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A coragem para ser bom - cap. 10




Qual é a missão do Espírito protetor? – A de um pai para com seus filhos: conduzir seu protegido ao bom caminho, ajudá-lo com seus conselhos, consolá-lo em suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.[1]

 

Augusto, o capataz dos Cerqueira, chegou ao hospital nervoso, pois não sabia como dar a notícia. Vinha da Delegacia e depois do necrotério, onde teve uma tarefa difícil de reconhecimento de um corpo. Procurou o médico da família e confidenciou a sua aflição.

- Augusto, dona Fernanda precisa saber, eu vou com você dar a notícia.

A noite se avizinhava e quando os dois médicos chegaram aos aposentos, onde Fernanda aguardava por Nivaldo, ela veio na direção de ambos, expressando um misto de sentimentos de aflição e alívio.

- Doutor Anselmo, Augusto, graças a Deus Nivaldo não enfartou – os médicos estão sem entender isso - os exames não confirmaram aquele diagnóstico prévio, mas eu sei que isso se chama Providência Divina. Estou aguardando ele aqui, eles querem que ele pernoite no hospital para uma observação de 24 horas, mas amanhã vamos para casa. Estou aflita por notícias da Nice que foi levada por aquele homem perverso e também o Valdinho não apareceu aqui. Vocês sabem deles?

Anselmo segurou Fernanda pelo braço e a convidou a sentar-se.

- Fernanda, você vai precisar ser forte, minha filha – disse o médico.

Augusto rodava o chapéu nas mãos e não pode conter a lágrima que deslizou pelo rosto curtido do sol. Vira aquele menino crescer, se tornar homem, ensinara-o a andar a cavalo, dirigir os tratores da estância e muitas vezes, ocultara as artes dele do próprio pai.

- O que aconteceu? Falem por favor. Foi a Nice não foi? O que aquele homem fez com ela?

- Não, não, a Nice está bem, é o Valdinho, Fernanda, infelizmente, não se sabe como ainda, mas ele estava no local onde o Antonio foi preso, enfrentou a polícia a tiros e foi baleado.

- Não, meu Deus, mas ele está bem, não é Doutor? Ele foi socorrido. Está aqui no Hospital? Eu preciso vê-lo. A mãe em desespero ergue-se e fez menção de sair para o corredor, tendo o Dr. Anselmo que segurá-la do braço, amorosamente.

- Fernanda, não minha filha, lamentavelmente, a notícia é a pior possível.

Fernanda se deixou cair no sofá e as lembranças de outra notícia recebida há tempos atrás voltaram-lhe a mente e ao coração.

- Não, não, outra vez, meu Deus, por que meu Deus?

Fernanda era uma alma forte, amparada pela fé raciocinada advinda do conhecimento espírita, mas a dor de perder mais um filho para a violência do mundo era intensa, insuportável. Dobrou-se sobre si mesma e deixou as lágrimas verterem abundantes. Seu filho lutava com o alcoolismo - segundo ele bebia socialmente – ela o alertara muitas vezes para a necessidade do tratamento, levara-o a um grupo de Alcoólicos Anônimos depois de muita insistência, arrumando uma severa discussão com o filho por ele não se reconhecer um adicto, mas daí a se tornar um criminoso, trocar tiros com a polícia, não lhe parecia crível.

- Vocês têm certeza? Como ficaram sabendo disso, não há alguma confusão sobre isso, ou ele também estava refém de César como a Nice.

Augusto se adiantou e, sem jeito, gaguejando disse:

- Dona Fernanda, o Delegado vai procurar a senhora e o patrão para explicar, eu apenas fui informado que ele tinha sido baleado num campo de pouso clandestino desses... em confronto com a polícia. Eu fui lá no necrotério e vi, é ele mesmo, infelizmente, é o menino Valdinho.

Nesse momento os enfermeiros traziam Nivaldo para o quarto, ele estava sonolento em razão das medicações para a dor o que permitiu Fernanda se recompor para não revelar de imediato a situação. Sinalizou para Augusto esperar no corredor.

- “Nanda”, como estão os meninos? A Nice que foi levada... – Fernanda colocou o dedo nos lábios e com o coração ralado de angústia conseguiu esboçar um sorriso tranquilizador para que o marido completasse o seu período de refazimento até a manhã seguinte onde momentos difíceis os esperavam – agora você precisa dormir “Valdo”. Está tudo sob os cuidados de Deus, você sabe disso. A serenidade dela, inspirada por Leonor que permanecia em vigília, surtiu o efeito esperado. Valdo silenciou e adormeceu, enquanto a esposa alinhava com o capataz as providências para a remoção e as cerimônias fúnebres do filho.

 . . .

Nice passou por exame de corpo de delito e ficou no hospital aquela noite. Após a notícia da morte de Valdinho, Fernanda também foi notificada do estado da filha e revezou-se bravamente à cabeceira dela e de Nivaldo até que o dia amanheceu, assinalando para o clã dos Cerqueira a continuidade dos desafios.


Referência:

[1] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos (Codificação Espírita 1). Federação Espírita Brasileira. Edição do Kindle.

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