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O centro espírita e o isolamento




Vinícius Lima Lousada[1]


Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; é preciso que eu conduza também a elas; ouvirão a minha voz e haverá um {só} rebanho e um {só} pastor. (João 10:16)[2]


Práticas individuais de isolamento ou de negação da convivência social trazem consigo algo de prejudicial para o ser humano. É o que se depreende do artigo de um renomado médico cancerologista quando destacou, em um periódico paulista, que o isolamento[3] de um indivíduo é tão prejudicial à saúde quanto a conduta de beber ou fumar diariamente. Segundo os argumentos apresentados, entre os benefícios da convivência familiar, do cultivo de amizades e contatos sociais seriam encontrados: satisfação no trabalho, prosperidade, bem estar, concretização de sonhos acalentados e longevidade.

O fato é que a espécie humana é gregária, o Espírito imortal está submetido a Leis Divinas entre as quais está a Lei de Sociedade que define, segundo os Imortais ditaram a Allan Kardec, que “(...) Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.”[4] Assim, compreendemos que é na convivência que os seres humanos se constroem, aprendem uns com os outros e progridem espiritualmente, nas idas e vindas que a reencarnação lhes confere. É através dos laços familiares, da vida em sociedade e da ajuda mútua que avançam na senda do progresso os indivíduos e as coletividades.

Postulou oportunamente o filósofo Léon Denis que “(...) Todos os seres estão ligados uns aos outros e se influenciam reciprocamente: o universo inteiro está submetido à lei da solidariedade. (...)”[5] Portanto, o isolamento é antinatural, pernicioso para o desenvolvimento do Espírito que demorando-se nele embrutece, ainda que jamais retrograde em sua evolução. O mesmo se dá no caso das coletividades, estando fechadas em si mesmas também degeneram em práticas sociais desumanizadoras e na produção de mentalidades dogmáticas.

Como “Nenhum homem dispõe de faculdades completas. (...)”[6], o ser humano isolado caminha para o definhamento pela incapacidade de atender sozinho as suas necessidades e as sociedades apartadas das demais, tendem ao declínio científico, moral, político e econômico. A dinâmica da vida social é a interdependência.

Assim também é com o centro espírita que, ao isolar-se do ambiente de permuta de ideias e de apoio mútuo do Movimento Espírita, tem forte tendência para fragilizar-se e pode adentrar em processos de decadência no trabalho desenvolvido em suas áreas funcionais[7], tornando precário o seu desempenho na entrega dos serviços que presta à comunidade, bem como, da assistência espiritual que recolhe.

Quanto a este último aspecto, o da assistência dos Bons Espíritos no trabalho desenvolvido no centro espírita, nunca é demais dizer que todo o passo que desvie um conjunto de colaboradores da finalidade institucional de estudo, prática e difusão do Espiritismo, que deve constar em seus ditames normativos, é um movimento de distanciamento daquele grupo ou coletivo de voluntários da influência salutar e do envolvimento fluídico dos Benfeitores Espirituais compromissados com o Consolador.

Por outro lado, se nos apresenta a importância da coerência moral e doutrinária em nossos núcleos ante as implicações que dela se desdobram na Vida Maior e, nesse sentido, Bezerra de Menezes é quem nos alerta que os centros espíritas que perdem de vista a sua missão, “(...) aqueles que se desviam para normas ou práticas extravagantes ou inapropriadas, serão, no Espaço, considerados meros clubes onde se aglomeram aprendizes do Espiritismo em horas de lazer.[8]

O centro espírita, enquanto agremiação humana radicada na Espiritualidade, tem por missão a formação de uma mentalidade espiritualizada, alicerçada fundamentalmente no conhecimento a ser apreendido através do estudo da obra kardequiana. Do ponto de vista moral, é importante termos em mente que o Espiritismo postula os ensinamentos de Jesus, convidando-nos a uma conduta ética, orientada pelas Leis Morais que merecem o nosso foco, considerando o convite educativo da Doutrina.

Quando o centro espírita se isola das atividades fraternas e de colaboração mútua que a dinâmica do Movimento Espírita proporciona, seus dirigentes e cooperadores estão construindo, muitas vezes sem perceber, uma barreira à realização plena de sua missão institucional e espiritual, porque esta convivência e participação é parte significativa de um aprendizado importante para o Espírito Imortal, o da contribuição às construções coletivas, aquelas realizações efetivadas pelo bem comum e sem personalismo de indivíduo, grupo ou centro, que nos credenciam, gradativamente, a compromissos maiores do ponto de vista da vida futura.

Além disso, a inserção espontânea ou planejada de parte dos voluntários do centro espírita em nosso movimento, em atividades ou ações coletivas, favorece a ampliação dos laços de fraternidade e a oxigenação de ideias através do convívio com equipes mais amplas de trabalho e com pessoas portadoras de leituras de mundo distintas das que estamos acostumados em nossos núcleos de origem.

Com o grupo que fazemos parte integrado ao centro espírita e com o centro, ao qual estamos vinculados, conectado ao Movimento Espírita, estando conscientes de que todos fazemos parte dessa coletividade irmanada pelo ideal espírita, vivenciamos momentos favoráveis para o fortalecimento desta veneranda instituição, comprometida com a espiritualização do povo, mediante a permuta de saberes teóricos e práticos concernentes às suas atividades.


Referências: [1] Vice-presidente de Unificação da Fergs. [2] O Novo Testamento. Trad. Haroldo Dutra Dias. FEB. Edição do Kindle. [3] https://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2023/07/o-isolamento-pode-ser-tao-perigoso-quanto-fumar-ou-beber-diariamente.shtml [4] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. FEB Publisher. Edição do Kindle, questão 766. [5] DENIS, Léon. O grande enigma. FEB. Edição do Kindle, cap. III. [6] Idem, questão 768. [7] Segundo o documento Orientação ao Centro Espírita (CFN/FEB) as áreas funcionais do centro espírita são: Gestão do Centro Espírita. Estudo do Espiritismo; Infância e Juventude; Família; Mediunidade; Assistência e Promoção Social Espírita; Comunicação Social Espírita e Atendimento Espiritual. [8] PEREIRA, Yvonne do Amaral. Dramas da obsessão. Pelo Espírito Bezerra de Menezes. FEB - Edicei of America. Edição do Kindle, cap. III, Terceira Parte.

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