Convites ao Bem e os Desafios Contemporâneos
- fergs
- 9 de abr.
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Algumas reflexões, a partir da fala de Álvaro Chrispino em 22 de fevereiro, 2025. Tendo como base seu livro “No Serviço do Bem - Convite, Caminho e Chegada”.
Eline Cota – Multiplicadora AEE
Palavras-chave do texto: Convite ao bem; Desafios espirituais; Espiritismo; Mediunidade; Allan Kardec.
"Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.” — PAULO (1co 12:4)(1)
A palestra de Álvaro Chrispino ressoa com a alegria de pertencermos a um grupo em ação há 104 anos: a Fergs. Em seu mais recente livro, No Serviço do Bem – Convite, Caminho e Chegada, publicado pela Fergs, ele propõe o Serviço do Bem como um caminho para superar obstáculos ao longo da jornada existencial. No contexto atual, suas reflexões tornam-se um convite valioso para a evolução interna e social.
Desde sua criação pela Federação Espírita Brasileira - FEB em 2013, a ÁREA DE ESTUDO DO ESPIRITISMO - AEE, tem como premissa, atender a uma demanda do movimento Espírita Nacional, contemplando as diversas realidades e peculiaridades das casas espíritas. Assim, ao ouvir nosso irmão, em 22 de fevereiro de 2025, reforçamos o compromisso de atender ao chamado de Allan Kardec, sinalizado no Livro dos Espíritos:
Questão 642. Será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?
Respondem os Espíritos: — Não; é preciso fazer o bem no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer. (1)
Há mais de um século, na Fergs, Espíritos devotados dão corpo a ação Divina. Convites aceitos a serviço do bem.
O convite ao bem está presente em diversas passagens do Espiritismo, nos impulsionando à caridade e ao progresso moral
Diante dessa premissa, iniciamos esta modesta reflexão.
1. O convite
É preciso desmistificar a ideia de que os convites ao exercício do bem e nossa jornada evolutiva, estão isolados, sendo apresentados sem conexão ao trabalhador espírita. O espírita comprometido entende que, ao surgir um convite dessa ordem pela força de Jesus, já havia anteriormente um movimento próprio;
Enquanto Espíritos imortais, nos comprometemos com a semeadura e colheitas nesse caminho que é de amor, e não de débitos sacrificiais. Para isso, lembramos João, o evangelista:
“Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. 1João, 4:8(2)
A ideia aqui então, é nos conectarmos com nossas consciências ao próprio Deus, sem as amarras da culpa, do pecado ou do castigo.
Tudo, absolutamente tudo, é demonstração do amor do Pai. Reencarnamos para amar no sentido ágape, não para pagar ou expiar...
Diferentemente da época de Kardec, hoje não somos Espíritos esperando conversas e manifestações espirituais incomuns e fenômenos dignos de palcos teatrais. Atualmente, basta olhar e se permitir “sentir” as oportunidades que se apresentam. Oportunidades que sinalizam, que também somos cocriadores para o exercício do bem e da caridade. Desde nosso planejamento reencarnatório. Alguns, nessa jornada terrena, poderiam ser chamados Espíritos marcados.
Na Revista Espírita de fevereiro de 1868, encontramos uma classificação interessante distinguindo os Espíritos que estavam à frente da obra regeneradora do Cristo. Em especial, a segunda classificação, chamada “Espíritos marcados”, nos interessa pontualmente nessa reflexão:
2.º ─ Os Espíritos marcados, isto é, designados para uma importante missão. Eles têm a radiação luminosa que é o signo característico de sua superioridade. São escolhidos entre os Espíritos capazes de cumpri-las; entretanto, como têm livre-arbítrio, podem falir por falta de coragem, de perseverança ou de fé, e não estão ao abrigo dos acidentes que podem abreviar os seus dias, mas como os desígnios de Deus não estão à mercê de um homem, o que um não faz, outro é chamado a fazer. Eis por que há muitos chamados e poucos escolhidos. Feliz aquele que realiza sua missão segundo as vistas de Deus e sem desfalecimentos!
Revista Espírita 1868 » Fevereiro » Instruções dos Espíritos » Os Espíritos marcados (3)
Quando Álvaro relata as experiências vividas por médiuns, na grande obra de estruturação dos pilares da Doutrina Espírita no mundo e no Brasil, pensamos nessa categoria dos “espíritos marcados”.
No entanto, as experiências atuais nos sinalizam outros tipos de convites, mais sutis e não menos importantes.
Um convite não precisa ser marcado por fenômenos mediúnicos, como foram para o Sr. César Lombroso, Bezerra de Menezes, Joaquim Travassos, Ivone do Amaral e tantos outros. Apenas como uma das tantas referências citadas, o italiano César Lombroso, professor universitário e criminologista cético, após insistência de um amigo, se permite participar da sessão mediúnica que mudaria o curso da sua vida terrena.
“Sob a ectoplasmia desprendida por Eusápia, Lombroso, sempre vigilante, obteve revelações maravilhosas. Aludidas revelações venceram a desconfiança científicade Lombroso e não deixaram também de iluminar a sua Consciência Moral. Em uma determinada sessão, robusteceu-se, ainda mais, a plena convicção de Lombroso, ante a materialização do Espírito de sua mãe. Eusápia prometeu uma surpresa a ele e esta concretizou-se através da materialização do Espírito de sua própria mãe. Sim, meus amigos, o Espírito da mãe de Lombroso materializou-se e aproximando do seu filho lhe disse: “Cesare, fio mio” e depois retirando, por um momento, o véu que lhe cobria a face, deu-lhe um beijo”.
Jornal Verdade e Luz Nº 186 de Julho de 2001(4)
O relato acima traz, sem dúvida, um exemplo de convite singular. Provavelmente porque se tratava de uma ferramenta especial, na obra da disseminação da doutrina Espírita.
Cada trabalhador espírita, encarnado ou desencarnado, recebeu e continua recebendo convites à semeadura do Mestre Jesus.
No Espiritismo, encontramos diretrizes para o desenvolvimento moral e a prática da caridade.
Um convite pode ser entendido como a benção de uma prece atendida quando sinalizamos: “Fazei de mim um instrumento” parafraseando Santo Agostinho.
Basta lembrarmos que reencarnamos para amar, mais e melhor. E assim, termos prontidão para entender e aceitar os convites, muitas vezes enviados até nós, com a delicadeza própria da espiritualidade.
2. Desafios contemporâneos
“São chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para regeneração da Humanidade.
Em que sentido se devem entender essas palavras proféticas? Para os incrédulos, nenhuma importância tem; aos seus olhos, nada mais exprimem que uma crença pueril, sem fundamento.
Para a maioria dos crentes, elas apresentam qualquer coisa de místico e de sobrenatural, parecendo-lhes prenunciadoras da subversão das leis da Natureza. São igualmente errôneas ambas essas interpretações; a primeira, porque envolve uma negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da Natureza, mas o cumprimento dessas leis”.
KARDEC, Allan. A gênese. (5)
Segundo Allan Kardec, a evolução do Espírito se dá pelo livre-arbítrio e pelas escolhas alinhadas ao bem. Em tempos de transição essa premissa é fundamental.
No mundo atual não podemos nos esquecer de que com bilhões de encarnados, somos o resultado de uma vibração coletiva. Cada prática social, cada pensamento e ação, refletem a Lei Natural do macro para o micro em nossas consciências.
Para além do progresso e facilidades que a globalização oferece, um dado importante deve ser analisado. Apenas 16% das informações hoje são buscadas em livros, quando 40% destas, são buscadas na rede virtual, segundo o Relatório Analítico da Pesquisa Percepção Pública da C&T no Brasil – edição 2019. As redes sociais têm sido a maior fonte de informação das buscas pelos brasileiros. (6)
Cabe aqui uma provocação: Nessa proporção, será que estamos atentos aos critérios de seleção e fidelidade para com a verdade e o bem? Em tempos de mídias sociais e autoestima mensurada pelo número de likes recebidos, em quais fontes estamos bebendo?
Os desafios espirituais da contemporaneidade incluem a necessidade de discernimento diante das influências externas
A provocação sinaliza que o convite é feito na forma que cada um precisa!
O benfeitor espiritual Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo/ MG, na casa do Doutor Rômulo Joviano, na fazenda Modelo, em 08/julho/1941 (7), nos traz algumas considerações a respeito de Paulo de Tarso: “Muitos dizem que Paulo recebeu apelo direto, mas, na verdade, todos nós recebemos uma convocação pessoal ao serviço do Cristo; as formas podem variar, mas a essência ao apelo é sempre a mesma. O convite ao ministério chega às vezes de maneira sutil, inesperadamente, a maioria, porém, resiste ao chamado generoso do Senhor.
Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. — Paulo 1 Coríntios 6:12 (2)
O apóstolo Paulo nos lembra da liberdade que temos em Cristo, onde muitas coisas nos são permitidas. No entanto, essa liberdade vem com a responsabilidade de discernir o que nos edifica como espíritas e nos aproxima de Deus.
Nem todas as nossas escolhas são benéficas para nossa vida espiritual, mental e física. O trecho acima nos convida a refletir sobre nossas escolhas.
De acordo com estimativas de órgãos demográficos internacionais, a população mundial atual (em junho de 2024) é de, aproximadamente, 8,11 bilhões de pessoas. Nós somos o resultado do que esses mais de oito bilhões de Espíritos encarnados fazem e vibram, social e politicamente. Diante da globalização que nos traz inúmeras vantagens espelhadas pela Lei do Progresso, podemos também nos iludir diante do que nos satisfaz verdadeiramente. As escolhas acertadas de crescimento em fé e amor, determinam nossas ações alinhadas com vontade de Deus.
Evitar o que nos afasta dos propósitos Divinos, é saber filtrar para utilizar adequadamente, o que as redes sociais, informativas e midiáticas nos oferecem.
Nesse cenário, as interpretações que damos ao que o mundo nos oferece, faz sintonia com o plano espiritual. Os convites a ação no bem ou no propósito Divino, nos chegam de diferentes formas. Nem sempre nossa interpretação é coerente com esse propósito. Com maior frequência, nos permitimos recusar ou aceitar determinados convites, sendo direcionados pelo nosso próprio egoísmo e necessidade de validação do egolatrismo.
Num espectro de múltiplos talentos e diversidades estamos inseridos para e em evolução. Então, a nossa ação no mundo, na família, na casa espírita, mesmo que venha por uma identificação a um coletivo de afinidades, requer conhecimento e evangelização constantes para que façamos escolhas adequadas.
Considerar o diferente, as diferenças e discernir entre a importância do Ser e do Ter. Essa é a tarefa atual.
Quando alguém desenvolve categorias de grupos de pessoas, não há dúvidas que ele deseja destacar as diferenças entre elas. No caso do movimento espírita, uma das primeiras tipologias que lemos está no capítulo Do Método em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.
Um tipo de análise que Kardec propôs são os espíritas imperfeitos.
“Estes estenderam seus estudos à esfera da filosofia espírita e da ética espírita. Eles sabem que os fenômenos são um dos pilares de uma nova visão de mundo, que tem uma proposta para os homens. Sabem que o estudo da vida após a morte não é mero diletantismo, mas desvela uma nova forma de ver as pessoas, seus relacionamentos, a forma de lidar com seus sentimentos, e entende a necessidade de se ter uma ação e uma vivência interior coerente com esta nova realidade. No entanto, deixam para lá. Vivem suas vidas como se nada disso fosse real. Em linguagem cristã, são homens e mulheres do mundo, dos valores encontrados e aceitos na trama social em que se encontram. Não se acham convencidos realmente da necessidade de transformarem-se. Hoje em dia eles se contam aos milhões, em meio aos que se autointitulam espíritas ou apenas simpatizantes”.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. (8)
Os desafios da tolerância e do respeito no Espiritismo inclui o autoamor: O autoconhecimento é fundamental para este caminho de transformação íntima! O “conhece-te a ti mesmo” é comportamento obrigatório para quem pretende superar-se. Precisamos entender que cada Espírito é único e tem suas próprias experiências e atavismos. Não existem verdades absolutas. Importante lembrar, que o Espiritismo nos ensina sobre o amor ao próximo. E isso inclui respeitar as diferenças e conviver pacificamente com todos, independentemente de suas crenças, valores ou equívocos.
Servidora de Jesus, Joanna de Ângelis, tornou-se conhecida pela grande capacidade de ensinar, através de uma didática ímpar, dedicação exemplar e exemplo de amor para com Jesus, inspirando-nos a todos. Em toda sua obra psicológica de 16 volumes, pelas mãos do médium Divaldo Pereira Franco, ela sinaliza lições para conquistas morais que, estudadas, nos iluminam trajetórias para uma evolução tangível a caminho da perfectibilidade. Aprofundando os conhecimentos sobre a psique, associada à imensidão de nossa amada Doutrina Espírita, lançou luz nas trevas da ignorância das criaturas humanas.
Finalizo estas ponderações com as 12 constatações evolutivas citadas por Joanna de Angelis. Agradecendo o nosso encontro em 22 de fevereiro de 2025, quando aceitamos o convite da Fergs para celebrarmos o seu 104º aniversário deleitando nas mensagens do Seminário proferido “No Serviço do Bem: Convite, Caminho e Chegada”.
12 constatações evolutivas por Joanna de Ângelis:
1 - O outro não existe para te agradar ou para te desagradar. O outro existe para te ensinar.
2 - Ninguém é culpado pelo que você está sentindo. É você que opta pelos sentimentos que tens neste exato momento. Só você.
3 - A arte de viver sem expectativas, e sim com perspectiva é a chave para não se frustrar.
4 - Cure em você o vício da necessidade de aprovação do outro. Só assim você poderá desfrutar da ousadia e da confiança natural em seu Espírito, na sua essência.
5 - Você não tem controle de nada, por mais que acredita e que tenha. Lembre-se, daqui a pouco a Terra irá reivindicar o seu corpo e deixarás esse planeta para ingressar numa nova fase de existência. Abra mão do controle, só assim terá domínio sobre si mesmo e sobre sua vida. Controle é um reflexo do medo, já o domínio é um reflexo do estado de ausência absoluta de tensão interna e de seu encontro com a paz.
6 - Não se deforme ou se descaracterize para tentar se “caber” no espaço apertado do pensamento que o outro tem em relação a você. Isso não vai dar certo. Quando você se deforma para agradar alguém, sua luz se apaga e é apenas você, quem fica no escuro se sentindo perdido.
7 - Não acredite no que os outros dizem para você, por mais romântico e poético que possa ser. O que importa são as atitudes e não as palavras.
8 - Abandone o orgulho e o delírio de acreditar que tudo vai ser como você quer, deseja ou necessita.
9 - Tudo é passageiro. De perto a vida é uma tragédia, de longe é uma comédia. Daqui algum tempo você vai rir de todos os dramas que criou. Pois tudo passa. Tudo.
10 - Você é responsável por tudo que está acontecendo em sua vida. Seus pensamentos e sentimentos predominantes irão formatar a sua realidade, quer você queira, quer não. Portanto, se quiser mudar a sua realidade, mude seus pensamentos e sentimentos.
11 - Carência emocional não é a necessidade de receber, e sim de se dar. Só você poderá suprir suas necessidades emocionais. Projetá-las em alguém é o mesmo que pedir para que alguém se alimente para saciar a sua fome.
12 - Viva com simplicidade e com mais realidade. Só assim, quem você realmente é, vai surgir de verdade. Ria mais e não leve tudo tão a sério. Afinal de contas, a essência da vida é se descobrir e desfrutar dessa maravilhosa aventura chamada evolução.
Franco, Divaldo Pereira. Vigilância. (9)
Canoas, 08 de março, 2025.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 642. Disponível em: https://www.febnet.org.br. Acesso em: 8 mar. 2025.
BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. 1 João 4:8 e 1 Coríntios 6:12.
REVISTA ESPÍRITA. Os Espíritos Marcados. Revista Espírita, fev. 1868. Disponível em: https://www.febnet.org.br. Acesso em: 8 mar. 2025.
JORNAL VERDADE E LUZ. Materialização do Espírito da mãe de Cesare Lombroso. Jornal Verdade e Luz, n. 186, jul. 2001.
KARDEC, Allan. A Gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed., 2. imp. Brasília, DF: FEB, 2019.
RELATÓRIO ANALÍTICO DA PESQUISA PERCEPÇÃO PÚBLICA DA C&T NO BRASIL – edição 2019. Disponível em: https://www.mctic.gov.br. Acesso em: 8 mar. 2025
XAVIER, Francisco Cândido. Mensagem de Emmanuel sobre Paulo de Tarso. Psicografia em Pedro Leopoldo/MG, 8 jul. 1941.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Parte 1, Capítulo 3 – Método. Tradução de José Herculano Pires. Disponível em: https://www.febnet.org.br. Acesso em: 8 mar. 2025.
FRANCO, Divaldo Pereira. Vigilância. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 1. ed. Salvador, BA: LEAL, 1987.
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