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Etarismo e adolescência - Necessidade de abordagem inclusiva




Sonia Hoffmann

 

Etarismo está definido como a discriminação feita pela idade de alguém. Muitos, geralmente, consideram que o etarismo esteja relacionado somente aos preconceitos direcionados à pessoa idosa. Entretanto, adolescentes e adultos jovens também podem sofrer discriminações nos mais variados espaços da sociedade, impactando negativamente e mesmo deteriorando, muitas vezes, a saúde (mental e psíquica), o desempenho cognitivo e a qualidade de vida presente e futura porque a eles são atribuídas, falsa ou pretensamente, plena irresponsabilidade, imaturidade e falta de condição para enfrentamento de experiências, desafios e obstáculos.

 Joanna de Ângelis (1977), no livro Adolescência e vida, aponta:

"Na quadra primaveril da adolescência tudo parece fácil, exatamente pela falta de vivência da realidade humana. O adolescente examina o mundo através das lentes límpidas do entusiasmo, quando se encontra em júbilo, ou mediante as pesadas manchas do pessimismo que no momento lhe dominam as paisagens emocionais. A realidade, no entanto, difere de uma como de outra percepção, sem os altos voos do encantamento nem os abismos profundos do existencialismo negativo. A vida é um conjunto de possibilidades que se apresentam para ser experimentadas, facultando o crescimento intelecto-moral dos seres. A forma como cada pessoa se utiliza desses recursos redunda no êxito ou no desar, não sendo a mesma responsável pela glória ou pelo insucesso daqueles que a buscam e nela se encontram envolvidos. Para o jovem sonhador, que tudo vê róseo, há muitos caminhos a percorrer, que exigem esforço, bom direcionamento de opção e sacrifício. Toda ascensão impõe inevitável cota de dedicação, como é natural, até que a conquista dos altiplanos delineie novos horizontes ainda mais amplos e fascinantes. Assim, as possibilidades do adolescente estão no investimento que ele aplica para a conquista do que traça como objetivo. Nesse período, tem-se pressa, porque todas as manifestações são rápidas e os acontecimentos obedecem a um organograma que não pode ser antecipado, esperando que se consumem os mecanismos propiciatórios à sua realização. Ansioso pelos voos que pretende desferir, pensa que as suas aspirações podem ser transformadas em realidade de um para outro momento, e, quando isso não ocorre, deixa-se abater por graves frustrações e desânimo. No entanto, através desse vaivém de alegria e desencanto passa a entender que os fenômenos existenciais independem das suas imposições, provindo de muitos fatores que se conjugam para oferecer resultado correspondente. Nessa sucessão de contrários, amadurece-lhe a capacidade de compreensão e aprimora-se a faculdade de planejar, auxiliando-o a colocar os pés no chão sem a perda do otimismo, que é fator decisivo para o prosseguimento das aspirações e da sua execução contínua. Face à constituição da vida, não basta anelar e querer, mas produzir e perseverar".


No entanto, como ele pode produzir e perseverar se o adulto desacredita das suas possibilidades, no seu empenho para aquisições de novas habilidades, não investindo e oportunizando situações que o auxiliem no processo de despertar e consolidar o seu discernimento, as suas capacidades intelectuais e morais?

Apesar de adultos jovens já estarem despontando no cenário do Movimento Espírita, infelizmente, esta conduta de descrédito contraditoriamente ainda acontece com frequência na maioria das instituições espíritas: muitos dirigentes constatam e falam do envelhecimento dos trabalhadores, dificultando a ampliação e até mesmo a continuidade de atividades nas mais diversas vertentes, contudo, colocam barreiras e alegações para o jovem, embora ele tenha participado da Evangelização infantil e da juventude, participar efetivamente como protagonistas em situações de interação com o público, o qual também pode ser formado por outros jovens.

Neste sentido, Allan Kardec (2005a) torna evidente a participação do jovem, em suas considerações acerca da formação dos grupos e sociedades espíritas, item X:

"Tampouco deveis recear a admissão dos jovens. A gravidade da assembleia refletir-se-á em seu caráter; eles se tornarão mais sérios e ainda cedo poderão haurir, no ensino dos bons Espíritos, esta fé viva em Deus e no futuro, esse sentimento dos deveres da família, que os tornarão mais dóceis, mais respeitosos, e que modera a efervescência das paixões" (p. 41).


Assim, preciso que o movimento e a instituição espírita ampliem sua perspectiva inclusiva, trazendo a juventude para assumir novos papéis e responsabilidades, atualizando metodologias, convidando para coparticipação até tornarem-se mais seguros na interação e na dinâmica institucional, fazendo desde as leituras de harmonização prévias às palestras até a própria palestra, atuando em atividades de assistência social, na recepção e colaboração para a divulgação do Espiritismo nas redes sociais, por exemplo. Se ainda não seja possível o jovem assumir todo o tempo de duração da atividade, ele poderá atuar como coparticipante até conquistar sua autonomia. Muitos deles podem colaborar com novas abordagens válidas e eficientes para a difusão do Espiritismo e de atividades no movimento espírita.

Como André Luiz (1964) menciona:

"Lembra-te de que, para nós, não deve haver desconhecidos, porquanto todos somos irmãos e, no ambiente espírita, mesclam-se as raças, as classes, as idades e os temperamentos em demanda da integração na solidariedade real. Tudo o que existe na Terra está submetido às leis do Universo: os milhões de sóis que são as estrelas não dissipam as trevas da noite, mas o Sol vigilante e sozinho, por mais próximo de nós, acende e garante o esplendor do dia... Ajuda, pois, àquele que te partilha a marcha, o teu próximo mais próximo, aqui e agora, hoje e sempre" (p. 26).


Cabe a cada um de nós a responsabilidade de coconstrução de uma sociedade, em todas as suas estruturas, mais fraterna, adotando medidas mais justas e ações mais includentes já iniciando pelo rompimento com o etarismo, acreditando muito mais em possibilidades do que nos escravizarmos a conceitos inadequados e condicionamentos.

 

 Referências

ANDRÉ LUIZ (Espírito). Sol nas almas. Psicografia de Waldo Vieira. São Paulo: Boa Nova, 1964. Cap. 20 - Dar. p. 26.

ÂNGELIS Joanna de (Espírito). Adolescência e vida. Psicografia de Divaldo P. Franco. Salvador: Leal, 1997. Cap. 6: O adolescente: possibilidades e limites. Formato digital.

KARDEC, Allan. Instruções particulares dadas aos grupos em resposta a algumas das questões propostas. In: KARDEC, Allan. Viagem espírita em 1862: e outras viagens de Kardec. Brasília, DF: FEB, 2005a p. 33-43.

KARDEC, Allan. Projeto de regulamento para uso dos grupos e pequenas sociedades espíritas. In: KARDEC, Allan. Viagem espírita em 1862: e outras viagens de Kardec. Brasília, DF: FEB, 2005b p. 44-45.

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