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Descoberta inclusiva pessoal e interpessoal




Sonia Hoffmann

 

Os encargos da educação são de transmitir conhecimentos sobre a diversidade da espécie humana e levar as pessoas a tomar consciência sobre as semelhanças e a interdependência entre todos os seres humanos. Seja a educação dada pela família, comunidade ou pelas instituições competentes, o primordial é colaborar e oportunizar para alguém descobrir-se a si mesmo - suas competências, habilidades e (in)vulnerabilidades. A partir desta descoberta, a pessoa poderá verdadeiramente desenvolver a atitude empática, que significa pôr-se no lugar dos outros e compreender as suas reações.

 Esta tarefa inicial de autodescobrimento relaciona-se à aprendizagem do autoconhecimento e desenvolvimento total da pessoa em um processo de busca interior, sendo preparado e preparando-se para identificar sentimentos, elaborar pensamentos autônomos e críticos, formular os seus próprios juízos de valor e decidir como agir e qual atitude adotar nas diferentes circunstâncias da vida. Para tal conquista, fundamental é uma visão espiritual da existência física, porque se assim não acontecer, como refere Joanna de Ângelis (2013), provavelmente "a própria vida permaneceria sem sentido ou significado [...] A necessidade, portanto, do autodescobrimento, em uma panorâmica racional, torna-se inadiável, a fim de favorecer a recuperação, quando em estado de desarmonia, ou o crescimento, se portador de valores intrínsecos latentes. Enquanto não se conscientize das próprias possibilidades, o indivíduo aturde-se em conflitos de natureza destrutiva, ou foge espetacularmente para estados depressivos, mergulhando em psicoses de vária ordem, que o dominam e inviabilizam a sua evolução, pelo menos momentaneamente. A experiência do autodescobrimento faculta-lhe identificar os limites e as dependências, as aspirações verdadeiras e as falsas, os embustes do ego e as imposturas da ilusão" (p.7-9).

Quem ignora e mantém seu mundo interior desconhecido tem a tendência a não se aventurar para descobertas e estabelecer relacionamentos consistentes, estáveis e inclusivos, com uma probabilidade muito forte de encontrar dificuldades inexistentes ou difíceis de ultrapassar. Esta busca interior não apenas amadurece o ser, mas também fortalece para vivenciar e envolver-se com segurança em relações sociais. Como assinala Jaume Soler e María Conangla (2011): "todos vão elaborando uma cartografia emocional na qual registram seus medos, suas zonas de perigo, os restos de seus naufrágios e perdas. É muito importante descobrir onde desenhamos dragões em nosso mapa, pois esses limites podem ser os territórios mais importantes a explorar. São precisamente os dragões que indicam nossas possíveis áreas de melhora e crescimento. Zonas de segurança e comodidade ou zonas de risco e incerteza. São estas últimas que nos impelem a crescer. Os sentimentos em mau estado ou não elaborados podem contaminar aquilo que está perto. Seu uso indiscriminado, em doses inadequadas e sem precauções, pode causar efeitos bastante nocivos. Muitos estados emocionais são contagiados e contaminam nossas relações com as pessoas próximas: o mau humor, a irritação, o desânimo, a abulia, a desesperança, a ansiedade ou o medo... Há sentimentos de alto risco contaminante, como o rancor, o ressentimento e o ódio. Nossos sistemas emocionais estão abertos e em permanente comunicação com o ambiente. É preciso administrar algumas emoções com prudência, pois elas podem ser perigosas para nosso meio ambiente psicoecoafetivo em caso de uso inadequado. Somos responsáveis por autogerir nossos dejetos emocionais e assim colaborar para a preservação de nosso clima emocional global, mantendo-o limpo e harmônico" (p.38).

Todo este conjunto de despertamento e fortalecimento do ser interior é possível a partir de vivências sadias, que podem ser encontradas desde a contação de histórias apropriadas, leituras e estudos adequados à condição etária, psíquica e cognitiva da pessoa e incentivo ao posicionamento e tomada de decisão frente a experiências, dinâmicas ou desafios controlados. Para estas atividades serem produtivas, necessária a adoção de metodologias e estratégias eficientes, contextualizadas e factíveis pelas pessoas responsáveis à condução de determinada atividade.

Habilitada a reconhecer-se, a pessoa se identifica e passa ao reconhecimento da outra pessoa com mais propriedade. Neste sentido, facilitadores e dinamizadores precisam, ao máximo, potencializar os métodos de interação, sem colocar em risco a curiosidade ou o espírito crítico e dialógico, abafando ou enfraquecendo estas habilidades porque, se sufocarem ou engessarem estes (re)conhecimentos, em vez de auxiliarem para desenvolver uma sociedade mais includente, com tal atitude arriscam-se a fragilizar por toda a vida nas pessoas que buscam a aquisição de (in)formações a capacidade de abertura à alteridade e de enfrentamento das inevitáveis tensões interpessoais.

Rodas de conversa, diálogo e troca de argumentos são estratégias úteis e indispensáveis. O trabalho em conjunto e a apresentação de ações motivadoras incentivam a identificação com o outro, reduzindo em diversas situações (ou até eliminando) alguns conflitos interindividuais, constituindo-se novas maneiras de valorização de habilidades e aptidões diferentes, consolidando-se, assim, o ensinamento contido na questão 804 de O Livro dos Espíritos (Kardec, 2013): o que um não sabe, sabe o outro e assim a sociedade vai se fortalecendo e evoluindo.

 

Referências

ÂNGELIS, Joanna de (Espírito). Autodescobrimento: uma busca interior. Psicografia de Divaldo P. Franco. 17. ed. Salvador: LEAL, 2013. p.7-9. Série Psicológica Joanna de Ângelis, v. 6.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Brasília, DF: FEB, 2013.

SOLER, Jaume; CONANGLA, María Mercé. Ecologia emocional. Rio de Janeiro: Best Seller, 2011.

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