União, Unificação e Liderança Espírita
Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.[3]
União e Unificação são dois princípios que devem orientar a ação do adepto do Espiritismo desde sua simples presença junto ao núcleo espírita-cristão em que se encontre vinculado. Balizado por ambos, no labor de aprendizado e serviço que lhe compete, irá situar-se o companheiro no âmbito da rede interexistencial da qual faz parte, agregando extensa, ativa e amorosa falange de servidores do Bem, comprometidos com a Doutrina do Consolador, sob as diretrizes da Vida Maior.
O contato com a ideia de união na família espírita é por demais oportuno na formação do caráter espírita-cristão do adepto do Espiritismo, especialmente porque o Espiritismo não poderia ensinar algo distinto disso, tendo em vista que a sua proposta ético-moral é o Evangelho de Jesus que nos convoca ao amor recíproco consoante o parâmetro do Mestre. Disse-nos o nosso Guia e Modelo: “Um novo mandamento vos dou: ‘que vos ameis uns aos outros’; assim como vos amei, que também vos ameis uns aos outros.”[4]
Ser-nos-á possível amar como Jesus nos amou? Pois bem, é Allan Kardec quem nos socorre ante a esta questão. O mestre, em comentário a resposta dos Espíritos Superiores à questão 625 de O Livro dos Espíritos, registra: “Para o homem, Jesus representa o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra.(...)”[5] Neste pequeno excerto já temos ideia clara de que Jesus, o Espírito mais puro que já encarnou-se sobre a Terra, está em sua missão posto como referencial de excelência moral para todos nós e seguí-lo é o desiderato de todos nós. Logo, ter por meta amar como Ele nos amou não é algo inexequível, muito pelo contrário, a Pedagogia Divina estabelece, na escola das experiência expiatórios e provacionais, todas as possibilidades redentoras em nossa jornada evolutiva para que sigamos o Cristo de Deus.
Mas, a pergunta persiste: será possível, amar como o Mestre nos ama? Novamente, Kardec nos elucida: “(...) amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos que nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos."[6] Daí, podemos inferir que amar como Jesus nos amou é amar-nos como irmãos orientados pela mais absoluta benevolência, expressão fundamental da caridade. Ainda assim, tudo indica que precisamos tornar mais concreto o sentido de União que norteia a Unificação, desde as bases do Cristianismo do Cristo. Contudo, antes um pouco, recordemos a definição de amor trazida pelo membro da Sociedade Espírita de Paris, Sanson, que procurou aplicar em si o remédio moral do Espiritismo, o que lhe conferiu plenitude na vida futura. Diz-nos Sanson:
“Amar, no sentido profundo do termo, é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros aquilo que se desejaria para si mesmo; é procurar em torno de si o sentido íntimo de todas as dores que acabrunham os vossos irmãos, para suavizá-las; é considerar como sua a grande família humana, (...).”[7]
Não é demais lembrar que é esse amor cristão que deve orientar os adeptos do Espiritismo e precisa ser sempre exemplificado pelas lideranças espíritas, em diversos contextos vivenciais, pois que o conceito de liderança servidora em voga na rede federativa evidencia o dever de amar, como sentimento nobre que compõe o coração do líder espírita[6], a fim de que influenciemos pessoas para a realização entusiástica de ações colaborativas e convergentes para com o justo, o belo e o bem comum, por meio da força do caráter pessoal e do amor praticado.
O amor é um conhecimento sensível, uma habilidade socioemocional e espiritual e uma atitude cristã indispensável para que a liderança, no campo de ação do movimento espírita, materialize a vivência genuinamente cristã do bem-querer autêntico, da solidariedade e da renúncia necessárias para amarmos como Jesus nos amou, concitando-nos a transformar a nossa agenda pessoal na agenda do programa ideal para o movimento espírita brasileiro: os labores da rede federativa, fazendo-se tudo pelo bem de todos.
Lembra-nos, o confrade Jorge Godinho B. Nery, presidente da Casa Máter do Espiritismo no Brasil, que não pode haver unificação sem união, informando:
“A união para ser vivida exige desprendimento, desapego, esquecimento do meu, do seu, obscurecimento do personalismo, evidência do nosso em benefício da Causa e da Casa execução de um trabalho que é de ambos os planos da vida e que espera de cada um o cumprimento da tarefa para a qual se compromissou, conforme orienta Allan Kardec: ‘Trabalho, solidariedade e tolerância’.”[8]
Eis o programa que se deve cumprir aqueles que estão à frente das comunidades espíritas nos mais diversos rincões de nosso Brasil, ainda que sua liderança seja transitória ou aparentemente pequena, mas o seu legado deve ser, para ter valor positivo junto à Espiritualidade, o ideal de União e o Ideário de Unificação nas ações coletivas, nas estratégias, nas avaliações, na busca de efetivos resultados para o melhor, de acordo com as necessidades legítimas de nossas comunidades, de modo que os que lideram, sem personalismo, reflitam em seu fazer o ensino de Jesus: “(...) o maior entre vós seja como o mais novo, e o que comanda como o que serve.”
Referências:
[1] Artigo originalmente publicado no Diálogo Espírita, da FERGS, de número 119.
[2] Coordenador do Setor de Formação de Lideranças Espíritas junto à Vice-Presidência de Unificação - FERGS.
[3] Atos 22: 28.
[4] João 13:34.
[5] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. trad. Evando N. Bezerra. FEB - Edicei of America. Edição do Kindle, (Locais do Kindle 13784-13785), questão 625.
[6] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. trad. Evando N. Bezerra. FEB - Edicei of America. Edição do Kindle, (Locais do Kindle 15455-15457), questão 886.
[7] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. trad. Evandro N. Bezerra. Federação Espírita Brasileira - Edicei of America. Edição do Kindle, p. 153.
[8] BARBIERI, Maria Elisabeth da Silva; SALUM, Gabriel Nogueira. O líder espírita. Org. Almerinda Terezinha. 2. ed. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2016.