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Efeitos inclusivos através da expressão artística




Sonia Hoffmann

 

Todos, ao longo da vida, manifestamos nossos valores, sentimentos e crenças através de atividades lúdicas ou jogos simbólicos, elaborando uma cena teatral com bonecos ou familiares, desenhamos (grosseira ou detalhadamente) objetos, animais e pessoas, cantamos afinadamente ou não músicas, dançamos livremente ou com coreografia elaborada. Ou seja, todos, de alguma maneira, nos expressamos pelo trabalho artístico, provando, com isto, que a arte está em nossa essência humana. Algumas vezes, buscamos como fontes de inspiração elementos da natureza, nas relações cotidianas, ou em nossa intimidade.

A arte representa valioso recurso inclusivo, pois a partir dela alguém desenvolve sua socialização, estabelece conexões e vínculos que podem perdurar, amplia suas habilidades e valores intelectuais, morais e culturais os quais, naturalmente, são transpostos para suas interações nos mais variados ambientes.

O trabalho artístico, sendo forma de expressão, estimula o desenvolvimento de aptidões e a criatividade que, por sua vez, pode exercer influência diretamente na qualidade e dinâmica de vida da pessoa com deficiência/diferença. Consequentemente, percebe-se grandioso avanço e repercussão na sua habilidade comunicativa, capacidade de decisão, desenvolvimento da motricidade, melhoria postural, de sincronização e mudanças atitudinais. Seus sentimentos e pensamentos podem ser burilados e novos sentidos existenciais são adquiridos.

A arte, por si só, também funciona como canal comunicativo: alguém, por exemplo, com necessidades severas e complexas de comunicação oral pode aprender a pintar ou tocar um instrumento com determinado ritmo e intensidade, previamente combinado, para transmitir informações ou demonstrar suas necessidades, estado de espírito e até algum pedido, fortalecendo com isto o intercâmbio com as demais pessoas.

O efeito no desenvolvimento de habilidades manuais trazido pela arte deve ser considerado e aproveitado. Uma pessoa, por exemplo, que apresenta dificuldade em manusear objetos devido redução na amplitude articular, de força ou de orientação nos movimentos das mãos, através da experimentação e exercício da colagem, pintura ou tocar algum instrumento começa a sentir-se, provavelmente, mais consciente de suas capacidades motoras e ajusta-se para realização de atividades da vida diária.

Nem sempre estratégias de acessibilidades são necessárias ou devem ser introduzidas, pois tudo depende da modalidade artística escolhida, da complexidade e da intensidade da deficiência/diferença. Talvez simples combinações sejam suficientes, tais como alguém participando em corais ou bandas musicais. No entanto, algumas condições precisam ser consideradas como: quando a pessoa não conseguir manusear ou tem dificuldade na preensão de um pincel, lápis ou baqueta, torna-se importante a aplicação de engrossadores; em apresentações (canto, poesia, teatro...) sinalizadores táteis no solo contribuem para a localização e o bom posicionamento da pessoa com deficiência visual (cega ou com baixa visão) a colocação de materiais para escultura podem ser colocadas em caixas marcadas com letras ampliadas e contrastadas, pelo Sistema Braille ou em cores diferentes para a pessoa encontrar com mais facilidade e desenvolver sua autonomia e independência. Pisos que facilitem a percepção de vibrações colaboram para pessoas surdas acompanharem o ritmo (em apresentações musicais) ou a aproximação de pessoas (apresentações teatrais). Materiais com diferentes texturas, dimensões e aromas atuam como recursos significativos para pessoas cegas produzirem seu trabalho artístico pela colagem. Tiras de posicionamento (com fita aderente) auxiliam aquelas pessoas com dificuldade para manterem o equilíbrio de algum instrumento ou para sua exploração e orientação no uso do instrumento (como flauta, por exemplo) Fones de ouvido ou abafadores de som podem ser bastante úteis para quem apresente sensibilidade a sons altos, embora aprecie a música. Para instrumentos de percussão, luvas podem ser indicadas quando a pessoa apresenta sensibilidade tátil.

O canto e a poesia, com o exercício continuado, colaboram para alguém com dificuldade ou falta de clareza na dicção. Então, é bastante útil não negligenciar ou impedir que estas pessoas se expressem dentro das suas possibilidades, pois, aos poucos, mudanças valiosas podem surgir. Contudo, será sempre importante evitar o acontecimento de exposições desnecessárias ou constrangedoras para a própria pessoa.

Fundamental é o entendimento de não impedir ou sufocar a tentativa, as aptidões e potencialidades de alguém, em todas as suas idades e com ou sem deficiências/diferenças, mas canalizá-las e adequá-las de modo que a pessoa sinta satisfação em expressar-se artisticamente. Então, a instituição espírita tem uma grande responsabilidade em oportunizar e disponibilizar condições adequadas para todos, propiciando um ambiente de aprendizagem e expressividade pelas mais diferentes formas de arte, como a música, o teatro, a poesia, a dança.

Além das pessoas serem beneficiadas evolutivamente, haverá desta maneira a difusão de abordagens inclusivas tão indispensáveis em um tempo de transição planetária para um mundo de regeneração. Importante, igualmente, recordar que, como Léon Denis (2014, p.28) aponta: "A arte é de essência divina, é uma manifestação do pensamento de Deus, uma radiação do cérebro e do coração de Deus transmitida sob a forma artística. No entanto, muitas coisas do plano divino não podem ser transmitidas aos homens. A arte, sob forma de inspiração, faz parte desse todo maravilhoso que compõe o Universo. É o relâmpago, ou antes, é a centelha que estabelece a relação entre Deus e suas criaturas.”

Assim, como recurso includente e como modo de manifestação, imprescindível cada vez mais pensarmos na impulsão da arte como mais uma das importantes atividades no movimento espírita.

 

Referências

 

DENIS, Léon. O Espiritismo na arte. 2. ed. Rio de Janeiro: CELD Ed., 2014.

NUNES, Maria José. Arte como meio de socialização e inclusão do indivíduo. Jacarezinho, 2014. Acesso em 19 jan. 2025. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_uenp_edespecial_artigo_maria_jose_nunes.pdf

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