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O processo de desobsessão



por Jeferson Quadros

 

A obsessão de desencarnados para encarnados constitui-se, desde há muitos séculos, em verdadeira epidemia, na qual os envolvidos digladiam em cobranças e perseguições oriundas, invariavelmente, de questões de cunho moral. Apresentando consequências que variam desde a “simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais”1, a obsessão não é percebida, nem reconhecida, pela grande maioria das pessoas. Sendo assim, é natural que elas não compreendam a interferência dos Espíritos no plano material, assim como seus efeitos na vida dos indivíduos. Esse fato facilita a ocorrência dos episódios obsessivos, prova disso é que não há quem não conheça relatos de pessoas que enfrentaram obsessões ou, até mesmo, possua sua própria experiência.

Conhecendo essa realidade, é natural que a obsessão seja motivo de preocupação e a busca de meios para tratá-la e também evitá-la, é uma necessidade. Nesse quesito a Doutrina Espírita nos prescreve diversos recursos terapêuticos para a superação e prevenção dos processos obsessivos.

O primeiro recurso passa por entender que num processo de obsessão não há injustiçados nem vítimas. Esse recurso pode ser chamado de consciência de responsabilidade. Há, em verdade, perseguidor e perseguido, mas a Justiça Divina permite que o reencontro aconteça para que ambos, encarnado e desencarnado, possam experienciar situações que lhes permitam dissolver a animosidade que alimentam entre si. Sobre isso, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda afirma que:


A etiologia das obsessões é complexa e profunda, pois que se origina nos processos morais lamentáveis, em que ambos os comparsas da aflição dementante se deixaram consumir pelas vibrações degenerescentes da criminalidade (...) Sendo o obsidiado um calceta, um devedor, é imprescindível que se disponha ao labor operoso pelo resgate perante a Consciência Universal, (...) é imperioso que a renovação íntima com sincero devotamento ao bem lhe confira os títulos do amor e do trabalho, de forma a atestar a sua real modificação em relação à conduta passada, ensejando ao acompanhante desencarnado, igualmente, a própria iluminação.2


demonstrando que o obsidiado, ou seja, aquele que sofre a obsessão, é um devedor do então obsessor. Esse fato muda tudo pois, de vítima, o enfermo espiritual reencarnado sabe que desempenha o papel de ofensor e que deve se esforçar pela reparação do erro cometido.

Outro ponto importante a ser lembrado é que, invariavelmente, a obsessão, é decorrente do uso do livre arbítrio. No livro A ponte: diálogos com Chico Xavier, o organizador, Fernando Worm descreve relato de Chico:


Emmanuel esclarece-nos sempre que a obsessão é uma ocorrência compartilhada. A vontade é uma alavanca de alto poder e não pode ser totalmente manejada, em nós, por outrem, seja por algum amigo encarnado ou desencarnado, sem o nosso consentimento.3

 

O próximo recurso terapêutico contra a obsessão é a transformação íntima.

Esse é o recurso mais importante, pois o Espírito que se sente prejudicado procura seu algoz reencarnado, convicto de que encontrará a mesma pessoa que o prejudicou. O reencontro acontece em função da sintonia psíquica decorrente da hostilidade que caracteriza a relação de ambos. Ao se deparar com o opositor, o futuro obsessor encontra, quase sempre, a mesma criatura, que apesar de apresentar aparência física diferente, mantém as mesmas atitudes e alimenta os mesmos vícios do passado, praticados de forma distinta, é verdade, visto que as práticas e condutas sociais do presente não são as mesmas do pretérito. É importante ressaltar que a manutenção da identidade moral estimula as intenções vingativas do enfermo desencarnado. E é essa situação que a transformação íntima visa evitar.

Mudar o modo de ser não é uma tarefa fácil, pois cada indivíduo traz consigo bagagens morais adquiridas no passado, em diversas reencarnações, que o acompanham a longo tempo e, por estarem enraizadas no imo do ser, são de difícil libertação. Ciente desta realidade, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda assevera que:


“em razão das heranças ancestrais negativas e das múltiplas vinculações com o vício, cujos resíduos permanecem por longo período impregnando o perispírito, nem sempre o candidato à edificação de si mesmo consegue o objetivo a que se propõe. Para que isso aconteça, torna-se imprescindível todo o empenho e sacrifício pessoal, renunciando às fortes tendências perturbadoras, a fim de realizar a transformação moral imprescindível à felicidade.” 4


A luta contra as más tendências e vícios viabiliza que os indivíduos, lenta e gradativamente, promovam importantes mudanças morais em si mesmos. Só assim será possível demonstrar ao Espírito obsessor que o verdugo do passado não existe mais. Esse é um trabalho de longo prazo e muita persistência, pois os litígios, muitas vezes seculares, não se resolverão de pronto, mas com empenho e paciência é possível demonstrar a renovação moral e mudança de hábitos que estão em curso.

O próximo recurso para a terapia desobsessiva é a prática do bem. A Doutrina Espírita nos esclarece que vivemos rodeados de Espíritos, que são atraídos pela lei de afinidade. Boas atitudes atraem bons Espíritos e práticas negativas, naturalmente atraem Espíritos de má índole. Constatando a realidade dessa afirmação e correlacionando-a com as comprovações que a experiência lhe proporcionou no estudo da obsessão, Allan Kardec assevera que “O melhor meio de expulsar os maus Espíritos consiste em atrair os bons.”5 A companhia dos bons Espíritos é uma conquista alcançada por meio de esforços reiterados na prática do bem, da caridade e do perdão, na luta contra os vícios e as más tendências e na aquisição de virtudes.

Outro recurso para promover a desobsessão é a oração. Ao orar, o padrão vibratório  do pedinte se eleva, promovendo a dissolução da ligação mental perpetrada pelo Espírito obsessor, envolvendo-o, também, em vibrações benfazejas que repercutem de forma positiva na mente e no corpo espiritual. Explicando os efeitos benéficos da oração como terapia anti-obsessiva, Manoel Philomeno de Miranda afirma que “Gerando vibrações de alto teor, a oração modifica a paisagem psicofísica , não somente de quem padece a alienação obsessiva, quanto do agente causador, a longo prazo, despertando-os para realidades novas (...).”4 Nem sempre a oração terá efeito desobsessivo imediato, pois, em muitos casos, a ligação existente entre o obsessor e o obsidiado é muito intensa. Em circunstâncias assim, é preciso longo período de assistência até que os efeitos positivos possam ser notados. Por isso, é importante tornar a oração um hábito.

O costume de realizar os encontros do Evangelho no lar semanalmente é mais um importante recurso terapêutico contra a obsessão. O Evangelho no lar é amplamente recomendado pelos Centros Espíritas em função dos inúmeros benefícios que traz. Quando é programada a realização do Evangelho no lar, uma equipe de Espíritos é designada para visitar a residência no momento do encontro, levando auxílio para encarnados e desencarnados presentes no ambiente do lar, promovendo efeitos positivos na prevenção da obsessão e no tratamento desobsessivo.

Lembrando dos conceitos evangélicos trazidos em cada reunião no lar, tem-se aí oportunidade ímpar de contato mais íntimo e sensível com os ensinamentos que Jesus ministrou à humanidade, que poderão ser mais facilmente compreendidos pelos encarnados e desencarnados, após as reflexões e diálogos atinentes à leitura do dia, fomentados pelo apoio da equipe espiritual presente.

O hábito da leitura de obras espíritas é uma atitude com efeito desobsessivo e, por isso, é também mais um recurso terapêutico anti-obsessivo. Durante a leitura, o pensamento vibra em sintonia com os conceitos descritos na obra, concomitantemente atraindo companhias espirituais que se afinizam com a vibração de pensamento que, naquele momento, está sendo emitida. A leitura de obras edificantes promove a aquisição de conhecimentos que ajudarão no processo de transformação íntima citado anteriormente, para ambos os litigantes.

Por fim, os recursos terapêuticos oferecidos pelas Casas Espíritas, que são classificados em duas categorias: a primeira, com os recursos de caráter público, que são o atendimento fraterno, o passe, a exposição doutrinária à luz da Doutrina Espírita, a água magnetizada e os estudos do Espiritismo, da mediunidade e das obras básicas da codificação, que são ofertadas para o público em geral; a segunda, com o recurso de caráter privativo, que é a reunião mediúnica, da qual os encarnados envolvidos não devem fazer parte, por motivos óbvios, visto que são opositores sendo defrontados, e o objetivo desse atendimento é promover auxílio e não embates. Em todos esses recursos terapêuticos que os Centros Espíritas oferecem, o encarnado e o desencarnado receberão amparo para facilitar o processo de desvinculação entre si, processo esse iniciado com a aplicação e prática dos recursos terapêuticos descritos anteriormente.

Assim, após a descrição dos recursos terapêuticos desobsessivos, fica claro que a desobsessão, em si mesma, inicia-se no íntimo dos indivíduos. O curso ideal das terapias de tratamento e prevenção da obsessão terá início no imo do ser, passando por seus comportamentos, pensamentos e ações, para, depois, buscar auxílio externo. Se não for assim, os pacientes encarnados repetidamente buscarão auxílio sem alcançar os resultados esperados. Os perseguidores desencarnados serão acolhidos e atendidos, mas o paciente encarnado, em consequência da falta de comprometimento com a parte que lhe cumpre na terapia desobsessiva, continuará atraindo a si perseguidores pertinazes que não o deixarão em paz. O sucesso dos tratamentos desobsessivos depende de cada criatura. Não basta esperar que os bons Espíritos façam “milagres”, é preciso cumprir com a responsabilidade que cabe a cada um e, intimamente, colaborar para que a desobsessão ocorra como fruto dos esforços reiterados na transformação moral e na aquisição de bons hábitos.

 

Referências:

1 KARDEC, Allan. O livro dos médiuns, tradução de Guillon Ribeiro. 81ª edição, 8ª reimpressão. Brasília-DF: FEB Editora, 2019.

2 FRANCO, Divaldo. Nos bastidores da obsessão, ditado pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 11ª edição. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2005.

3 XAVIER, Francisco C.; WORM, Fernando. A ponte: diálogos com Chico Xavier. 1ª edição. Porto Alegre: Editora Francisco Spinelli, 2016

4 FRANCO, Divaldo. A obsessão e o movimento Espírita. 1ª edição, 4ª reimpressão. Santo André: EBM Editora, 2017.

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