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O patriarca se auto destitui




Definições:

 

Significado de Patriarca

(DICIO Dicionário On Line de Português)

 

Chefe de família; aquele que, por ser o mais velho de uma grande família, merece respeito, obediência ou veneração.

Entre os judeus ou entre os mais antigos, homem mais importante de uma família: Abraão, Isaac e Jacó foram patriarcas da nação hebraica.

 

Há uma enorme diferença entre ser pai ou patriarca.

Identificar-se na condição de patriarca implica em se posicionar de uma maneira inamovível, rígida. Neste lugar, o indivíduo dita as ordens e os outros têm que segui-la. É como o tronco de uma árvore: ele não se move. É o próprio centro de gravidade no funcionamento de um grupo circundante. Os demais membros orbitam em torno dele e as tradições e costumes passam por ele, que encarna a figura de um legislador, e dita as regras. De alguma maneira, os grupos tranquilizam-se quando alguém desse tipo está presente, porque somente é necessário obedecer aos preceitos que já estão fixados e que, por sua vez, ao serem seguidos, imprimem um efeito tranquilizador em quem os segue por terem a sensação de que estão fazendo o correto.

No velho testamento, Abraão é a figura do grande patriarca bíblico, junto com Isaac e Jacó.

Moisés, outro patriarca, dá origem a uma estrutura religiosa que se mantém atrelada à manutenção de práticas, de comportamentos, considerados aqueles aprovados por Deus.

Na Parábola do Filho Pródigo, havia um patriarca até o momento em que o filho mais novo resolve desafiar a tradição e sair em busca dos próprios destinos, obrigando, ou forçando, o pai a se auto destituir da condição de patriarca. Na condição de patriarca, ele jamais poderia entregar a herança em vida quando, como já vimos, isso implicaria em estabelecer poder ao filho, de determinar a cultura de filiação. Também, contrariando a tradição e as normas estabelecidas pela cultura judaica, um patriarca que assim o fizesse ficaria fragilizado e desacreditado.

Quando Jesus oferece a parábola ele já sabe que está quebrando um conceito até ali estabelecido como o único possível de ser seguido. O pai do filho pródigo será alguém que a partir de agora terá atitudes absolutamente inesperadas e aparentemente frágeis frente à tradição.

No primeiro momento, em que concede a herança aos filhos, ele parece mostrar-se como uma autoridade enfraquecida, permissiva, que se dobra às exigências de quem deveria estar de joelhos perante ele numa atitude de submissão.

Mas, a grande ruptura se dá em um momento posterior, quando o filho retorna pedindo auxílio e acolhimento. Desfaz-se ali qualquer vestígio da figura do patriarca.

Encontramos na parábola um pai que ao ver o filho de longe na estrada, chegando aos farrapos, em busca de socorro paterno; Ele corre e o abraça e o beija.

Aí não temos mais um patriarca, e sim um pai, um ser humano com sentimentos, capaz de ser movido pelo coração.

Jesus propõe que nesse momento a autoridade do pai aumenta muito e ganha dimensões nunca imaginadas.

É o instante em que na história o patriarca se auto destitui de tal função e escolhe tornar-se “apenas” um pai. Apenas entre aspas, obviamente, porque a força de autoridade de um pai verdadeiramente justo e bom aproxima-se enormemente do conceito de um criador ao qual Jesus empresta de modo inaugural essa virtude até então impensada.

Podemos verificar essa condição em várias circunstâncias do relacionamento familiar, atualmente, sobretudo na relação entre pais e filhos. Temos, frequentemente, relações do tipo patriarcal dentro da família onde uma autoridade constituída dita as normas e espera que os filhos obedeçam. Nesse regime, temos o contexto da submissão e encontramos adolescentes esmagados pela determinação consciente ou inconsciente de pais que ditam e determinam como deve ser o comportamento e as escolhas para o futuro dos seus filhos. O resultado disso, todos sabemos, são os graves conflitos familiares que fazem parte da rotina dos grandes dramas vigentes, ainda hoje, no nosso mundo. Os exemplos são intermináveis, mas poderíamos citar alguns como a escolha profissional. Encontramos ainda em nossos dias a influência direta ou disfarçada dos pais na preferência de qual profissão os filhos devem ou não seguir.

Também, de modo semelhante, nas escolhas afetivas quando os pais interferem nos relacionamentos amorosos dos filhos, estabelecendo juízos apressados em relação aos parceiros(as) a que eles possam, livremente, se vincular.

 Mais grave ainda, percebemos arbítrios condenatórios em relação às inclinações sexuais dos seus filhos, como se pudessem determinar por simples ato da vontade por qual sexo devem ter atração. Desconhecem que, em imenso número de casos, essa situação não é produto de escolhas, mas de forças poderosas que estão inscritas na estrutura psicossexual de muitas crianças e adolescentes, como é o caso dos imperativos de gênero em circunstâncias onde a criança já mostra desde cedo uma inclinação sexual distante do sexo identitário esperado. Frequentemente, estruturas patriarcais sucumbem diante desse imperativo, porém não antes de estabelecerem ditames culposos que engendram danos irreparáveis às matrizes de autoestima daquele menino que tem atração por um outro menino, ou daquela menina que, do mesmo modo, se sente atraída por outra menina. Sabemos que o assunto é complexo e que nem toda atração homoafetiva é produto de uma expressão já constituída no mundo íntimo desde o início do seu desenvolvimento, também precisamos pensar nas influências socioculturais que são forças poderosas a influenciar, de forma muito precoce, condicionamentos e que são motivos de preocupação e reflexão. No entanto, não são poucos os rapazes e moças que, para poderem ter a liberdade de vivenciar sua própria sexualidade, precisam pagar um pesado tributo para atender às estruturas patriarcais, de pais que se sentem destruídos, desrespeitados, como se a vida dos seus filhos fosse suas.

O pai do filho pródigo não é apenas receptivo às experiências que o filho trouxe a partir das próprias escolhas, mas também festeja esta condição de que o filho que retorna está modificado autenticamente por ter experimentado, a partir das próprias vivências, uma jornada de crescimento.

No momento que o filho chega, o pai não questiona, não oferece nenhuma atitude de confronto humilhante. Ele poderia ter dito ao filho:

- Eu não te falei, filho ingrato! Agora vem e fica quieto fazendo apenas o que eu digo para que algo de pior não te aconteça, diante das tuas decisões insensatas!

Não foi isso o que ele fez. Mas, ao contrário, o filho recebe o manto da proteção paterna e o anel da aliança, mostrando que o pai também está numa posição que pode aprender com o filho, que merece respeito e consideração, sobretudo porque chega necessitado de amor e não de reprimendas.

E, nos grupos em que estamos inseridos, ficamos a perguntar a maneira como nos relacionamos com os demais. Será mais parecida com a de um pai que abraça o filho ou imitamos o patriarca e esperamos que todos nos obedeçam e aceitem nossas determinações?

Pensamos em lideranças de grupos de trabalho que se formam baseados em um compromisso de crescimento mútuo ou numa ordem rígida de submissões, à moda antiga que já não cabe mais nos dias de hoje?

Já temos cerca de dois mil anos do modelo proposto por Jesus para os relacionamentos, e muito ainda para aprender pelos caminhos de Sua sabedoria.

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