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Orientação e mobilidade de pessoa com deficiência visual




Sonia Hoffmann

  

A deficiência visual também pode ser considerada como um espectro, pois apresenta uma diversidade de condições desde a cegueira total até 30% de visão. A causa e a natureza orgânicas são considerações importantes, sem atribuição de julgamento quanto a sua origem espiritual porque a interação com o ser humano precisa vir na perspectiva da fraternidade e da relação empática associada à compaixão.

Com esta variação, é preciso discernir quando, como e por qual motivo os modos de condução e de orientação da pessoa acontecem ou devem ser realizadas, pois a compreensão das demandas e das expectativas de uma ou outra possibilidade consistem em fatores facilitadores, constrangedores ou conflitantes dependendo da ocasião e da maneira pela qual quem pretende auxiliar faz sua intervenção. É preciso ter muito cuidado para não acontecer uma invasão de privacidade ou, então, demonstrar que a pessoa com deficiência visual seja incapaz de realizar uma determinada atividade por seus próprios meios e utilizar os recursos sensoriais remanescentes de forma produtiva.

Por tal razão, o questionamento ou o diálogo são fundamentais para saber exatamente quando, quanto e como alguém vê ou não vê, quando e como alguém está habilitado para realizar seus movimentos com autonomia. A programação destas ajudas, quando algum obstáculo ou atividade não for inesperado ou súbito, deve sempre incluir a participação da própria pessoa para que ela se sinta participante do processo de organização, para que ela mesma venha a externalizar os seus anseios e opiniões, para que ela consolide em si o entendimento de ser responsável pelo seu estilo e ritmo de vida.

As vivências e os estímulos recebidos podem modificar para mais ou para menos o desenvolvimento daquele com deficiência visual a tal ponto que, muitas vezes, alguém com cegueira total, tendo bom manejo das informações, pode ter melhor desempenho em relação a quem apresenta algum grau de visão, mas que não sabe aproveitar seus recursos visuais devido falta de incentivo ou estimulação. Sendo assim, é aconselhável diversificar as atividades de mobilidade para que a pessoa comece o reconhecimento de suas competências, desenvolva o hábito de solicitar ajuda quando necessário e não por comodismo e também para ela não se tornar resistente ao uso de algum recurso por vergonha de o possuir ou de falhar na sua intenção de movimento independente (como algumas pessoas têm em relação à utilização da bengala).

A cegueira total, ou 0% de visão, não implica necessariamente que alguém esteja vivendo na escuridão porque existe algum grau de luminosidade interna do olho e quando congênita a pessoa não tem parâmetro para avaliar escuro e claro, repetindo somente aquilo dito pelas demais pessoas que desconhecem a fisiologia ocular. Este cuidado é sensato, porque podemos interferir na própria auto estima daquele vivenciando a cegueira total pelos comentários inoportunos. Qualquer resíduo luminoso pode ser preciosa ajuda para seus deslocamentos. Então, é importante colaborar para a aprendizagem daquele com deficiência visual aproveitar de forma útil este resíduo.

Os deslocamentos de quem apresenta deficiência visual, quando segura o braço do seu acompanhante, acontece sempre um passo atrás para haver um tempo de reação suficiente quando o acompanhante para por alguma razão (presença de algum obstáculo, por exemplo). O mesmo acontece quando ambos utilizam uma escadaria(tanto para subida quanto para descida). Se uma escada rolante for utilizada, a pessoa com deficiência visual irá entrar após seu acompanhante, ficando comparte do seu pé para fora do degrau a fim de sentir quando chegou ao término da mesma. É aconselhável sempre indicar o corrimão, colocando a mão da pessoa sobre o mesmo.

Quando alguém com visão oferecer ajuda para o deslocamento de uma pessoa cega, é sempre importante que o contato seja feito com a pergunta se ela precisa deste auxílio. Se a resposta for afirmativa, a pessoa que enxerga deve encostar seu braço no braço dela para que aquele que não enxerga possa reconhecer a altura da pessoa, segurando levemente acima do cotovelo (e não enganchando) ou no ombro para sua orientação. É importante salientar que a orientação pela utilização acima do cotovelo é mais estável do que aquela feita pela mão apoiada no ombro, mas esta escolha é variável conforme a pessoa sente-se mais confortável, tenha o costume ou de acordo com o sexo (alguns homens não se sentem à vontade segurando o braço de outro homem). Quando o deslocamento for com crianças cegas ou com baixa visão, o acompanhante pode oferecer sua mão ou o pulso.

A travessia estreita ou passagem de portas ocorre com aquele que enxerga à frente, colocando seu braço para trás e a pessoa com deficiência visual alinha-se posteriormente. Portanto, é sempre necessário a pessoa que enxerga verificar visualmente a dimensão do espaço e entender que este espaço será para duas pessoas. Estas estratégias de alinhamento posterior devem ser ensinadas para a pessoa cega ou com baixa visão anteriormente em cursos de orientação e mobilidade ou por alguém com (in)formação apropriada.

Combinações, aprendizagens e acordos são sempre produtivos quando feitos com naturalidade, franqueza e diálogo. Para a convivência ser algo agradável e amistosa, é significativa a presença da gentileza, pacificação e segurança (gps). Então, acione este gps e, quando importante e necessário, recalcule rotas em conjunto para barreiras, preconceitos e estigmas serem rompidos.

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