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Hora do testemunho: oportunidades benditas




Helena Bertoldo da Silva,

em 06.09.2024


Sãos tempos desafiadores. Nosso equilíbrio e nossa paz são testados a todo instante. Vivenciamos, recentemente, momentos dolorosos: a pandemia da COVID 19, que ceifou vidas, afastou-nos do convívio social, propiciando lições de humildade e tolerância. Logo em seguida, em setembro de 2023 e no início de 2024, as chuvas excessivas e os efeitos do aquecimento global, também trouxeram aflições — centenas de municípios gaúchos foram atingidos pelas enchentes. A pandemia trancou-nos em casa e as cheias tomaram centenas de casas em avalanche destruidora, e milhares de pessoas tiveram que deixar o aconchego do lar para viver em abrigos. Nos postulados espíritas encontramos sustentação para a compreensão destas horas difíceis. Deus não quer destruir as suas criaturas, Ele oportuniza aprendizados. Nas duas calamidades, reaprendemos a solidariedade, retomamos a habitualidade da prece, reavaliamos nossos valores, identificamos a urgência de preservar o meio ambiente, percebemos que somos interdependentes e necessitamos cuidar uns dos outros.

O Benfeitor Erasto é muito claro:

(...) Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo! ... sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. (...)[1]


O conhecimento espírita esclarece o porquê das dificuldades e das dores que a humanidade atravessa. Somos herdeiros de nós mesmos. Os processos dolorosos indicam o descumprimento da Lei Divina. Cumprir a lei exige esforço, foco e humildade de aprendiz. Deus legou a cada um o Livre Arbítrio, ou seja, somos livres para fazer as escolhas. Efetuadas as escolhas, responsabilizar-nos-emos pelas consequências delas.

O homem sofre sempre a consequência de suas faltas; não há uma só infração à lei de Deus que não acarrete a sua punição. […] Assim, o homem é constantemente o árbitro da sua própria sorte; pode abreviar ou prolongar indefinidamente o seu suplício; a sua felicidade ou a sua desventura dependem da vontade que tenha de praticar o bem. [2]


As instruções dos espíritos e os princípios da codificação nos esclarecem sobre o uso da liberdade de escolha. Jesus nos orienta em Matheus 16:27 — “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” [3]Essa narrativa de Mateus tem uma verdade que nos conforta, somos administradores de nossos dias. Se as dores persistem, algo precisa ser mudado; assim como as alegrias são indícios de méritos assertivos e precisam ser repartidas. 

Allan Kardec pergunta aos Espíritos na questão 785, qual o maior obstáculo ao progresso; os benfeitores respondem ser o orgulho e o egoísmo.[4] Mais adiante o codificador repete o questionamento de outra forma:

913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? “Já o dissemos inúmeras vezes: o egoísmo. Dele deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que luteis contra eles, não conseguireis extirpá-los enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Que todos os vossos esforços tendam, pois, para esse fim, porque aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser aproximar-se da perfeição moral, já nesta vida, deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, pois o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade; ele neutraliza todas as outras qualidades.”[5]


Os benfeitores são claros: estudar os vícios; identificar que a causa é o egoísmo; destruir a causa geradora atacando o mal pela raiz. Para alcançarmos este mister, será necessário analisarmos nossos atos e pensamentos e renovar os hábitos à luz do Evangelho de Jesus, pois, o egoísmo é incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Para não sermos imparciais na avaliação de nossos atos, busquemos em Jesus, modelo e guia, o parâmetro para nossa autoanálise. No capítulo XVII do Evangelho segundo o Espiritismo, item 3 – O homem de bem, são destacadas as características do verdadeiro homem de bem: cumpre a lei de justiça de amor e de caridade; tem fé em Deus e fé no futuro; faz o bem pelo bem, encontra satisfação em auxiliar e consolar outrem; pensa nos outros primeiramente; é bom, humano e benevolente não fazendo distinção de raças, de crença, por ver em todos os homens irmãos. Não estão aqui enumeradas todas as qualidades. O nosso grande desafio está em avaliarmos os nossos atos e pensamentos cotidiano à luz de Jesus e dos princípios espíritas.

José Raul Teixeira fez uma fala que popularizou: “Ser espírita não é para qualquer um, é para quem aguenta.”[6] Link da fala: https://www.youtube.com/watch?v=GElIeKPUTFI

A vivência da Doutrina Espírita, exige de cada um a coragem de ter disciplina, o esforço de mudança de hábitos, a continuidade de busca de sintonia com a lei divina na prática diária. Não estamos a sós nesta empreitada, a própria doutrina nos oferece recursos para esse mister, relacionamos alguns:

A prece, onde podemos pedir, louvar e agradecer. Verificadas as nossas necessidades de mudanças, podemos rogar à Deus, Jesus e os bons Espíritos a força e a humildade para perseguirmos esta melhora e fazer concomitantemente a nossa parte na vida da melhor forma possível. Também é fundamental agradecer a Deus e aos tarefeiros do amor pelas incontáveis benesses recebidas.

O Evangelho no lar é uma forma de mantermos, semanalmente, a mensagem de Jesus em casa. Reunir a família e refletir nas mensagens da Boa Nova é uma forma de manter a chama do evangelho em nossos dias. Temos disponível uma singela e eficiente sugestão de roteiro para esse mister.[7]

A frequência as reuniões de Estudos da Doutrina Espírita nos proporcionam levantar o véu para as verdades divinas. Jesus nos assevera: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”[8]

Desenvolver o hábito de pensar sobre a brevidade da vida e ampliar nossa consciência sobre a imortalidade da alma, fazendo a nossa parte na vida com sentimento de alegria e gratidão. Estamos de passagem no mundo, a vida espiritual é a vida verdadeira. Então, aproveitar as oportunidades de cada dia fazendo o nosso melhor. Recordemos aqui a fala de André Luiz, no livro Nosso Lar: “Uma existência é um ato. Um corpo - uma veste. Um século - um dia. Um serviço - uma experiência. Um triunfo - uma aquisição. Uma morte - um sopro renovador.”[9]

Prossigamos, pois, diante dos obstáculos, com fé, esperança e bom ânimo. Nada nos chega ao acaso. Saibamos identificar em cada desafio uma oportunidade de aprender e servir. Nossa vida tornar-se-á mais leve porque a gratidão será maior que as queixas. Sejamos obedientes e resignados diante das provas cotidianas. O Espírito Lázaro esclarece que a obediência é o consentimento da razão, a resignação é o consentimento do coração, forças ativas que ajudar-nos-ão a carregar o fardo de nossas provações.[10]

Vamos refletir com o apóstolo Paulo, na mensagem:

Persiste e segue Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados.” – Paulo. (Hebreus, 12:12.)

O lavrador desatento quase sempre escuta as sugestões do cansaço. Interrompe o serviço, em razão da tempestade, e a inundação lhe rouba a obra começada e lhe aniquila a coragem incipiente. Descansa, em virtude dos calos que a enxada lhe ofereceu, e os vermes se incumbem de anular-lhe o serviço.

Levanta as mãos, no princípio, mas não sabe “tornar a levantá-las”, na continuidade da tarefa, e perde a colheita.

O viajor, por sua vez, quando invigilante, não sabe chegar convenientemente ao termo da jornada. Queixa-se da canícula e adormece na penumbra de ilusórios abrigos, onde inesperados perigos o surpreendem. De outras vezes, salienta a importância dos pés ensanguentados e deita-se às margens da senda, transformando-se em mendigo comum.

Usa os joelhos sadios, não se dispondo, todavia, a mobilizá-los quando desconjuntados e feridos, e perde a alegria de alcançar a meta na ocasião prevista.

Assim acontece conosco na jornada espiritual.

A luta é o meio.

O aprimoramento é o fim.

A desilusão amarga.

A dificuldade complica.

A ingratidão dói.

A maldade fere.

Todavia, se abandonarmos o campo do coração por não sabermos levantar as mãos, de novo, no esforço persistente, os vermes do desânimo proliferarão, precípites, no centro de nossas mais caras esperanças, e se não quisermos marchar, de joelhos desconjuntados, é possível sejamos retidos pela sombra de falsos refúgios, durante séculos consecutivos.[11]

Estejamos em Paz, confiando, orando, obrando com alegria e esperança.

 

Referências:


1. Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XX — Os trabalhadores da última hora, item 4 – Missão dos Espíritas.

2. Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XXVII, item 21.

3. Matheus – 16:26

4. Allan Kardec – O Livro dos Espíritos,785

5. Allan Kardec – O Livro dos Espíritos, questão 913

6. https://www.youtube.com/watch?v=GElIeKPUTFI José Raul Teixeira – “Ser Espírita não é para qualquer um, é para quem aguenta.” consultado em 03.09.2024.

7. https://www.youtube.com/watch?v=9VbpbPhDjyo O Evangelho no Lar e no Coração - Faça e ensine a fazer. consultado em 04.09.2024

8. João – 8:32

9. Nosso Lar/pelo Espírito André Luiz; psicografado por Francisco Cândido Xavier, 64. Ed. 15.imp – Brasília: FEB, 2020

10. Allan Kardec: O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo IX – Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos, item 8 - Obediência e Resignação.

11. Emmanuel/Francisco Cândido Xavier. Fonte Viva, lição 99. FEB/2016

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