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A solidariedade que nos une




Vinícius Lima Lousada[1]

 

Pois nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum morre para si mesmo. (Romanos 14:7)[2]

 

Nesta importante carta do Novo Testamento, o apóstolo Paulo procurou estabelecer orientações de convergência para aquela comunidade cristã incrustada na capital do Império Romano e que lidava com conflitos de ideias entre gentios e hebreus por conta dos paradigmas culturais aos quais eram apegados, quando a mensagem de Jesus, para sua compreensão e aplicação, demandava a libertação integral do homem velho.

Na maturidade de seus dias no corpo, Paulo adverte aos companheiros de ideal quanto à solidariedade na qual está imerso o ser desde a perspectiva da vida futura e da compreensão da estadia temporária da alma na carne.

Entre a transitoriedade da matéria e a imortalidade do ser somos todos interdependentes, vivemos em relações estabelecidas na convivência próxima ou mantidas através dos laços fluídicos que nos unem no concerto da Criação, mesmo à distância. Enfim, é como dizem os Espíritos a Kardec:

Tudo se encadeia na Natureza, por laços que ainda não podeis compreender. Assim, as coisas aparentemente mais absurdas têm pontos de contato que o homem jamais poderá compreender no seu estado atual. Poderá entrevê-los por um esforço da sua inteligência, mas somente quando essa inteligência estiver plenamente desenvolvida e liberta dos preconceitos do orgulho e da ignorância, é que poderá ver claramente na obra de Deus. Até lá, suas ideias limitadas lhe farão ver as coisas sob um prisma mesquinho e acanhado. Ficai certos de que Deus não pode contradizer-se e de que, na Natureza, tudo se harmoniza por meio de leis gerais que jamais se afastam da sublime sabedoria do Criador.”[3]

 

Todos os seres, pela sua natureza corpórea ou espiritual, estão interligados e, desse modo, tudo o que fazemos interfere no conjunto da vida, pois nossas ações, palavras e pensamentos reverberam no cosmos e nas diferentes faixas vibratórias da existência. É um processo sutil e complexo, ainda que possamos não ter consciência imediata disso, apesar do nível de desenvolvimento científico ao qual estamos alçados, que nos permite explorar os espaços e investigar os arcanos da estrutura atômica.

Para a compreensão de tamanha complexidade do fenômeno da solidariedade, comum à vida em todos os seus planos, os Benfeitores Espirituais advertem a Kardec que nos faltava capacidade, naquele momento, mas com o desenvolvimento de nossa inteligência e a libertação do orgulho e da ignorância das Leis Divinas, que cegam a razão, poderíamos perceber as nuances dessas conexões entre tudo e todos da qual, numa perspectiva mais ampla, decorre harmonia.

A vida não se encarcera em nossas concepções particulares e pela Lei do Progresso somos instados a tamanho desenvolvimento intelecto-moral que nos permitirá, gradativamente, ver, sentir e agir concebendo que “Tudo se liga na obra da criação (...)”[4], o que nos levará, gradativamente, à compreensão de uma solidariedade universal que está na Lei Natural, rumo a uma visão espiritual e ecológica integral.

É o que ensina Léon Denis em sua obra O grande enigma quando anota que:

Todos os seres estão ligados uns aos outros e se influenciam reciprocamente: o universo inteiro está submetido à lei da solidariedade. Os mundos nas profundezas do éter, os astros que, a milhares de léguas de distância, entrecruzam seus raios de prata, conhecem-se, chamam-se e respondem-se. Uma força, que denominamos atração, os reúne através dos abismos do espaço.[5] 

 

O Druida de Lorena ainda nos postula, no mesmo capítulo intitulado Solidariedade: comunhão universal, da referida obra, que as almas estão correlacionadas por múltiplas conexões e vivem sob uma solidariedade fundamentada na sua natureza e igualdade de aflições enfrentadas na jornada evolutiva, dada a identidade que há entre os destinos e sua finalidade existencial.

E, nesse sentido, apesar de a racionalidade moderna nos ter levado também a um apartamento artificial da natureza da qual fazemos parte, resultando em formas de exploração desatenta de seus recursos, causando a degradação sem precedentes que está na base da emergência climática que nos assola globalmente, somos instados a perceber a interdependência em que todos os seres nos movemos, inclusive considerando os conhecimentos científicos que a nossa espécie já foi capaz de desenvolver, identificando a ideia de rede como um padrão básico da vida, tecida em profunda complexidade. Isso nos conduzirá a uma compreensão sistêmica sobre o nosso lugar na teia da vida.

Francisco de Assis compreendia isso e via irmãos em todos os seres: dos homens e mulheres fragilizados na pobreza ou encastelados na riqueza, ao lobo feroz; das abelhas aos peixes; das árvores aos rios. Na visão do pobrezinho, tudo se irmanava na obra criada por Deus, de nosso Lar Planetário ao Cosmos, e nossas relações, porque naturalmente interdependentes, deviam ser regidas por um sentimento de fraternidade.

Portanto, saiamos da clausura mesquinha de nossos interesses particulares e abramo-nos à comunhão universal, descubramos as redes complexas nas quais transitamos e estabeleçamos relações de convívio pacífico e amoroso, aprendendo uns com os outros, amando-nos como irmãos que manifestam o seu bem-querer na solidariedade. A hora é propícia para isso, estejamos atentos!


Referências:

[1] Vice-presidente de Unificação da Fergs.

[2] AUTORES. Bíblia - Volume II: Novo testamento: apóstolos, epístolas e apocalipse. Frederico Lourenço. trad. Edição do Kindle. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, p. 256.

[3] Kardec, Allan. O livro dos espíritos. FEB Publisher. Edição do Kindle, questão 604.

[4] KARDEC, Allan. Introdução ao estudo dos fluidos espirituais. In: Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano nono - 1866. Evandro Noleto. trad. 2. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2007, p. 99.

[5] Denis, Léon. O grande enigma. FEB. Edição do Kindle, p. 29.

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