Fibromialgia - Cuidados na Instituição Espírita

Sonia Hoffmann

A fibromialgia (FM) é uma síndrome clínica, manifestando-se com dor crônica difusa em todo o corpo (principalmente na musculatura). Sintomas de fadiga, sono não reparador, alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais e na bexiga (para mais ou para menos) podem se associar à dor. Outra característica da pessoa com FM é a grande sensibilidade ao toque e à compressão da musculatura, não suportando ou tolerando, muitas vezes, algumas texturas de roupas, um abraço ou simples contato rápido.

Algumas pessoas com FM referem dormência ou desconforto quando paradas ou em repouso, precisando se mexer ou movimentar todo ou parte do corpo para alívio deste sintoma (síndrome das pernas inquietas, por exemplo). muitos apresentam pouca tolerância ao exercício físico, dores de cabeça frequentes e maior sensibilidade a estímulos ambientais (como temperaturas, cheiros e barulhos fortes).

Homens e mulheres podem ser acometidos pela FM, mas o índice de diagnóstico é mais elevado no sexo feminino. A causa da FM ainda não é conclusiva, mas considera-se que seja por uma ativação desregulada do sistema nervoso central. Situações traumáticas, estressantes e doenças associadas podem desencadear a crise fibromiálgica.

Como a dor, o cansaço e o desconforto tornam-se, em diversas ocasiões, bastante intensos, a pessoa necessita de descanso ou reduzir muito suas atividades para o corpo se reorganizar e dar continuidade às tarefas. Por esta razão, o símbolo da fibromialgia é a borboleta, representando o tempo de casulo (recolhimento) e o tempo para voar com dor suportável e melhor ainda sem ela. Como reflete Diane Bergher (2019), a sabedoria da pessoa com fibromialgia está no meio termo entre esperar para deixar passar a dor ou a crise e agir ponderadamente para não deixar as coisas passarem.

Com tantos sintomas, e outros mais que cada individualidade pode referir, é extremamente importante a tomada de cuidados pela instituição espírita quanto ao bem-estar dos trabalhadores e do público. Generalizações são sempre medidas imprudentes, então a observação ativa e o diálogo acolhedor e franco consistem em medidas e atitudes inclusivas fundamentais porque o conhecimento das vulnerabilidades e dos recursos a serem disponibilizados não somente tranquiliza, como por vezes pode servir de prevenção para retardar e mesmo evitar novos episódios desgastantes, colaborando assim com a pessoa vivendo a síndrome da FM para a sua condição ser experimentada com o menor desconforto possível.

Bernardino, em O Evangelho segundo o Espiritismo (Kardec, 2013, p.100-101), no item 27 do capítulo V, traz alerta de extrema importância para todos nós quanto a não sobrecarregar as dores e aflições do próximo: "Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: "É a Justiça de Deus, importa que siga o seu curso”. Dizei antes: "Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz. Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa ideia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que fizer para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la, conforme julgar conveniente".

A flexibilização de horários e datas, a possibilidade de atividades online (quando possível e enquanto necessárias), a oferta de estudos com intervalos ou pausas para descanso e descontração, a disponibilização de cadeiras e assentos confortáveis representam ajudas bastante interessantes e significativas para alguém com FM sentir-se acolhida, cuidada e pertencente.

O entendimento e a aceitação dos motivos pelos quais, muitas vezes, a pessoa não comparece à instituição espírita, ter aparência desatenta à palestra ou ao estudo, apresentar esquecimentos, não assumir responsabilidades que aparentemente (em nosso julgamento) poderia fazer, evitar abraços apertados são primordiais para a pessoa não sentir-se culpada, rotulada como preguiçosa, acomodada, antissocial, desinteressada e desvalorizada no seu empenho de fazer o melhor possível. Ela não sabe exatamente quando e com que intensidade a crise fibromiálgica pode surgir. Se ela que vive esta enfermidade desconhece, quem poderá afirmar quando, como e em o grau de desconforto será causado? Portanto, é preciso ter uma atitude fraterna, solidária, includente e evitar ao máximo preconceitos ou adotar juízos de valor completamente infundados. O fundamental é quem vive com a fibromialgia ter honestidade nos seus propósitos e quem se diz cristão e espírita ser acessível e compreensivo com as diferenças.

Referências:

 BERGHER, Diane. Ensaios de borboletas: a vida com fibromialgia. [S.l.]: The Books Editora, 2019.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131. ed. Brasília: FEB, 2013. p. 100-101. Cap. V: Bem-aventurados os aflitos, item 27.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles. Fibromialgia: definição, sintomas e porque acontece. São Paulo: SBR, 2011. Disponível em: https://www.reumatologia.org.br/orientacoes-ao-paciente/fibromialgia-definicao-sintomas-e-porque-acontece/. Acesso em: 10 abr. 2024.