Propostas de Acessibilidades na Evangelização Infantil

Sonia Hoffmann
A complexidade do ser humano é imensa nas suas diferentes etapas evolutivas. Um elemento facilitador de entendimento daquilo presente em cada um a partir da juventude está na possibilidade da pessoa conhecer e expressar com mais detalhes o que sente, pensa e reflexiona acerca dos componentes do seu mundo interno e externo. Com a criança, ela e nós, estamos em constante observação e experimentação. Os adultos ainda podem tomar referências em tratados e estudos que abordam as possibilidades infantis, em cada idade, mas não existe algo taxativo para definir seu comportamento e desenvolvimento porque são diversas as variáveis e circunstâncias a serem consideradas e interatuantes.
Quando a criança apresenta alguma deficiência sensorial, motora e intelectual ou qualquer outra neurodivergência, aí mesmo é que a observação e a experimentação precisam ser intensificadas pelo evangelizador, pois além ela ter de lidar com as (in)suficiências próprias da sua etapa desenvolvimental, precisa ainda encontrar vias alternativas para se expressar e se fazer compreendida. Este é um esforço a ser mutuamente realizado, sendo desumano pensar que somente a criança deve se fazer compreendida, aceita, acolhida.
Neste momento, evangelizadores, por mais especializados ou conhecedores da evolução de uma criança, precisam estar sempre atentos, adotar a tentativa e a criatividade porque simplesmente não existe uma atividade que seja universalmente adequada ou correta além do brincar e do interagir sem preconceito, barreira ou incoerência.
Perguntas sempre surgem sobre qual atividade é a que pode ser aplicada e oferecida a uma criança com deficiência ou neurodivergência. A resposta é: não existem atividades específicas! Existem sim um conjunto de estratégias que podem facilitar a oferta e a execução desta ou daquela brincadeira, atividade ou interação. A criança mostra seu interesse, cabendo ao evangelizador propor ampliações pelo incentivo, apresentação de diversificações, introdução de novos elementos.
Primeiramente, é preciso que o evangelizador enxergue na criança sem ou com deficiência/neurodivergência um Espírito em evolução, um ser de possibilidades que muitas vezes precisa de auxílio, empatia e ousadia para conquistar sua autonomia, independência e progresso.
Sequencialmente, é importante o conhecimento de como e quanto a criança está (des)organizada, a formação de um vínculo no qual ela sinta-se segura, livre e respeitada, o entendimento de quais ambientes, objetos, situações e atividades são aversivos para ela, a proposição de atividades justas, flexíveis e compatíveis ao seu interesse e condição, generalizações devem ser sempre evitadas (cada criança responde de modo singular), o emprego da vastíssima contribuição de recursos da Tecnologia Assistiva.
Muitas são as ajudas trazidas pela Tecnologia Assistiva, desde as mais simples até as mais complexas. A escolha do repertório assistivo está ligado à natureza e ao grau da deficiência/neurodivergência. Alguns recursos podem ser adquiridos pela compra, mas muitas vezes podem ser confeccionados pela criatividade do quem se propõe a evangelizar, como, por exemplo: engrossadores (para lápis, caneta, pincéis, talheres...), tapete sensorial (com material de diferentes texturas), pranchetas (para a fixação de papéis, figuras...), mesas com material aderente (para materiais não deslizarem com facilidade), mesas contornadas com canos PVC (para borracha, caneta, pincel, lápis e outros materiais não caírem e evita que o evangelizando se torne sempre dependente da colaboração de alguém para apanhar).
Informações e explicações que antecipem determinado acontecimento ou mudança de planos devem ser sempre previamente comunicadas com clareza e objetividade. Quadros de rotina escritos ou com imagens são recursos eficientes para quem se encontra no transtorno do espectro do autismo, pois a partir do conhecimento da sequência a criança assimila as etapas de atividades, sente-se segura e sabe como se auto-organizar. Os intervalos de tempo entre uma atividade e outra precisam ser sempre informados (através de relógio, contemporizador ou outra sinalização anteriormente combinada), pois deste modo a criança também do início e término do intervalo e qual o tempo que ainda tem para descanso ou para alguma atividade do seu interesse.
Materiais contrastados e em relevo são úteis para crianças que apresentam baixa visão e cegueira. Abafadores de sons ou protetores acústicos são preciosos para quem apresenta sensibilidade auditiva, da mesma forma como bonés com abas ou redução de luminosidade podem ajudar quem apresente sensibilidade à luz. O reconhecimento espacial da sala é importante para aquela criança que apresenta dificuldade visual tanto quanto a construção de maquetes para a construção do mapa mental (por exemplo, caixas de sapato que simule o espaço da sala e materiais que representem a disposição de estante, cadeira, mesa, janela, porta...).
No transtorno opositor desafiante (TOD), é importante que todos os evangelizadores e pessoas que interajam com a criança falem na mesma linguagem, se posicionando com as mesmas comunicações, as informações e esclarecimentos devem ser claros, objetivos, breves e diretos, olhos nos olhos e falar com firmeza (não sendo rude ou agressivo). Intercalar atividades com aquelas de total interesse da criança possibilita que ela aceite melhor e o comportamento hostil se reduza. Isto, porém, não deve ser colocado para ela como se fosse uma compensação. Os elogios e reforços positivos mostram a ela que está sendo observada. Quando alguma deliberação for tomada por sua transgressão, é importante uma postura consistente do evangelizador. Combinações com a família são sempre aconselhadas.
A qualidade dos acontecimentos à sua volta, como faz referência Joanna de Ângelis (2000), direcionados ou não a ela, exercerão preponderante influência na formação da personalidade infantil, tornando a criança jovial, extrovertida ou conflitada, insegura ou depressiva. Essas marcas tendem a acompanhá-la até a idade adulta, sua maneira de viver.
Em qualquer condição, o fundamental é sempre recordar que se a criança não consegue entender o que dela é esperado, como ela pode proceder e o que a ela é ensinado, é possível que assuma posturas e atitudes de proteção - como o medo de ser afastada/excluída do grupo, de introversão, de culpa, de hostilidade. Por tal razão, o diálogo responsável, o ato includente e objetividade são sempre as melhores estratégias a serem utilizadas em uma interação para se tornar efetivamente inclusiva.
Referência
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito). Amor, imbatível amor. Psicografia de Divaldo P. Franco. Salvador: Livraria Espírita Alvorada, 2000. Série Psicológica Joanna de Ângelis, v. 9.
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