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O centro espírita e a mediunidade curadora




Vinícius Lima Lousada[1]

  

A finalidade do Espiritismo é melhorar aqueles que o compreendem. - Allan Kardec[2]

  

O centro espírita e a sua finalidade

O centro espírita, na atualidade, tem por finalidade o estudo do Espiritismo, sua prática desdobrada nas ações de voluntários no âmbito de suas áreas funcionais, além da difusão do conhecimento espírita para aqueles que buscam as atividades que ele oferece.

Ao tempo de Allan Kardec, considerando-se o contexto histórico-cultural em que ele se movia na Europa racionalista do século XIX, o centro espírita era um lugar de pesquisa, estudo e vivência dos valores da Doutrina. Parece-nos importante lembrar disso para termos uma ideia da perspectiva adotada por Kardec e, ao aprendermos dele, melhorarmos o que apresentamos em nossa seara, tendo em vista sempre a integridade dos postulados espíritas.

A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como se pode observar lendo seus boletins publicados a partir do mês de agosto de 1859 da Revista Espírita, tratava-se de uma sociedade nos moldes das agremiações científicas da época, com um expediente em que eram atendidos assuntos administrativos como leituras de atas e dos trabalhos de sessões anteriores, admissão de novos sócios, delegação de responsabilidades (definição de comissários para sessões gerais), leituras de correspondências e de comunicações mediúnicas enviadas à sociedade, além da efetivação de estudos de questões doutrinárias e morais em reuniões experimentais de diálogo com os Espíritos. A propósito, as reuniões da Sociedade de Paris eram privativas, quer dizer, franqueadas apenas aos seus associados e a alguns convidados.

Kardec evitava controvérsias que desviassem a Sociedade Espírita de Paris de sua finalidade, bem como, criasse para a mesma embaraços para com as autoridades constituídas. E, com o desdobramento de suas pesquisas, deparou-se com um gênero de mediunidade que, bem compreendida, poderia promover bem-estar e espiritualização do ser, da mesma forma que, sem esclarecimento ou guiada por interesse pessoal, serviria de descaminho aos envolvidos, demandando, até hoje, estudo, pesquisa, discrição e devotamento, como deve ser em qualquer labor no campo da mediunidade orientada pela Doutrina Espírita.

 

A mediunidade curadora

Em O Livro dos Médiuns, o mestre conceituou a mediunidade curadora afirmando-a como um “(...) dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação. (...)” E completa: “(...) nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo.(...).”[3] Destaquemos: a mediunidade curadora se manifesta de forma dinâmica e espontaneamente, sem nenhuma necessidade de medicamentos, instrumentos ou aparatos exteriores.

No centro espírita, o equacionamento de processos patogênicos pode se dar pela ação fluídica dos Bons Espíritos, em prol de pessoas enfermas, utilizando-se dos potenciais fluídicos de um médium curador, sem a necessidade de prescrição de “tratamentos”, número de passes, medicações ou placebos, instalações físicas especiais ou do uso de uniformes, da parte dos médiuns.

Dada a dinâmica própria da mediunidade curadora, onde o fluido produzido pelos Bons Espíritos pode intervir em nosso organismo enfermo, compreendemos que no centro espírita tal situação possa ocorrer de forma discreta e até oculta, sem promessas de resultados deste tipo por parte dos dirigentes aos seus frequentadores, ou ainda, sem qualquer necessidade de sessões especiais agendadas com esta finalidade. Porque dizemos isto? Porque, seguindo a linha de raciocínio de Kardec sobre a natureza do fenômeno das curas espirituais, trata-se de algo que se dá de forma espontânea, obedecendo a permissão de Deus e a vontade dos Bons Espíritos.

Desse modo, a razão nos leva a crer que quando aconteça no centro espírita a cura de algum enfermo, esta se dê em momentos de preces, reflexão edificante ou de aplicação de passes e com o auxílio de médiuns que possam até ignorar o fato de portarem esta especialidade mediúnica. Ademais, as curas espirituais de doenças físicas no centro espírita são uma excepcionalidade porque não é essa a finalidade desta instituição e nem do Espiritismo.

Pelos apontamentos acima, entende-se que são inapropriadas as criações de “trabalhos especiais de cura” nos centros espíritas orientados nas obras de Allan Kardec, nada obstante, a prece, o passe, a leitura esclarecedora, o conhecimento doutrinário promovido em estudos e palestras possam incidir de forma positiva na qualidade de vida de qualquer indivíduo, inclusive quando enfermo. Nenhum médium ou dirigente espírita deve colocar-se na condição atávica de promotor de curas, pondo a sua suposta missão acima da boa nova do Espiritismo.

Manoel P. de Miranda, dedicado estudioso desencarnado do tema da mediunidade, aponta suas reflexões sobre o tema na mesma direção, afirmando que  “Prometer-se curas mediante as técnicas fluidoterápicas é maneira ineficaz para a boa propaganda da Revelação dos Imortais.”[4] E, ainda, nos remete o benfeitor à ideia de que, embora seja compreensível no atual estágio evolutivo das criaturas, a procura e a oferta em termos de soluções rápidas para os problemas de saúde, o que nos interessa mesmo é a cura espiritual do ser na sua integralidade, resultado que não se obtém simplesmente pelos testemunhos de fenômenos espirituais “na carne”, mas, mediante a educação moral como um processo de renovação que começa na intimidade e por decisão do próprio indivíduo.

Nesse sentido, já ensinava Allan Kardec:

 

Se o Espiritismo, conforme foi anunciado, tem que determinar a transformação da humanidade, claro é que esse efeito ele só poderá produzir melhorando as massas, o que se verificará gradualmente, pouco a pouco, em consequência do aperfeiçoamento dos indivíduos.[5]

 

Bem se vê que o foco do Espiritismo é a educação do ser humano, via pela qual pode transformar a coletividade em razão da renovação moral que deve provocar em seus próprios adeptos na medida em que aplicam a si mesmos os postulados da Doutrina que professam. Portanto, em nossos centros espíritas façamos de tudo para que as obras fundamentais da Doutrina Espírita sejam acessadas, estudadas, meditadas e vivenciadas, para que possamos promover a mensagem do Consolador de forma íntegra, com a racionalidade e a amorosidade necessárias à sua devida compreensão e prática.


Referências:

[1] Vice-presidente de Unificação da Fergs.

[2] KARDEC, Allan. Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas: discurso de encerramento do ano social. In: Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano segundo - 1859. Evandro Noleto Bezerra. trad. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005, p. 274.

[3] KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. FEB Publisher. Edição do Kindle, cap. XIV, Item 175.

[4] FRANCO, Divaldo. Considerações sobre a cura. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Abril. In: Jornal Mundo Espírita. Curitiba: FEP, 2019. Acessível em: https://www.mundoespirita.com.br/?materia=consideracoes-sobre-a-cura. Acessado em 28/04/24.

[5] KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. FEB Publisher. Edição do Kindle, cap. XXIX, item 350.

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