O esforço individual na remoção de nossas montanhas
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Helena Bertoldo da Silva
Voluntária da ALE – Área do Livro Espírita/Fergs
Trabalhadora do CELD – Centro Espírita Léon Denis – CRE 1, Porto Alegre
Quando ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe aproximou e, lançando-se de joelhos a seus pés, disse: Senhor, tem piedade do meu filho, que é lunático e sofre muito, pois cai muitas vezes no fogo e muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam curar. — Jesus respondeu, dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui esse menino. — E tendo Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são. — Os discípulos vieram então ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por que não pudemos nós outros expulsar esse demônio? — Respondeu-lhes Jesus: Por causa da vossa incredulidade. Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para ali, e ela se transportaria, e nada vos seria impossível. (Mateus, 17:14 a 20.) (1)
As montanhas variam de tamanho para cada um, segundo o investimento dispensado ao fortalecimento da fé. Quando olhamos uma montanha da base para cima, ela nos parece enorme. Lembremos que uma montanha não é o Universo, ela é apenas um pequeno ponto em meio a uma vastidão de hectares do planeta. Se pairarmos acima da montanha, a veremos como um ponto minúsculo. Fazendo uma analogia com a nossa fé: se deixarmos que os desafios se agigantem, eles nos esmagarão. Entretanto, se planarmos acima deles, com as asas de nossa fé, visualizaremos apenas um pequeno ponto.
“A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às menores coisas. É nisto que consiste a ação providencial” (2)
Quando confiamos em Deus, com humildade, consciente de que Ele é Pai amoroso que conhece os nossos propósitos mais íntimos, os obstáculos do caminho não nos amedrontam, pelo contrário nos fortalecem e nos impulsionam a fazer a nossa parte nas soluções que buscamos.
O benfeitor Emmanuel nos orienta que o Pai está sempre agindo em nós e por nós:
(...) Nos obstáculos de ordem material, esse apoio não te chegará na obtenção do dinheiro fácil que te solva os compromissos, mas na força para trabalhar a fim de que os recursos necessários te venham às mãos; nas horas de dúvida, não te virá em fórmulas verbais diretas que te anulem o livre arbítrio e sim na inspiração exata que te ajude a tomar as decisões indispensáveis à paz da própria consciência; nos momentos de inquietação, não surgirá em acontecimentos especiais que te afastem dos testemunhos de fé, mas percebê-los-ás contigo em forma de segurança e bom ânimo, na travessia da aflição; nos dias em que o mal te pareça derrotar a golpes de incompreensão ou de injúria, não se te expressará configurado em favores de exceção que te retirem dos ombros a carga das provas redentoras e sim na energia bendita da fé viva que te restaure a esperança, revestindo-te de coragem, a fim de que não esmoreças na rude jornada, em direção à vida nova(...). (3)
O nosso grande desafio, para colhermos os benefícios da ação divina, consiste em fortalecermos a nossa fé através do trabalho contínuo, com espírito de aprendiz, regando nossos pensamentos e nossos projetos com a água viva da prece. Seja louvando, agradecendo ou pedindo. Orar e agir, pois a prece tem que ser ativa. Não basta pedir e nada fazer. O auxílio divino nunca nos falta, porém é necessário preparar o coração para recebê-lo.
Outro ponto a considerarmos é a origem dessas montanhas que entravam nossa caminhada e nos desafiam, diariamente, a removê-las. A Doutrina Espírita classifica os males do caminho em duas fontes, ou seja – a primeira oriunda de nossa invigilância pelos excessos cometidos na encarnação atual: - falta de cuidado na higiene mental, nos levará a sintonias não salutares que abrirão portas a desequilíbrios e a obsessões. A segunda são aquelas dores que não criamos nesta vida: - doenças desafiadoras, relacionamentos difíceis, ou seja, aqueles obstáculos que não provocamos nesta encarnação.
Diz um adágio popular: o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória. No presente, estamos colhendo a semeadura do passado. Nossas escolhas na encarnação atual são plantações para as vidas futuras. É importante, selecionarmos as sementes (ações) na busca de novos rumos para melhores colheitas.
Cláudio Sinoti escreveu uma bela canção que nos motiva a fazer a parte que nos toca. O título da música é Vem Pazear, segue um trecho dela:
Não podemos mais seguir esses caminhos
Que só trazem sofrimento e aflição
Já é hora de buscarmos novas trilhas
Uma estrada que nos leve ao coração
Cada um tem que fazer a sua parte (...). (4)
Os benfeitores espirituais nos assistem, intuem e encorajam nos desafios da caminhada terrena, fazendo com amor a parte deles. Nossa parte consiste no esforço e no trabalho diário para alcançarmos a graça solicitada.
No Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVII – Pedi e obtereis, item 22 Maneira de orar, o Espírito V. Monod. (- Bordeaux, 1862), nos alerta que o dever de toda a criatura humana quando acorda, em cada dia, é orar, nos sugerindo como deve ser nossa prece:
(...)A vossa prece deve encerrar o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. (...)” (5)
Sigamos, pois, estudando a Doutrina Espírita, refletindo sobre nossas escolhas, trabalhando no bem e, que as nossas rogativas sejam eivadas de esforços no cumprimento da Lei de Deus. Desta forma ser-nos-á possível remover as nossas montanhas.
O benfeitor Emmanuel nos sugere, no diálogo a seguir, atitudes para remover as montanhas do presente e evitar que encontremos montanhas no futuro.
“O discípulo apresentou-se ao orientador cristão e indagou:
— Instrutor, em sua opinião, qual é a lei que englobaria, em si todas as Leis de Deus?
O interpelado respondeu:
— A Lei do Bem.
— Entretanto — acrescentou o aprendiz — quem diz “lei” refere-se a clima de ação que todos devemos observar.
— Isto mesmo.
— Nesse caso, onde ficaria o livre-arbítrio?
O orientador meditou alguns momentos e considerou:— O livre-arbítrio é concedido a todas as criaturas conscientes, porquanto, “a cada Espírito será dado o que lhe cabe receber, conforme as próprias obras.” O Criador, porém, não é autor de violência. Por isso, até mesmo ante a Lei do Bem, a pessoa humana dispõe de três opções distintas. Poderemos segui-la, parar na senda evolutiva, de modo a não segui-la, ou afastarmo-nos dela pelos despenhadeiros do mal.
— Instrutor amigo, esclareça, por obséquio, a que resultados nos levam as três escolhas referidas?
O mentor aclarou, com serenidade:
— Os que observam a Lei do Bem se encaminham para as Esferas Superiores; os que preferem descansar em caminho, por vezes se demoram muito tempo na inércia, retomando a marcha com muitas dificuldades para a readaptação às tarefas da jornada; e os que se distanciam voluntariamente, nos resvaladouros do desequilíbrio, muitas vezes, gastam séculos, presos nos princípios de causa e efeito, até que, um dia, deliberem aceitar a própria renovação…
Compreendeu?
O aprendiz fez leve movimento afirmativo e começou a pensar.” (6)
Referências:
1. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o Espiritismo edição. Tradução de Guillon Ribeiro. 131 ed. Imp. Brasília, DF: FEB, 10/2015.
2. _______. A Gênese. Tradução de Guillon Ribeiro. 53 ed. Brasília. DF:FEB, 2019.
3.XAVIER, F. C. Rumo Certo. Cap. 5. Pelo Espírito Emmanuel. 1ª. ed. Brasília: FEB, 1971.
4. https://www.youtube.com/watch?v=NRzPHtbUZqw - Estreou em 25 de out. de 2020 Letra de Cláudio Sinoti, na interpretação de Nando Cordel e Glauco Andrade, com arranjos de Eugênio Cerqueira. Produção de vídeo: Joseval Carneiro Jr.
5. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 131 ed. Imp. Brasília, DF: FEB, 10/2015.
6. XAVIER, F. C. O Essencial. Cap 13. Pelo Espírito Emmanuel. 1ª. ed. Brasília: FEB, 1986.
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