Náufrago em Resgate, cap. 11
Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos, por meio da voz da consciência, que fazem ressoar em nosso íntimo. Mas, como nem sempre ligamos a isso a devida importância, eles nos dão outros conselhos mais diretos, servindo-se das pessoas que nos cercam. Examine cada um as diversas circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos, que nem sempre aproveitou, e que lhe teriam poupado muitos desgostos, se os tivesse escutado.[1]
O grande auditório estava atento às explanações do Instrutor Cesar. À equipe de Magaldi somaram-se mais algumas que trabalhavam em outras casas prisionais. Tínhamos ali os encarnados em tarefa durante o sono físico, muitos policiais, assim como pessoas do povo que tinham suas relações com os fatos em apuração. Também identificava-se a presença de traficantes desencarnados sob a custódia de um grande grupo de atendentes que os conduziam.
Em uma tela de grandes dimensões, na qual Cesar fazia apontamentos e demonstrações, viam-se os planos detalhados das ações em andamento em várias casas de detenção, com as minuciosas ramificações fora delas e os envolvimentos sórdidos de algumas autoridades que se locupletam do crime. Em muitas cores eram separadas as operações que partiam dos "xerifes" das celas, os focos de apoio e planejamento das quadrilhas em cada “território” do crime, bem como as ações e omissões de servidores públicos que favorecem o êxito dos planos criminosos.
A cada nova informação compartilhada um burburinho se estabelecia na platéia, sinalizando a indignação, surpresa ou a comprovação de suspeitas já nutridas.
Encerrada a preleção uma luminosidade intensa se espalhou pelo salão, envolvendo, os encarnados ali presentes. Notava-se que os policiais e os servidores encarregados de operações específicas de desarticulação das quadrilhas recebiam intenso fluxo de vibrações na região do centro de forças cardíaco e coronário, e deles se evolavam fluídos de coloração escura, em tons ocre e cinza chumbo, que eram sugados pela aparelhagem plasmada no ambiente para tal fim. Aos poucos, a agitação foi cedendo espaço à calma e ao silêncio, como se a luminosidade, penetrando os corpos sutis, conferisse-lhes serenidade e equilíbrio ímpares.
Os presidiários e demais presentes também passavam por idêntica imersão nos eflúvios luminosos a percorrerem o ambiente saturado de energias.
Aos poucos a assistência foi sendo dispensada para a continuidade do repouso, permanecendo os coordenadores de equipes, em diálogo com Cesar para aclarar as dúvidas e recolherem orientações para as ações seguintes junto aos tutelados na Terra.
Magaldi foi o primeiro a adiantar-se, externando as suas impressões.
- Irmão Cesar, estou ainda sob o impacto da luminosidade que nos envolveu a todos, como se uma lufada de ar fresco, revigorante e pacificadora alcançasse as mais recônditas fibras do meu ser. Depois de tudo o que vimos e ouvimos parece-me contraditório nutrir tal estado de alma, sabendo que todos terão que dispor de contingente vigoroso de energia e determinação, quando forem defrontados pelas funestas consequências dessas urdiduras criminosas.
- Tuas ponderações são justas e pertinentes, amigo Magaldi. Realmente os nossos servidores, os policiais, ao se verem diante da rede de ações criminosas tecida sob os seus olhos experimentam enorme indignação, porém a indignação não deve migrar para os terrenos do ódio e da vingança, pois se isso ocorrer estará afastada toda e qualquer possibilidade de se fazer justiça, pois esta não se implementa à distância da bondade. Percebe-se que o Alto tem empenhado assistência constante para auxiliar no exaurimento das nuvens mais densas no pensamento e nos sentimentos desses trabalhadores, facilitando a contenção de impulsos, que é o possível em grande parte do contingente laboral da Segurança Pública no atual estágio evolutivo do planeta.
- E, indagou Antero, o supervisor das equipes espirituais em ação em grande presídio da capital, sabe-se que as lições e informações aqui reveladas não são lembradas pelos encarnados no estado de vigília, por essa razão muitos desses crimes se realizarão mesmo. Não há como obstar o andamento dessas ações, caro Cesar?
- A liberdade de escolha de cada criatura é patrimônio inalienável e precioso de cada um, caro Antero. Até o momento da consumação do ato o homem pode ou não mudar o rumo das suas ações. Nossos esforços têm sido o de despertar, em todos os momentos, o compromisso de cada um, tenha cometido erros graves ou não, a sua condição de filho de Deus, comprometido com a Lei daquele que o criou.
- Sabeis, todos, que o investimento dos órgãos de segurança em serviços de inteligência abre vastíssimo campo para que a prevenção do crime ganhe relevo no combate à criminalidade. Os algoritmos que analisam e projetam resultados a partir dos dados que lhes são fornecidos, concedem tempo e análises aprimoradas para que o ser humano espiritualizado utilize os avanços da inteligência artificial para o apuro daquilo que somente a inteligência humana pode conceber: a influência dos corações evangelizados sobre os seus semelhantes. Enquanto os homens não se amarem não extinguiremos as fontes das mazelas que nos aturdem.
- As intuições que emanam das revelações aqui feitas serão ativadas, quando cada um dos participantes desta assembleia, esboçar mínima adesão a ações nobres, ainda que repressoras ao crime. No sistema carcerário a recomendação de Jesus de que - o vosso falar seja sim, sim; não, não; - é pressuposto de boa governança e esta precisa ter os matizes da autoridade moral de quem a exerce.
Percebendo que ainda pairavam dúvidas e incertezas no ar, Cesar pontuou: - observem as atitudes de Alcebíades nos dias que se seguirão. Creio mesmo que representantes de todas as equipes deverão se dispor a esse acompanhamento para que as conversas aqui veiculadas adquiram colorido de realidade para vós.
Referência: [1] Kardec, Allan. O livro dos espíritos (p. 299). FEB Publisher. Edição do Kindle. Questão 524.
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