Os jovens suicidas – Parte 1
Entre as causas mais comuns de superexcitação cerebral, devemos contar as decepções, os infortúnios, as afeições contrariadas, que são, ao mesmo tempo, as causas mais frequentes de suicídio.[1]
Aos leitores que acompanham a nossa coluna “Os Espíritos Contaram”:
Os atendimentos espirituais que são feitos com a modesta contribuição da nossa faculdade mediúnica e que trouxeram e trazem lições para a nossa evolução duram por vezes anos, sendo que muitos nos acompanham ao longo dessa encarnação. Alguns deles, os nossos benfeitores amigos, em especial o amado Carlos Barbosa, autoriza-nos a compartilhar através de narrativas, nas quais ele reaviva as minhas lembranças e traz outras informações sobre alguns desses fatos, como aprendizado abençoado para os caminhos que você, leitor, pode estar percorrendo ou vir a trilhar no futuro.
Um destes é a história de Frederika, Valtinho e Nina, que vou descrever à medida que o amigo espiritual for inspirando a descrição.
Era uma tarde fria do inverno gaúcho. Naquela época a Federação Espírita do Rio Grande do Sul ainda tinha sua sede na Rua André da Rocha, 49, no Centro Histórico de Porto Alegre. Trabalhando na salinha da Presidência, como era a sua rotina diária, a médium Isabel experimentou uma melancolia intensa, que lhe apertava o coração e começou a cantarolar baixinho, a bela melodia de João Cabete - Gratidão a Deus. Quando a sombra da tristeza, cobrir teus sonhos de ventura...” De imediato ouvi uma voz juvenil a dizer:
- Cante, cante por favor! Não pare de cantar.
Continuou:
Quando, a sombra da tristeza
Cobrir, seu sonho de ventura,
Quando, você quiser chorar!
Diante, da taça da amargura!
Quando, a dor bater à porta,
Ferindo, bem fundo o coração,
Quando, a esperança é morta,
E a vida, é amarga ilusão!
Olhe para trás, veja quanta dor
Súplicas de paz, clamando amor...
Olhos sempre em trevas, mãos mendigam pão,
Bocas que não falam, e risos sem razão...
Deixe de chorar, / Volte a sorrir,
Você é tão feliz / Volte a cantar!
Faça uma prece, / Seja grato a Deus,
Ele sempre abençoa / Os filhos seus...
Ao final da melodia ela viu-os na tela mental e identificou, de imediato, que se tratava de três jovens suicidas que estavam sendo encaminhados para a sua ambiência espiritual por dona Yvonne Pereira, pois na manhã seguinte transcorreria a reunião mediúnica semanal do Hospital Espírita de Porto Alegre da qual Isabel participa desde o ano de 2007. Orou por eles, confortando também o seu coração que absorvendo as emanações de sofrimento daquelas almas enfermas ressentiu-se profundamente.
As impressões que os Espíritos suicidas vazam no perispírito dos médiuns são vigorosos treinamentos para a disciplina de almas rebeldes e que outrora estagiaram nessa mesma condição. Isabel, às vezes, na véspera das atividades, tem reflexos que vão desde as dores abdominais, enxaquecas, náuseas, insônia e também a tristeza profunda e que após o trabalho mediúnico somem como por encanto, atestando a sua natureza exógena, ou seja, originária de outra mente conectada a sua.
Na manhã seguinte, na reunião mediúnica nossos infortunados jovens começaram a ser tratados.
Frederika contou seu drama. Era uma jovem de família tradicional, de origem alemã, com uma rigidez de princípios e onde o distanciamento entre pais e filhos impedia qualquer diálogo e entendimento mais próximo. Revelou a carência afetiva, pois jamais recebera nem da mãe e menos ainda do pai qualquer afago ou expansão de carinho. No primeiro relacionamento afetivo teve uma gravidez não planejada, o que na família foi tratado como um escândalo. Quase sem poder completar as frases, dada a emoção em descontrole que tentava ser exaurida pela médium no choque anímico, a infeliz menina relatava os castigos físicos que lhes foram impostos, as execrações morais que impiedosamente lhe dirigiram, o desespero e a falta de esperanças, até que, na noite de Natal ela fugiu de casa, dirigiu-se a uma praia e afogou-se no mar para dar fim ao sofrimento, ao menos era o que pensava. As atenuantes para o ato criminoso, que somente o Criador conhece fizeram-na ser resgatada pelas falanges da “Mãe Amorosa”, em reduzido tempo, mas a dor consciencial por ter privado seu filho de uma existência gravou-se de forma intensa e dolorosa, mormente quando teve o conhecimento de que o suicídio não encerra, mas agrava as dores que experimentamos.
Naquele dia, do primeiro socorro na reunião mediúnica, Isabel, em desdobramento, foi atender a mãe de Frederika, pois o corpo da moça nunca foi encontrado e para a família ela foi dada como desaparecida. No entanto, a genitora inflexível e até mesmo cruel com a filha em muitas ocasiões, não o fazia por perversidade, mas em face da educação recebida, das circunstâncias de lugar e dos impositivos da comunidade onde estava inserida foi levada a tais posturas que favoreceram a decisão equivocada. Quando a filha sumiu, ela fez o que a sua religião prescrevia: muitos terços, missas e novenas foram rezadas pedindo pelo retorno de Frederika, em vão, mas de forma sincera.
A mãe, no entanto, sonhava com a filha saindo do mar e pedindo-lhe perdão. Comentava isso com o padre Carlos da Igreja de Nossa Senhora de Perpétuo Socorro, que batizara todos os seus filhos, acompanhando a família em suas práticas religiosas. O bondoso padre a confortou, dizendo que continuasse as preces que Nossa Senhora ouve todas as mães, sempre – E ele tinha razão.
A conversa com a mãe aflita se deu durante algumas noites após o primeiro atendimento feito pelo Grupo Yvonne. Ela nutre a certeza de que a filha está bem, em algum lugar, segura. O que não deixa de ser verdade, pois sob a proteção de Maria todos estamos bem. Suas orações agora se conectam com as de Frederika que depois de muitos anos amainou o remorso e continua a sua reeducação.
Referência: [1] Kardec, Allan. O livro dos espíritos (p. 46). FEB Publisher. Edição do Kindle.
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