O Bojador – avancemos, apesar de tudo – parte 1
Transcrevo a íntegra do poema de Fernando Pessoa, referido pela Beth:
X — Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Falemos sobre o Infante D. Henrique. Falemos sobre Gil Eanes. Falemos sobre o Bojador. Falemos sobre a nossa dor e a sua superação, mas falemos à luz do espiritismo.
Cleonice Berardinelli é autora de uma obra primorosa sobre o poema Mensagem de Fernando Pessoa e ela nos apresenta a figura do Infante D. Henrique:
“O Infante D. Henrique (1394 – 1460) - Quinto filho de D. João I e de D. Philippa de Lencastre, nasceu no Porto em 4 de janeiro de 1394. Em 1415, retorna como herói da conquista de Ceuta, do qual havia sido um dos maiores
incentivadores, recebe o título de Duque de Viseu e Senhor da Covilhã e é armado Cavaleiro da Ordem de Cristo,
instituída quase um século antes por D. Diniz para acolher os Templários então perseguidos pela Igreja. Em 1419,
funda uma vila em Sagres, então conhecida como Vila do Infante, onde se teria estabelecido a notória Escola da
Sagres. Em 1420, é nomeado Grão-Mestre da Ordem de Cristo, posto que irá conservar até ao fim de sua vida.
Dispondo dos recursos desta ordem para aplicar nas empresas de expansão marítima, D. Henrique torna-se o
maior impulsionador das navegações de seu tempo, recebendo o epíteto de o Navegador. A 12 de outubro de 1431,
faz uma doação à universidade, com o objetivo de que se instituísse nela o estudo das ciências; a 25 de março de
1448 faz nova doação, esta destinada à cadeira de Teologia. Morre em Sagres, a 13 de novembro de 1460. Seu
corpo é depositado na Igreja de Lagos e, em 1461, trasladado para o Mosteiro da Batalha”
O espírito Humberto de Campos na obra “Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”, através da amorosa mediunidade de Chico Xavier, narra como a árvore frondosa do Evangelho do Cristo foi transplantada da Europa para a América.
Reunidos os mensageiros encarregados dos problemas sociológicos do orbe terrestre, escutam a voz suave e meiga do Mestre Jesus:
“— Helil, (...) meu coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendei-lhes que se amassem como irmãos, e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se uns aos outros como Cains desvairados.”
Helil (ou Hilel em hebraico) responde para o Cristo, como se desejasse desfazer a impressão dolorosa e amarga do Mestre:
“— Todavia (...) esses movimentos, Senhor, intensificaram as relações dos povos da Terra, aproximando o Oriente e o Ocidente, para aprenderem a lição da solidariedade nessas experiências penosas; novas utilidades da vida foram descobertas; o comércio progrediu além de todas as fronteiras, reunindo as pátrias do orbe. Sobretudo, devemos considerar que os príncipes cristãos, empreendendo as iniciativas daquela natureza, guardavam a nobre intenção de velar pela paisagem deliciosa dos lugares santos.”
Redarguiu tristemente Jesus a Helil:
— Mas (...) qual o lugar da Terra que não é santo? Em todas as partes do mundo, por mais recônditas que sejam, paira a bênção de Deus, convertida na luz e no pão de todas as criaturas. Era preferível que Saladino guardasse, para sempre, todos os poderes temporais na Palestina, a que caísse um só dos fios de cabelo de um soldado, numa guerra incompreensível por minha causa, que, em todos os tempos, deve ser a do amor e da fraternidade universal. E, como se a sua vista devassasse todos os mistérios do porvir, continuou: — Infelizmente, não vejo senão o caminho do sofrimento para modificar tão desoladora situação. Aos feudos de agora, seguir-se-ão as coroas poderosas e, depois dessa concentração de autoridade e de poder, serão os embates da ambição e a carnificina da inveja e da felonia, pelo predomínio do mais forte.
A amargura divina empolgara toda a formosa assembleia de querubins e arcanjos. Foi quando Helil, para renovar a impressão ambiente, dirigiu-se a Jesus com brandura e humildade: — Senhor, se esses povos infelizes, que procuram na grandeza material uma felicidade impossível, marcham irremediavelmente para os grandes infortúnios coletivos, visitemos os continentes ignorados, onde espíritos jovens e simples aguardam a semente de uma vida nova. Nessas terras, para além dos grandes oceanos, poderíeis instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas do amor e da liberdade. E a caravana fulgurante, deixando um rastro de luz na imensidade dos espaços, encaminhou-se ao continente que seria, mais tarde, o mundo americano.
O Cristo, Helil e os demais mensageiros divinos contemplam a América, especialmente a América do Sul e o local que mais tarde seria chamado Brasil. Quanta beleza. Quanta riqueza. Jesus, de mãos erguidas para o Alto, como se invocasse a bênção de seu Pai para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento, exclama:
“— Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai celestial. Tu, Helil, te corporificarás na Terra, no seio do povo mais pobre e mais trabalhador do Ocidente; instituirás um roteiro de coragem, para que sejam transpostas as imensidades desses oceanos perigosos e solitários, que separam o Velho do Novo Mundo. Instalaremos aqui uma tenda de trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando os seus esforços na oficina de Deus. Aproveitaremos o elemento simples de bondade, o coração fraternal dos habitantes destas terras novas, e, mais tarde, ordenarei a reencarnação de muitos Espíritos já purificados no sentimento da humildade e da mansidão, entre as raças oprimidas e sofredoras das regiões africanas, para formarmos o pedestal de solidariedade do povo fraterno que aqui florescerá, no futuro, a fim de exaltar o meu Evangelho, nos séculos gloriosos do porvir. Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!”
(continua)
¹PESSOA, Fernando. Mensagem. Organização, apresentação e ensaios de Cleonice Berardinelli. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, p. 55.
²PESSOA, Fernando. Mensagem. Organização, apresentação e ensaios de Cleonice Berardinelli. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014, p. 107.
³DE CAMPOS (Espírito), Humberto; XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho (Coleção Humberto de Campos/Irmão X) (pp. 16-18). FEB - Federação Espírita Brasileira. Edição do Kindle.
4DE CAMPOS (Espírito), Humberto; XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho (Coleção Humberto de Campos/Irmão X) (pp. 19-20). FEB - Federação Espírita Brasileira. Edição do Kindle.
Comentarios