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A coragem para ser bom - cap. 20




Quando experimentamos uma sensação de angústia, de ansiedade indefinível ou satisfação interior sem causa conhecida, isso se deve unicamente a uma disposição física? “É quase sempre efeito das comunicações que, inconscientemente, tendes com os Espíritos, ou que tivestes com eles durante o sono.” [1]

 

A entidade, conhecida pelo pseudônimo “Plúmbeo” nas regiões trevosas do além, é em verdade uma espécie de fachada da mandante por detrás das ações ligadas à expansão do tráfico nas regiões do sul do Brasil e ramificações na América Latina. Dentre os crimes em planejamento por eles estão os relacionados com a quadrilha estabelecida nas fazendas de Antonio Cezar, da qual a “Andorinhas” é apenas o portal para uma rede ainda não descoberta pela autoridade policial, mas cuja inteligência nas investigações começam a vislumbrar as evidências dos crimes praticados.

A chefe, chamada pelos seus sequazes de “Hermosa”, teve sua última reencarnação no gênero feminino, e desencarnou após uma extensa trajetória de delitos a frente de conhecido cartel, muitos deles suspeitados, mas não desvendados pela justiça humana. Viveu longo tempo impune e com passagens insignificantes pela prisão, se comparadas às penas e à extensão e perversidade de seus crimes. “Hermosa” viu em Nice um perfil passível de ser sugestionado para continuar na Terra ações semelhantes a que protagonizou durante a vida, em especial, a facilidade de livrar-se dos adversários, especialmente dos mais próximos como ela o fizera, com seus inúmero maridos.

Tudo transcorria bem para a horda malfeitora e infeliz, até que identificaram fissuras na lealdade de Ramão e suspeitaram dos verdadeiros propósitos de Nice.

Plúmbeo resmungava com seus comandados.

- Vamos fazer esse pato dar o serviço. Utilizem todos os instrumentos de suplício que temos. Tenho a certeza de que ele capitula, não vai aguentar.   

Exalavam daquela silhueta cor de chumbo vapores e cheiros fortes, que fizeram os demais integrantes do séquito colocarem capacetes pesados, dado a dificuldade respiratória experimentada ao contato dos miasmas lançados pelo Espírito a comandá-los.

Ramão adormecido sentiu a atmosfera pestífera se disseminar pelo ambiente e estando um pouco distanciado do corpo percebeu uma onda sombria avançar para ele. Tentou fugir, porém sentia-se chumbado, preso ao corpo que se negava a acompanhar-lhe. Apavorado diante da situação, visualizou ganchos pontiagudos desferidos na sua direção e buscou se esquivar, mas eles atravessaram-no causando-lhe uma dor intensa, deixando-o preso à parede do quarto – era assim que se via. Em meio àquela tortura lembrou-se das palavras de dona Fernanda na leitura do Evangelho: “a prece aproxima do Altíssimo o homem; é o traço de união entre o céu e a Terra: não o esqueçais.”[2] Fechou os olhos e tentou balbuciar uma oração, um pedido de socorro, mas parecia estar em meio a uma labareda de fogo a consumir-lhe por inteiro, tais eram os recursos maléficos desfechados pelos agressores invisíveis. Lembrou-se da mãezinha a recitar o Pai Nosso e começou a dizê-lo, primeiro chorando, com a voz entrecortada pelos gemidos, depois quase aos gritos e aos poucos de forma sentida, enquanto a dor ia diminuindo, as labaredas e os ganchos se desintegrando, e a presença daquele homem com a aparência de um médico foi se aproximando e o colocou, como fosse uma pluma, acima do corpo adormecido, envolvendo-o em fluidos tranquilizantes para aprofundar o sono físico. A súcia infeliz debandava, sentindo a força que lhes retirava as condições de atuarem sobre o alvo escolhido.

Ramão olhava para Carlos sem entender. Via-se adormecido, mas o alojamento estava iluminado, embora não pudesse ver os demais membros da equipe de atendimento, experimentava bem-estar e recolhia daquele médico recomendações sobre as disposições de recuar diante da proposta infame de tirar a vida do seu inimigo. A voz de Carlos era bondosa e de tal doçura, parecendo transpassar-lhe a alma, acalmando as aflições, como estivesse sendo mergulhado em tépida fonte de águas a relaxarem as tensões e reacenderem esperanças quase extintas.



Referências:

[1] Kardec, Allan. O livro dos espíritos (Portuguese Edition) (p. 279). FEB Publisher. Edição do Kindle. pergunta 472.

[2] Allan Kardec. O evangelho segundo o espiritismo (Portuguese Edition) (p. 58). FEB Publisher. Edição do Kindle.

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