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Liderança Educadora: a virtude da justiça


Vinícius Lima Lousada[1]


Ao compreendermos que liderança é a arte de influenciar pessoas através do caráter do líder e do amor, a fim de que elas realizem projetos em comum de forma entusiástica, ideia que recolhemos de O Líder Espírita, nos parece oportuno termos em mente que estamos falando do papel das qualidades morais daquele que lidera, ou seja, sobre as virtudes que vem desenvolvendo como educador que se educa no exercício da liderança.

Naturalmente, o nosso olhar sobre nós mesmos, enquanto Espírito Imortal, é sempre de aprendiz, tendo em vista que o fim objetivado pela reencarnação, segundo os Guias da Imortalidade, consiste na melhoria progressiva da humanidade[2]. A cada reencarnação, uma etapa vencida, um passo na senda do progresso espiritual do indivíduo.

Dessa forma, somos desafiados, no exercício de liderança, a não perder de vista essa condição de aprendiz e peregrino da imortalidade para, a cada desafio inerente às tarefas abraçadas ou circunstâncias da vida, dispormo-nos a crescer com o que nos facultam as experiências.

O ponto de vista da vida futura, adotado no que fazer do líder que é espírita, permite a percepção do encadeamento de projetos e ações às necessidades coletivas que se conectam mediante a solidariedade, que nos une a tudo e todos, concedendo-nos uma visão mais ampla do serviço cristão prestado e de seus desdobramentos para a harmonia da coletividade e das vidas que nela pulsam, entre as quais, a sua.

Emerge daí a necessidade da liderança espírita não perder de vista a demanda pessoal pelo desenvolvimento da virtude da justiça, tendo em vista a manutenção da retidão de seu caráter, elemento em que se assenta a confiança da equipe de liderados e a natureza dos Espíritos que o assistem na tarefa em curso, bem como, a repercussão educativa ou não de sua ação junto aos companheiros de trabalho redentor.

Mas o que podemos considerar por virtude? O dicionário aponta a virtude como “disposição firme e constante para a prática do bem”[3]. E, podemos compreender que toda a virtude adquirida é um sinal de progresso do Espírito. O indivíduo é virtuoso quando impulsiona a sua vontade e realiza o bem.

Ao lançarmos mão dos ensinamentos de O Livro dos Espíritos, na sua questão 893, vamos obter o esclarecimento de que precisamos para seguirmos nesta reflexão:

Qual a mais meritória de todas as virtudes?

“Todas as virtudes têm seu mérito, porque todas indicam progresso na senda do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.”

A partir desta resposta recolhemos o entendimento de que todas as virtudes são meritórias, ao gerar benefícios ao próximo, produzem felicidade íntima desde já ao seu portador. E, ainda, a resposta ressalta que pelo fato de haver resistência voluntária aos maus pendores há virtude. Entretanto, a virtude que está no topo de todas é o sacrifício do interesse pessoal pelo bem do outro, sem outra intenção que não realizar o bem.

Entre as virtudes necessárias ao progresso da alma e ao exercício da liderança está a justiça. Mas o que é a justiça? O que é ser justo? Evidente que essas não são perguntas novas, mas vamos refletir sobre elas com o apoio da Filosofia e da Doutrina dos Espíritos.

Sobre isso reflete Aristóteles: “Vemos que todos os homens entendem por justiça aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo, que as faz agir justamente e desejar o que é justo; (...)”[4] Considerando-a a mais completa de todas as virtudes, ainda afirma “que somente a justiça, entre todas as virtudes, é o "bem de um outro", visto que se relaciona com o nosso próximo, fazendo o que é vantajoso a um outro, (...)”[5] Quer dizer, a justiça enquanto virtude está na ação reta que produz o bem para o próximo, colocando o seu direito como referência.

O nobre Allan Kardec, trouxe esta questão aos Espíritos Superiores e estudou o tema em profundidade no Cap. XI de O Livro dos Espíritos e obteve o conceito de que “A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais.” Evidentemente que a lei humana, sendo progressiva, só não é transitória naquilo que está consoante a Lei Natural, indispensável à nossa felicidade. Portanto, pensemos no direito dos outros sob o crivo da legislação em vigor ou normas de convivência, sem perder de vista a Lei Divina.

A liderança age com justiça toda a vez que se conduz respeitando a dignidade e os direitos naturais de todos e, isso se dá sempre que ela mira, em qualquer empreendimento, no atendimento ao bem comum, com o sacrifício de seus interesses pessoais. Toda a sua escolha e ação, em circunstâncias complexas ou comuns do cotidiano das equipes de trabalho, inclusive na transformação positiva de conflitos, carece de ser norteada pela justiça para que meios e fins sejam sempre norteados pela busca do bem de todos e, jamais, para a sua satisfação personalista ou para o egoísmo alheio.

Na Doutrina Espírita aprendemos que a base da justiça, de fazer a coisa certa, é a Lei Natural, cabendo-nos a consulta à própria consciência a fim de que, na dúvida, ajamos com a mesma retidão com a qual gostaríamos que agissem para conosco. É, como dizem os Espíritos a Kardec: “A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo.”[6]

Estude o líder educador o panteão das necessidades humanas, observe as de sua comunidade e da equipe de trabalho. Dê de si mesmo pelo bem de todos e, com humildade, busque sempre a inspiração superior rogando pelo pensamento direcionado a Deus: “Guia-me nas veredas da justiça.”[7]




Referências: [1] Coordenador do Setor de Formação de Lideranças Espíritas - FERGS. [2] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. questão 167. (Fonte: https://www.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/445/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-iv-da-pluralidade-das-existencias/a-reencarnacao/167) [3] DA CUNHA, Antônio, Geraldo. Dicionário etimológico da língua portuguesa (Página 679). Edição do Kindle. [4] ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco (Coleção Filosofia) (Locais do Kindle 1529-1531). Lebooks Editora. Edição do Kindle. [5] Idem. (Locais do Kindle 1570-1572). [6] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, questão 876. (Fonte: https://www.kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/3259/parte-terceira-das-leis-morais/capitulo-xi-10-lei-de-justica-de-amor-e-de-caridade/justica-e-direito-natural/876) [7] XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão (Romances de Emmanuel) (p. 30). FEB - Edicei of America. Edição do Kindle.

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