A coragem para ser bom - cap. 27
As rádios locais, os noticiários na televisão e nas plataformas digitais, o falatório na cidade puseram-na em polvorosa naquela manhã.
A polícia em operação comandada pelo Delegado Acádio Pompeu, estourou o cativeiro na fazenda de Sua Excelência, o Prefeito Municipal, onde era mantido prisioneiro o conhecido empresário do agronegócio da região Nivaldo Cerqueira. A polícia recebeu informações do sequestro na propriedade dos Cerqueira. A esposa, filha e demais empregados da fazenda ainda não foram localizados. O Delegado que comandou as ações informou que há algum tempo estavam monitorando as ações criminosas em que o Prefeito, supostamente, estaria envolvido. “Sua Excelência” foi preso preventivamente e encaminhado à Penitenciária de Segurança Máxima. Continuam as buscas pelos demais sequestrados.
A matéria repetida em todos os jornais surpreendia alguns e confirmava a suspeita de outros em relação ao envolvimento do Prefeito. Os vigias da fazenda de Nivaldo foram os primeiros a serem presos para não denunciarem a operação e quando souberam das demais ações foram revelando o que sabiam para salvar a própria pele.
Nivaldo estava muito ferido, fora torturado impiedosamente, diante das muitas negativas em atender aos pedidos dos facínoras, mesmo quando lhe mostraram o vídeo enviado pelos carcereiros de Fernanda, apontando a arma para ela e para a filha Nice, manteve-se digno, entregando a Deus a sua vida e a de seus afetos. Os exames realizados mostravam traumatismo craniano, causado pelas agressões sofridas. Chegou, no entanto, lúcido ao hospital e quando resgatado pediu a Acádio o maior empenho no resgate dos demais sequestrados, sua esposa, filha e empregados da fazenda. Logo após perdeu os sentidos e foi posto em observação na UTI, com indução de coma para acelerar a recuperação.
A equipe do benfeitor Carlos acompanhando os procedimentos médicos amparou-o no processo de emancipação da alma, adormecendo o próprio Espírito para refazimento antes das futuras lutas que o aguardavam.
A estrutura das organizações criminosas tem níveis de informação segmentados para inibir as traições e controlar o poder pelos seus chefes. Somente o chefe supremo sabia da localização do cativeiro dos demais e isso era o ponto nevrálgico da operação. Os bandidos que prendiam os demais sequestrados da Fazenda de Nivaldo eram também privados de qualquer comunicação exterior e nada sabiam dos eventos ocorridos, para impedir as defecções e possíveis informações a outros membros do bando e o aliciamento pela polícia. No entanto as ordens cessaram e os víveres para o local também não chegavam gerando apreensão e medo entre os bandidos.
A prisão de Nero que era o elo de ligação entre a quadrilha e as ações policiais deixou o bando com as comunicações internas destroçadas. O Prefeito mesmo da prisão tentava corromper integrantes do serviço penitenciário, porém com a atenção das corregedorias voltadas para o caso não houve quem se arriscasse a embolsar as grandes somas por ele oferecidas.
A comida começou a escassear e como era de se esperar os bandidos limitaram as porções dos sequestrados guardando o pouco que restava para si mesmos. Não se aventuravam a sair em busca de recursos, pois não sabiam o que estava acontecendo e sabiam ser punidos com a morte se qualquer erro fosse cometido. O chefe era impiedoso.
Nice estava debilitada, sem alimentação suficiente e as dores do parto começaram, enquanto Fernanda implorava para que socorressem a sua filha, sem êxito. Ao ver a impossibilidade de Nice ir a algum hospital, rogou aos homens que guardavam o fornecimento de alguns panos, bacia e uma tesoura e se dispôs a fazer o parto da filha com o auxílio da espiritualidade. Nice sofreu a noite toda com as contrações que se amiudavam e Fernanda temia que aquela gestação tão difícil não permitisse o parto normal colocando em severo risco mãe e filho.
Carlos e sua equipe estavam a postos e envolviam o aparelho genésico da parturiente com energias para ampliar a vitalidade do feto, de molde a resistir o difícil trabalho de expulsão do ventre, ao mesmo tempo em que enviava sugestões de procedimento e calma enquanto, ela foi percebendo a presença de Siá Tonha, a amiga dos invisíveis, alma da falange de Sepé, habituada ao atendimento aos vulneráveis, parteira, curadora daquelas almas desassistidas pelas ações humanas e em situações de penúria. Nos trabalhos mediúnicos, em desdobramento, Fernanda a acompanhava em muitas dessas ações, por isso quando percebeu a sua presença a aflição foi cedendo e ela preparou-se para receber o neto, com o melhor que dispunha – o seu amor incondicional.
Comments