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Perspectiva inclusiva e a união de todos ante os flagelos destruidores



Sonia Hoffmann


 

As diversas calamidades que vêm acontecendo no globo terrestre, e mais particularmente os danos vivenciados no Rio Grande do Sul pelas inundações e deslizamentos, conduzem para profunda reflexão sobre os flagelos destruidores.

Conforme os ensinamentos obtidos em O Livro dos Espíritos (Kardec, 2013b) acerca deste tema, Deus permite as destruições com a finalidade de acelerar o progresso da humanidade pela regeneração moral dos Espíritos, o exercício da inteligência do ser, demonstração da sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e a oportunidade de manifestar os sentimentos de abnegação, desinteresse e de amor ao próximo.

Na questão 739 do livro referido, Kardec indaga se os flagelos destruidores têm, do ponto de vista físico, utilidade não obstante os males que ocasionam?

Os Espíritos respondem: "Tem. Muitas vezes mudam as condições de uma região, mas o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam." (p. 338)

Para além das planificações divinas quanto a razão da ocorrência de algumas catástrofes, encontramos no livro A Gênese (Kardec, 2013a) que o ser humano, no globo terrestre, está "ainda em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa das suas maiores comoções. Até que a humanidade se haja avantajado suficientemente em perfeição, pela inteligência e pela observância das Leis Divinas, as maiores perturbações ainda serão causadas pelos homens, mais do que pela natureza, isto é, serão antes morais e sociais do que físicas". (p.163)

Uma pergunta invariavelmente surge quanto às catástrofes causadoras de mortes coletivas e como conciliar tal acontecimento com a ideia de plano e de harmonia universal. Léon Denis (2004) esclarece quanto a esta interrupção, informando terem chegado "ao seu termo previsto. São, em geral, complementares de existências anteriores quando, em consequência de hábitos desregrados, se gastaram os recursos vitais antes da hora marcada pela Natureza, tem-se de voltar a perfazer, numa existência mais curta, o lapso de tempo que a existência precedente devia ter normalmente preenchido. Sucede que os seres humanos, que devem dar esta reparação, se reúnem num ponto pela força do destino, para sofrerem, numa morte trágica, as consequências de atos que têm relação com o passado anterior ao nascimento. Daí, as mortes coletivas, as catástrofes que lançam no mundo um aviso. Aqueles que assim partem, acabaram o tempo que tinham de viver e vão preparar-se para existências melhores" (p.139).

Em tais aparentes infortúnios, tanto pessoas de bem quanto aquelas perversas podem sucumbir, pois o processo de desencarnação ou de sofrimento acontece para todos, independentemente da sua condição moral, de saúde, de enfermidade ou qualquer outra circunstância. Alguém por apresentar deficiência ou alguma outra diferença necessariamente não será poupado de ser alcançado pelos efeitos das calamidades ou mesmo pela morte quando tais eventos acontecerem.

Porém, se toda e qualquer pessoa possa estar envolvida em episódios desastrosos ocasionados natural ou imprudentemente pela ação humana, o mesmo pode acontecer quanto à possibilidade de alguém com deficiência ou outra diferença atuar ativamente no acolhimento, colaboração em atitude fraterna e de união de esforços para auxílio de pessoas vivenciando momentos delicados resultantes de inundações, epidemias ou quaisquer outras calamidades. A vontade, fé, confiança e determinação não são exclusividades de quem, na atual existência física, não apresenta comprometimentos motores, visuais, auditivos ou de alguma ordem econômica, de sexo, gênero, acadêmica. A evolução moral e intelectual acontece para todos em suas possibilidades e capacidades para transpor situações desfavoráveis.

Como refere Léon Denis (2004), "na ordem social como na ordem privada, são os obstáculos sem-número, as necessidades, as epidemias, as catástrofes! Não obstante, em frente das potências cegas que o oprimem e o ameaçam de todos os lados, o homem, ser frágil, ergueu-se. Por único recurso tem apenas a vontade e, com esse único recurso, tem continuado, sem tréguas nem piedade, através dos tempos, a áspera luta; depois, um dia, pela vontade humana, foi vencida, subjugada a formidável potência. O homem quis e a matéria submeteu-se. Ao seu gesto, os elementos inimigos, a água e o fogo, uniram-se rugindo e para ele têm trabalhado. É a lei do esforço, lei suprema, pela qual o ser se afirma, triunfa e desenvolve-se; é a magnífica epopeia da História, a luta exterior que enche o mundo. A luta interior não é menos comovente. De cada vez que renasce, terá o Espírito de ajeitar, de apropriar o novo invólucro material que lhe vai servir de morada e fazer dele um instrumento capaz de traduzir, de exprimir as concepções do seu gênio. Demasiadas vezes, porém, o instrumento resiste e o pensamento, desanimado, retrai-se, impotente para adelgaçar, para levantar o pesado fardo que o sufoca e aniquila. Entretanto, pelo esforço acumulado, pela persistência dos pensamentos e dos desejos, apesar das decepções, das derrotas, através das existências renovadas, a alma consegue desenvolver as suas altas faculdades. Há em nós uma surda aspiração, uma íntima energia misteriosa que nos encaminha para as alturas, que nos faz tender para destinos cada vez mais elevados, que nos impele para o Belo e para o Bem. É a lei do progresso, a evolução eterna, que guia a Humanidade através das idades e aguilhoa cada um de nós, porque a Humanidade são as próprias almas, que, de século em século, voltam para prosseguir, com o auxílio de novos corpos, preparando-se para mundos melhores, em sua obra de aperfeiçoamento. A história de uma alma não difere da história da Humanidade; só a escala difere: a escala das proporções." (p.122-123)

Portanto, ter uma deficiência ou dificuldade não é justificativa para alguém deixar de contribuir na ordem social dentro das suas possibilidades, pois cada um pode ou sente-se em condições de algo realizar, talvez com intensidades ou habilidades diferentes, porém, importantes na evolução da rede social. Abraços acolhedores, pensamentos edificantes, orações fervorosas e ações produtivas... tudo é válido na constituição de conexões inclusivas diante das mais diversas experiências, desafios e aprendizagens oferecidas para o aperfeiçoamento da humanidade. Algo sempre pode ser feito quando alguém tem vontade de participar da epopeia da vida, sendo importante que o preconceito, a superproteção, o descrédito das demais pessoas não sejam a barreira impeditiva da colaboração includente. Nesta situação, uma boa dose de ousadia, de enfrentamento e de coragem pode ser adotada para o devido rompimento com o estigma e aconteça ampliação de horizontes.

  

Referências:

DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor: os testemunhos, os fatos, as leis. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.

KARDEC, Allan. A Gênese. 53. ed. Brasília, DF: FEB, 2013a. Cap. IX – Revoluções do globo. p.163

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 93. ed. Brasília, DF: FEB, 2013b. Cap. VI ­ Da lei de destruição - flagelos destruidores, questões 737-741.


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