emergem para a vida de relação os nossos conflitos existenciais originados no descompasso entre o que estamos sendo e a nossa meta evolutiva, em conformidade com o estágio de regeneração.
Como podemos ser empáticos? Em primeiro lugar, dispondo-nos internamente à compreensão do outro, sem julgamentos morais, Em segundo lugar, criando o hábito de olhar respeitosamente nos olhos do próximo. A seguir, como um terceiro passo, exercitar a escuta empática ou a escuta com plena atenção, colocando-se por inteiro à serviço da expressão de dor ou angústia expressa pelo próximo a seu modo.
Assim agindo, tudo indica que estaremos sendo presença na vida um dos outros e estabeleceremos relacionamentos verdadeiramente caridosos, onde superaremos a indiferença, curaremos o ódio e nos reconheceremos uns aos outros como filhos de Deus e irmãos em caminhada evolutiva comum.
Referências:
[1] KARDEC, Allan. A Gênese, os milagres e as predições segundo o espiritismo. 1ª edição 1868. Brasília: FEB, 2018.
[2] Mateus 24.
[3] CAMARGO, Jason. Educação dos sentimentos. Porto Alegre: FERGS, 2010, p. 135.
[4] RIBEIRO, Jaime. Empatia: por que as pessoas empáticas serão os líderes do Futuro. São Paulo: Interlítera Editora, 2018. (Locais do Kindle 87-88). Edição do Kindle.