top of page

O Espiritismo segundo Allan Kardec



João Paulo Bittencourt Cardozo

Vice-presidente da UME Carazinho e trabalhador da CE Joanna de Ângelis, de Sarandi



Referindo-se à Revista Espírita, no texto que abre o Ano I, Nº 1, de Janeiro de 1858, portanto há exatos 166 anos, Allan Kardec declara que “Não se pode contestar a utilidade de um órgão especial, que ponha o público a par do progresso desta nova Ciência e o previna contra os excessos da credulidade, bem como do cepticismo”(1). Num momento histórico em que o Espiritismo encontra-se sob novas formas de pressão, numa sociedade tecnológica regida pelas redes sociais, mais do que nunca é hora de nos voltarmos ao Codificador, resgatando a sua forma de pensar e compreender esta Ciência, retornando à base como modo de, com firmeza, caminhar para o futuro.

A frase transcrita menciona os excessos da credulidade como algo a ser prevenido pela publicação da Revista Espírita, e talvez nisso resida o desafio enfrentado pelo Espiritismo nos momentos atuais.

Como numa espécie de vertigem, os últimos cinco ou seis anos revelaram um fenômeno inédito, que foi o da penetração do extremismo político-ideológico entre espíritas. Uns carreados pela vertente que chegara ao poder, outros se deixando levar pelo extremo oposto, como uma espécie de reação, o que se viu foram inúmeros espíritas encarando companheiros de crença qual seres que perderam a condição humana, verdadeiramente desprezíveis, inimigos a serem eliminados. Nesse contexto, no ambiente frio das redes sociais, em que não raro primeiro se publica e depois se pensa, multiplicaram-se manifestações de espíritas contra espíritas eivadas de agressividade e descortesia.

Sandra Borba, em interessante depoimento, ainda no auge da pandemia, em episódio da bela série online “Letras que Apontam Estrelas”(2), baseada em sua vivência de mais de meio século ligada ao Espiritismo, disse que as paixões ideológicas vinham obtendo proezas terríveis entre os espíritas, provocando divisões, nunca tendo visto em toda a sua vida algo como o que vinha ocorrendo nos últimos três anos, nem em momentos sociais tensos do Brasil.

Allan Kardec, em seu belo texto inaugural dos doze anos que se seguiriam de publicação da Revista Espírita, destacou que ela objetivaria “(...) oferecer um meio de comunicação a todos quantos se interessem por estas questões, ligando, através de um laço comum, os que compreendem a Doutrina Espírita sob o seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade evangélica para com todos” (op. cit.). Essa síntese do que deve ser a comunicação espírita não deixa margem a dúvidas do quão questionável é a postura de quem, envergando essa condição, obra com violência e descortesia, seja contra companheiros de crença, seja contra qualquer ser humano.

Sendo uma nota comum, no ambiente de radicalização, endeusar líderes (tanto quanto anatematizar os oponentes), resta clara a atualidade da Revista Espírita em seu objetivo de prevenir os excessos da credulidade, o que se faz mediante a necessidade de se pensar com a própria cabeça, da análise racional de todos os fatos e circunstâncias, de que Kardec nunca abriu mão. Até porque muitos espíritas foram tragados pela radicalização por terem posto em segundo plano o direito/dever inalienável de refletir por si, delegando a terceiros pensar em seu nome, sejam eles líderes políticos, sejam mesmo líderes espíritas, postos em pedestais acima de sua condição humana, falíveis como também o são.

Como destaca Kardec em seu texto, “O exame raciocinado dos fatos e das consequências que deles decorrem é, pois, um complemento sem o qual nossa publicação seria de medíocre utilidade, não oferecendo senão um interesse muito secundário para quem quer que reflita e queira inteirar-se daquilo que vê” (op. cit.).

Em momentos de crise, é preciso retornar à base, àquilo que temos em comum, à nossa nota distintiva, que nos faz ser quem somos e nos torna irmãos com o dever intransferível de nos apoiarmos mutuamente. E nada mais adequado para isso do que nos voltarmos ao Codificador, mergulhar em seus textos e, dessa forma, auscultar o seu espírito, deixando um pouco de lado a vasta literatura derivada (grande parte dela superficial e romantizada), e voltar ao que é essencial. E a Revista Espírita, que é o material mais adequado para isto, por expressar a evolução do pensamento kardequiano ao longo de doze anos do trabalho de Codificação, é uma ilustre desconhecida da maior parte dos espíritas. Precisa deixar de ser.

Se somente o texto introdutório possibilita tanta reflexão sobre os desafios contemporâneos, quanto não se alcançará com o estudo de todo o material?

A proposta, portanto, é retornar à base do edifício, à sua fortaleza, para com isso reparar as rachaduras nas paredes. É conhecer o Espiritismo segundo Allan Kardec.



Referências:

1 Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos: Ano primeiro – 1858/publicada sob a direção de Allan Kardec; [tradução de Evandro Noleto Bezerra; (poesias traduzidas por Inaldo Lacerda Lima)]. – 4. Ed. – Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2005, p. 21-28.


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square

Fergs, um século de luz.

Correspondências:

Caixa Postal 4715

Floresta - Porto Alegre, RS

CEP 90220-975

Redes

Ativo 7.png
Ativo 4.png
Twitter-X-White-Logo-PNG.png

Travessa Azevedo, 88 - Bairro Floresta - Porto Alegre, RS Fone: (51) 3224.1493

© 2024 Assessoria de Comunicação da Federação Espírita do Rio Grande do Sul

NÚMERO DE VISITANTES

bottom of page