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O Julius cap. 2 - Nos tempos da Inconfidência I



Finalmente chegara o período das férias!

Nada estava planejado, apenas uma visita familiar em Brasília, para matar a saudade da filha querida.

Isabel e o esposo preparavam-se para ficar uma semana na Capital Federal, quando uma ideia surgiu de repente.

- O que você acha de visitarmos Ouro Preto, meu amor?

- Você quem sabe, por mim tudo bem!

Essa era a resposta que ela esperava ouvir, pois o companheirismo e a afabilidade do marido eram certas.

- Então vamos convidar nossa filha Gilda e vamos conhecer as Gerais!

E lá se foram os três, internarem-se naquele cenário histórico em meio às montanhas íngremes do cerrado mineiro.

Isabel, tão logo pisou na cidade, teve uma crise mediúnica, passando a ver (vidência) personagens do século XVIII, misturando-se na rua aos turistas e habitantes em uma única população. Podia lhes ouvir os diálogos no português arcaico, o que lhe causou profundo encantamento, em especial, a imagem da mucama debruçada na janela de um dos velhos casarões, com sua pela negra como uma porcelana rara, acenando-lhe, efusivamente, e que não mais esqueceu.

Após o passeio pelos pontos mais visitados da antiga Vila Rica, durante a noite na pensão, que reproduzia no mobiliário e nas roupas dos atendentes, camareiras e demais empregados, as características do ciclo do ouro na região, chegou a hora do banho refazedor.

Isabel aproximou-se do espelho para escovar os cabelos molhados, quando sentiu a presença, e o reflexo fugaz, no espelho, mostrou-lhe da imagem de Julius.

De imediato indagou-lhe mentalmente:

- Julius, você não ia reencarnar?

- Vou sim. Mas ainda tenho algo a fazer. Senti a sua vontade de conhecer a minha vida, então sugeri esta viagem, onde posso lhe mostrar parte do meu passado, pelo menos o que me foi permitido saber.

- E por que me sugeriu esta viagem?

Julius foi contando a sua história.

Fora Inconfidente, vivera ali em Vila Rica e tal como no Araguaia, pretendera mudar a situação política, econômica, social da colônia, usando dos conhecimentos que tinha, mas vinculara-se a um Movimento que se implantaria pela força. Vinha de longe o ímpeto revolucionário.

Propôs que ela visitasse a casa onde os inconfidentes se reuniam para as tramas que os levaram à morte, ao degredo, às prisões.

Confiou-lhe o nome que usara na época dos fatos que ali se desenrolaram e passou a acompanhá-la por Ouro Preto. Falou-lhe das origens do romance de Marília e de Dirceu. Referiu-se com muita admiração à figura de Dona Bárbara Heliodora e o seu papel naqueles dias de conjuração, da sua força e do destemor com que enfrentou o processo de condenação e degredo do marido Alvarenga Peixoto. Narrou a decepção por ela experimentada, com a delação, feita por Alvarenga, de alguns companheiros, para poupar a vida e transformar a pena de morte em degredo.

Quando Isabel propôs ao guia turístico a visita à casa das reuniões dos inconfidentes, ele acolheu com surpresa dizendo-lhe que nunca havia recebido dos turistas esse pedido e Informou-a de que a casa estava em reformas e, portanto, não era permitido o acesso.

Isabel teve um sentimento de frustração, mas logo foi acudida por Julius que a estimulou, mesmo assim, ir até o local e que ele faria algo para permitir o acesso. Assim o pequeno grupo demandou ao sítio. Era uma casa simples que, à época da Inconfidência, situava-se em zona rural, mas com o crescimento da cidade ficou incrustada em um bairro periférico, embora ainda guardasse as características de uma chácara urbana.

O grupo parou diante da porteira, o guia bateu palmas e uma mulher simpática veio atender-lhes.

- Bom dia, senhores! A casa está fechada, já há algum tempo. Você não sabia? – falou dirigindo-se ao guia, quase em tom de repreensão.

- Sim, avisei-lhes, mas a senhora insistiu em vir, nem que fosse para ver a casa pelo lado de fora.

Isabel viu que Julius se aproximava da anfitriã, envolvendo-a mentalmente. A caseira chegou mais perto e indagou:

- De onde vocês são?

- De Porto Alegre, do Rio Grande do Sul.

- De tão longe!

Parou, pensou, olhou demoradamente o grupo e decidiu:

- Vou deixar vocês entrar.

O mobiliário da casa estava mantido tal qual o da época dos inconfidentes.

Isabel sentou na sala onde a mesa grande de madeira assinalava o recinto onde aquele pugilo de homens, representantes da sociedade mineira, inconformados com a dominação portuguesa, começaram a se reunir para conspirar contra o regime de impostos e exploração impostos pela Coroa.

A faculdade mediúnica fez com que ela penetrasse no passado, espalmou as mãos sobre a mesa e, momentaneamente, as vozes, os diálogos, bem como o sentimento de aflição e dor daqueles dias passaram a transitar pela percepção extrasensorial da médium. Somente o esposo, que a conhecia muito bem, identificou uma leve alteração do semblante e foi só. O guia falava incessantemente contando a história, daquele lugar e daqueles tempos. Gilda olhava tudo, impressionada, mas Isabel via e ouvia outra história, contada por Julius.

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