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Causa e Cessação de Sofrimento




Vinícius Lima Lousada[1]

“O homem é quase sempre o artífice da sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, ele pode poupar-se de muitos males e alcançar felicidade tão grande quanto o comporte a sua existência grosseira.”[2]


Existem sofrimentos que têm uma origem de natureza ética, esses poderiam ser evitados.

Eles resultam das escolhas que fazemos com base na compreensão que temos sobre o certo e o errado, construída e refinada ao longo do processo evolutivo galgado pelo Espírito imortal.

Ao passo que evoluímos, aprimoramos o nosso discernimento e fazemos escolhas melhores; por consequência, aliviamos a carga de sofrimentos evitáveis que recairiam em nosso próprio roteiro existencial.

O potencial do livre-arbítrio avança com o desenvolvimento intelecto-moral do Espírito.

Quanto mais evoluído o ser, melhor entendimento tem das Leis de Deus e maior é o seu discernimento ético. Quanto mais eticamente vivemos, mais livres nos tornamos.

Foi aprendendo a escolher, experimentando a capacidade de deliberar que se tornou possível ao Espírito adquirir uma certa percepção de si e da vida, o que lhe facultou diferenciar e fazer escolhas entre o bem e o mal.

A ausência de valores éticos consoantes aos estatutos divinos é o que tem gerado uma fonte imensa de lágrimas que acompanham os passos lentos e claudicantes do ser humano no rumo da ascensão espiritual.

Fazendo o mal enredamo-nos nele e tornamo-nos maus. Não esqueçamos que este é um estado transitório de nossa natureza moral. Somos vocacionados ao bem e fatalmente destinados à plenitude.

O resultado das opções antiéticas que tomamos, desconsiderando a felicidade dos outros e a nossa, fazem-se sentir no instante em que nasce na mente a atitude a ser tomada, passando a se constituir, desde então, num elemento gerador de dor para nós mesmos.

Recolhemos conteúdos espalhados ao longo de nosso milenar trânsito evolutivo, e, no campo das provas que nos cabe vivenciar tendo em vista a aquisição de conhecimento e experiência, lidamos também com expiações que funcionam como justa correção.

Ao experimentarmos com resignação ativa essas austeras lições que são as expiações, resgatamos os equívocos de outrora e colocamos a consciência em alinhamento com os ditames da Consciência Divina.

É óbvio que existem sofrimentos que são inevitáveis, tratam-se daqueles oriundos das vicissitudes da vida: o envelhecimento, a morte, os indesejáveis desastres naturais ou acidentes gerados por imprudências de terceiros.

Entretanto, há uma leva de sofrimentos que nos surgem como reação às ações antiéticas que realizamos.

E no que se refere às suas causas, recordo-me de uma interessante reflexão do Prof. Hermógenes[3] que propõe uma sequência de causação da dor.

Segundo ele, a ignorância seria a sua causa principal. Quando ignoramos a nossa verdadeira natureza espiritual, não cogitamos das questões mais profundas do ser e desconhecemos a Lei Suprema.

Erramos porque agimos orientados pelo egoísmo, porquanto somos ignorantes ao que se refere às diretrizes da Lei Natural.

Sendo o egoísmo um estado da mente e do coração que denota um profundo enraizamento numa percepção da realidade autocentrada, efetivamos pensamentos, falas e atitudes de discriminação por tudo ou todos que nos desagradam.

Por outro lado, passamos a endeusar tudo e todos que nos agradam os desejos, mesmo que sejam coisas, prazeres e pessoas que nos nutram às imperfeições da alma.

Nessa miséria moral, constituída a serviço do ego, apegamo-nos ao que é transitório temendo que as coisas passem e que a morte chegue.

O medo da morte representa o medo da aniquilação do ego que domina o Espírito sabedor de que, na vida espiritual, a máscara, a satisfação dos sentidos, as posses e o status quo, ou seja, as ilusões se desvanecem.

Como meio de libertação desse complexo de causação do sofrimento, considerando-se que no seu âmago está a falta de ética, encontramos a alternativa de uma vivência ética.

Todavia, essa ética não se trata de um roteiro de mera etiqueta social, mas de um código de conduta que visa o bem.

Poderíamos entender a palavra ética numa perspectiva profunda como a elaborada por Albert Schweitzer que a compreendeu como uma responsabilidade ilimitada em relação a tudo que possui vida.

Nesse caso, boa é toda a atitude a favor da vida; má é toda atitude que desvaloriza a vida, ou seja, que destrói ou impede a manifestação multiforme dela.

Essa ética, que transcende as convenções culturais, somente pode ser apreendida do mesmo modo que se estuda as questões mais profundas da existência, cabendo ao indivíduo, como já propôs Léon Denis, “perscrutar-se a si próprio, escutar essa voz interior que fala a todos e que sofismas não podem deturpar: a voz da razão, a voz da consciência.”[4]



Referências: [1] Diretor da Área de Formação de Lideranças Espíritas - FERGS. [2] O Livro dos Espíritos, questão 921 [3] ANDRADE, José Hermógenes de. Setas no caminho de volta: sugestões para o filho pródigo. Rio de Janeiro: Nova Era, 2000, p. 173. [4] DENIS, Léon. O porquê da vida. 22. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006, p. 16.

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