Praticar e ensinar
Vinícius Lima Lousada[1]
Quem, portanto, violar um desses mínimos mandamentos e, dessa maneira, ensinar os homens, será chamado mínimo no Reino dos Céus; quem, porém, praticar e ensinar, este será chamado grande no Reino dos Céus. (Mateus 5:17)[2]
O Evangelho é um roteiro de libertação espiritual a ser aplicado a nós mesmos. Cabe ao discípulo do Mestre, em todos os tempos, observar o que cada lição do Rabi diz à iluminação de si mesmo, de modo a se instrumentalizar para romper as amarras que ainda o prendam às próprias imperfeições, no círculo vicioso de experiências malogradas.
Na passagem referida, Jesus se dirige a todos aqueles que, porventura, viessem a desrespeitar algum dos princípios da Lei Divina que revelava no Sermão do Monte e, além disso, ensinasse a seus irmãos a desatendê-los, alertando-os quanto à condição moral de inferioridade na vida futura que alcançariam por sua atitude equivocada.
A passagem remete a autovigilância que devemos ter, na atualidade, não por medo de algum suposto castigo, mas pelo resultado funesto que confrangeria-nos a consciência quando, ao conhecermos a mensagem do Mestre sem aproveitá-la em prol de nossa educação, agíssemos em dissonância com o conteúdo ético-comportamental do código evangélico e, por influência do mau exemplo, desviássemos do caminho renovador outros companheiros de jornada.
Nesse sentido, é bom anotarmos a lição de Emmanuel sobre o capítulo da sugestão (influência) que exercemos uns sobre os outros: “Cada atitude de nossa existência polariza forças naqueles que se nos afinam com o modo de ser, impelindo-os à imitação consciente ou inconsciente.”[3] E, desse modo, conforme a autenticidade com que nos colocamos para a vivência da doutrina que postulamos, melhor ou pior é a impressão que estabelecemos na alma de nossos irmãos a respeito da veracidade dos ensinamentos do Mestre de todos nós e do movimento formado por aqueles que O seguem, no nosso caso, a seara espírita.
O exemplo será sempre a melhor pedagogia. Na falta do bom exemplo ou na presença da atitude que desobedece as Leis de Deus, atrasamos a nossa evolução, lançamos fora oportunidades de cooperar positivamente no progresso espiritual de outros filhos de Deus e podemos desenvolver, em nós mesmos, conteúdo de má referência e até de desvios para outros que, por algum motivo, acolhem a nossa sugestão, ainda que involuntariamente oferecida.
Agora, quem praticar e ensinar o Evangelho se encontrará em condição melhor na vida espiritual, pelo que depreendemos do registro de Mateus aqui posto como epígrafe. Por certo, os verbos não estão postos nesta ordem por mero acaso.
Praticar primeiro, ensinar depois. Como posso ensinar o que não pratico? Como posso dar lições sobre uma técnica a ser empreendida se nunca a apliquei? Ou ainda, como me aventuro a apontar um roteiro seguro de viagem se eu nunca o vivenciei em seus detalhes, a ponto de poder partilhar a experiência com os corações que nela tem interesse? O que parece que devemos nos esforçar por fazer é colocar em prática, em alguma medida, a moral evangélica e compartilhar seus saberes como consequência do aprendizado efetivado, a partir do testemunho existencial, como quem procura se elevar espiritualmente, sem intenção outra senão a de valorizar a presente reencarnação como oficina redentora.
Portanto, ante o exposto nas palavras do Rabi Galileu é justo que nos perguntemos: estamos praticando as lições do Mestre? Ao praticá-las, estamos compartilhando-as fielmente? Ou estamos reforçando o grupo dos que se desviam da senda luminosa, levando outros para o mesmo caminho cheio de tropeços?
Mas porque propor tal reflexão? É que, compartilhando a perspectiva de Irmão X, “(...) Acreditamos que o Espiritismo precisa agora, mais que nunca, dos que edifiquem nas próprias vidas o reino cristão que ensinam aos outros...”[4] E, desta forma, contribuam com a regeneração do gênero humano através da própria transformação moral.
REFERÊNCIAS: [1] Vice-presidente de Unificação da Fergs. [2] O Novo Testamento. trad. Haroldo Dutra Dias. FEB. Edição do Kindle. [3] XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. Ditado pelo Espírito Emmanuel. FEB - Federação Espírita Brasileira. Edição do Kindle, cap. 9. [4] XAVIER, Francisco C. Lázaro Redivivo. 13. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014, p. 144.
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