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O problema do personalismo




Vinícius Lima Lousada[1]

O nosso Divino Amigo Jesus, em tempo oportuno, nos apresentou três comandos necessário aos tempos de vigilância em que estamos a viver: “Olhai! Vigiai! {Orai!} Pois não sabeis quando será o tempo.”[2] Três verbos, três recomendações: olhar, vigiar e orar.


Olhar nos remete a necessidade de educarmos o nosso olhar para estarmos atentos, para desenvolver a plena atenção aos conteúdos externos à nossa individualidade, tanto quanto, aos internos.


Vigiar já é um convite ao aprofundamento do rigor no olhar e também ao zelo, ao cuidado, para a edificação em nós de um estado de consciência que nos faz cada vez mais conscientes ao momento presente, sem sermos atemorizados ou dragados pelos temporais da vida, vindo a desenvolver uma certa diligência.


O primeiro é o exercício da plena atenção, o segundo estado é o da plena atenção em si, como aprendizagem adquirida na educação do olhar, na contemplação atenta. E, a terceira recomendação de Jesus é a oração.


O Espiritismo faz da oração, ao retomar o pensamento luminoso de Jesus, não mais uma prática religiosa mecânica, mas uma vivência espiritual de real transcendência, alicerçada nos conhecimentos da Ciência Espírita, revelados pelos Imortais, acerca dos fluidos, do pensamento, da ação da Providência Divina e dos Bons Espíritos em nossas vidas.


Na prece, ensina-nos o ínclito codificador, “(...) aquele que ora com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia Espíritos bons para o assistir. É um socorro que jamais lhe é recusado, quando pedido com sinceridade.”[3] Portanto, é importante orar inclusive em nosso processo de transformação moral, pois na prece recolhemos a assistência dos Espíritos e potencializamos nossas forças pessoas para não nos deixarmos conduzir pelos nossos impulsos inferiores que ainda vigoram na natureza moral imperfeita que vigora em nós, por hora.


Vivemos, assim, nesses dias de transição planetária, um tempo que nos pede vigilância, para darmos azo a um florescimento consciente de nossas virtudes, superarmos condicionamentos inferiores, a nossa sombra interna, e contribuirmos - desde nós mesmos - à regeneração da humanidade. É um tempo que nos pede lucidez, sendo muito pertinente, como sempre, a recomendação de Jesus: Olhai, vigiai e orai.


Um dos desafios que se apresentam em vários setores da vida de relação, diz respeito a um inimigo comum que faz ruir as mais belas realizações e o trabalho em equipe: o personalismo. Ele é uma fragilidade de caráter ainda presente em nossa condição evolutiva de Espíritos imperfeitos, cuja natureza moral, como anotou Kardec, mantém a “Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que lhes são consequentes.”[4]


O personalismo é um subproduto do orgulho, essa exaltação da personalidade que é filha do egoísmo. Ele pode ser caracterizado como uma conduta egocêntrica, cujo indivíduo toma a si mesmo como ponto referencial para os outros, para as deliberações, ações e resultados que busca, em toda e qualquer situação atrelado aos ditames do ego doentio. No campo das ações coletivas, sejam quais sejam, diz respeito à ânsia por supremacia dos interesses pessoais ou até de um grupo de indivíduos acima dos interesses coletivos, que eticamente são determinados pelo bem comum.


Dessa forma, é bom lembrar, como anotou o mestre lionês, ser o interesse pessoal o sinal mais evidenciado da imperfeição moral. Imperfeição esta que, tendo em vista o nosso progresso individual e o objetivo da reencarnação, deve ser combatida no bom combate da educação de nossos sentimentos, sobretudo, para que não maculemos a edificação do Reino na Terra com a nossa tíbia resistência aos maus pendores outrora cultivados.


O personalista é um orgulhoso que erige, pelos meios possíveis, um culto a si próprio através da celebração exagerada do eu através do destaque à sua imagem pessoal, falas, ações, gostos particulares, realizações e participações. Ele coloca os seus interesses de projeção pessoal e de gozo particular imediato acima das alegrias e resultados perenes oriundos do trabalho em coletividade, produzido pelo bem de todos. Não raro, o personalista também manifesta ingratidão enraizada em sua soberba.


Portanto, o personalismo é esse traço do interesse pessoal, enquanto imperfeição, que evidencia a inferioridade de quem o nutre na alma, adentrando aos descaminhos do comportamento neurótico do homem indispensável[5], com tristes desdobramentos espirituais para si e para a seara em que atua a criatura.


As ações personalistas, quando não cessadas ou corrigidas, tendem a fazer ruir as realizações pois retiram delas o selo da mais meritória das virtudes, a caridade, sustentáculo ético de nossas edificações coletivas no movimento espírita para que tudo ocorra de acordo com o valor da fraternidade, dentro das Leis Divinas.


E, nesse sentido, parece-nos justo recordar o benfeitor Emmanuel, quando nos diz que: “Fraternidade pode traduzir-se por cooperação sincera e legítima, em todos os trabalhos da vida, e, em toda cooperação verdadeira, o personalismo não pode subsistir, salientando-se que quem coopera cede sempre alguma coisa de si mesmo, dando o testemunho de abnegação, sem a qual a fraternidade não se manifestaria no mundo, de modo algum.” (questão 350)[6]


Onde impera o personalismo não há fraternidade e, é bom sabermos, onde não há fraternidade, não temos Cristianismo Redivivo! Agindo assim, perturbaremos a marcha do despertar da criatura humana para a expressão mais pura da Lei de Deus que é a Boa Nova.


O Evangelho pede colaboração com renúncia, desapego da própria personalidade no serviço que nos compete, humildade sempre. É preciso banir o cisto moral do personalismo de nossa natureza, e, com esse propósito, estejamos atentos, pois, como bem alertou a médium Yvonne do Amaral Pereira, fiel estudiosa dos postulados kardequianos: “o personalismo, se se infiltrar na Doutrina Espírita, acarretará a sua corrupção, como sucedeu ao próprio Cristianismo. (...)”[7]


O personalismo é um reflexo de nossa indigência espiritual. A abnegação traduz, na sua melhor acepção, o termo inteligência espiritual. A inteligência espiritual é a inteligência da alma. É a inteligência com a qual nos curamos e com a qual nos tornamos seres verdadeiramente íntegros. (...)”[8]


É preciso, então, olhar o personalismo que ainda habita em nós. Vigiá-lo sem trégua e orarmos, buscando a assistência dos bons Espíritos, a fim de que nossos interesses comezinho, no setor de realizações que a vida nos situou, não obstem as nobres realizações em prol do bem comum.

ESTUDANDO KARDEC:

À exceção dos defeitos e vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal mais característico da imperfeição? “O interesse pessoal. Muitas vezes as qualidades morais se assemelham, como num objeto de cobre, à douração que não resiste à pedra de toque. Um homem pode possuir qualidades reais que levem o mundo a considerá-lo homem de bem, mas essas qualidades, embora assinalem um progresso, nem sempre suportam certas provas, bastando algumas vezes que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa tão rara na Terra que é admirado como fenômeno quando se manifesta. O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais o homem se aferra aos bens deste mundo, tanto menos compreende o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um ponto de vista mais elevado.”[9]

Referências:

[1] Educador, Diretor da Área de Formação de Lideranças - FERGS. [2] Marcos 13:33 (Novo Testamento. Trad. Haroldo Dutra Dias. FEB. Edição do Kindle.) [3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB - Edicei of America. Edição do Kindle. (Locais do Kindle 13974-13976 [4] KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. trad. Bezerra, Evandro Noleto. FEB - Edicei of America. Edição do Kindle. (Locais do Kindle 9974-9975). [5] FRANCO, Divaldo. O homem integral. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1990, p. 70-73. [6] XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. FEB. Edição do Kindle. (Locais do Kindle 7706-7708). [7] PEREIRA, Yvonne do Amaral. Devassando o invisível. 3.ª. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2010, p. 7. [8] Zohar, Danah; Marshall, Ian. QS: Inteligência espiritual . Edições Viva Livros. Edição do Kindle. (Locais do Kindle 222-223). [9] KARDEC, ALLAN. O Livro dos Espíritos. trad. Bezerra, Evandro Noleto. FEB - Edicei of America. Edição do Kindle. (Locais do Kindle 15527-15534), questão 895.

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