top of page

Relação Inclusiva Biodegradável



Sonia Hoffmann

 

Assim como grande parte dos dejetos e detritos produzidos diariamente pela população vão parar nos aterros sanitários, rios, oceanos, vias públicas, demorando dias, meses, anos e até mesmo séculos para se decomporem, comprometendo a qualidade do ambiente e a própria vida do ser, muitos dos resíduos emocionais e morais inadequados que permeiam a interação humana também podem causar danos e repercutirem no desenvolvimento do Espírito na mesma ou em futura existência.

Deste modo, elementos poluidores como a indiferença, omissão, preconceito, barreiras, intolerância, estigmas, aversões, inflexibilidade (entre outras ações excludentes) são tão nocivos e tóxicos para o equilíbrio relacional quanto produtos e objetos não degradáveis são para a redução de impactos perigosos e o bom gerenciamento do ecossistema próximo ou global.

Algo biodegradável é entendido como aquele com a condição de decompor-se naturalmente, sem causar prejuízos. Sendo pensado que, invariavelmente, folhas e galhos caem das árvores, apodrecendo e se fundindo com a terra, este episódio exemplifica o que seja matéria biodegradável porque tornam o solo rico e saudável. O mesmo, por exemplo, não acontece com alguns detergentes e matérias plásticas (e seus derivados), pois não se transformam pela decomposição, permanecendo na água, ar, ou no solo gerando malefícios. Relativamente à ação includente, por ser esta um processo ético e racional, os intercâmbios interpessoais trazem para o convívio entre as pessoas com ou sem deficiência/diferença a possibilidade de diluir-se em uma rede ampliada de possibilidades salutares ou se decompor em um clima de fraternidade, respeito e concórdia. Contrariamente, o ato excludente pode gerar o mal-estar, a marginalização e mesmo situações adversas e depressivas em quem necessita e deseja viver e conviver em sociedade nas fundamentais condições acessíveis, construtivas e desenvolvimentais.

Mudanças e alterações inesperadas ou perdas repentinas podem certamente acontecer para todos, mas quando não explicadas, dialogadas e esclarecidas elas "incidem no âmbito emocional, causando certo caos, mas podem ser integradas mediante processos de transformação. Não é saudável aferrar-se a determinada emoção e não permitir que ela evolua. Mesmo a matéria aparentemente sem utilidade ou dolorosa pode contribuir para tornar mais fecundo o mundo emocional; isso, sim, deve ser matéria biopsiquicodegradável" (Soler; Conangla, 2011, p.37).

A exclusão, como algo genérico em sua expressão, não é algo necessariamente sempre ruim. Alguém pode ser excluída ou excluir-se de um grupo de malfeitores e isto já demonstra ou haver determinada bagagem espiritual evoluída ou, então, os efeitos da negação passam a ser trabalhados de modo a redundar em amadurecimento moral. Neste momento, a pessoa sente-se, com o tempo, reanimada e até satisfeita. Entretanto, quando ela se sente e é banida do relacionamento familiar, social ou institucional que tem sua importância e significado na sua organização moral e psíquica, ela encontra-se envolvida por questões nada biodegradáveis, custando muito para seu refazimento e restauração estabilizada.

Portanto, atitudes inclusivas, que envolvem e acolhem alguém em sua diferença/deficiência, provoca o descarte (gradativo ou rápido) de sentimentos e comportamentos agressores daquela pessoa em relação a si e aos demais, preenchendo-se de atitudes e comportamentos que valorizam a individualidade, a peculiaridade e abrem espaço para uma transformação sadia do envolvimento e pertencimento fortalecedor, justo e coerente.

Como o Espírito Scheilla traz para reflexão, no livro Virando páginas, a simpatia e a aversão são tão contagiosas a ponto de ser praticamente impossível viver ao lado de alguém de paixões fortes sem se impregnar de suas qualidades e defeitos.  Pouco a pouco, nos habituamos à maneira de sentir daqueles que nos cercam e, como a aprovação simpática e a cordialidade mútua são coisas muito agradáveis, não tardamos muito a adquirir as características e matizes do meio em que vivemos.

Tal se estabelece por ser nosso sistema de emoções aberto e, portanto, externamente condicionável aos acontecimentos. É por este motivo que a estabilidade emocional depende em boa medida das relações estabelecidas com os demais seres.

"Tendemos a sintonizar as emoções das pessoas com as quais nos relacionamos, tanto no que se refere a emoções desagradáveis – mau humor, irritabilidade, pessimismo, ira -, como prazerosas - alegria, harmonia, calma, bom humor. Poderíamos deduzir que, em função de como escolhemos nossas relações, temos mais possibilidades de nos contagiar

em um sentido ou noutro. Quando nos contagiamos de emoções desagradáveis que aumentam o sofrimento, falamos de contaminação emocional" (Soler; Conangla, 2011, p.62-63).

Inadiável é a necessidade de desconstrução de interações excludentes e de hábitos impróprios, perniciosos à psicosfera humana. É uma tarefa emergencial começar, desde o hoje, a modificação de posturas e atitudes, implantando decisivamente a linguagem inclusiva, adotando os ensinamentos cristãos e espíritas nas vivências individuais e coletivas, como a solidariedade, doação, incentivo, colaboração espontânea e digna, agindo com humildade e amorosidade para si mesmo e para com o próximo.

Para a medicação de efeitos includentes, alguns indicadores de atos biodegradáveis valiosos são a generosidade, confiança em vias alternativas desenvolvimentais, amizade, reforços positivos resultantes de observação e avaliação justa e sincera das necessidades das pessoas, aplicação de estratégias de acessibilidades estruturais e funcionais, gratidão pelo convívio com a diferença, manifestações de estímulo e agradáveis, adoção de medidas realistas/factíveis, respeito, aceitação, oportunidade de coparticipação e voluntariado, criação de espaços e relações que favoreçam o progresso da inteligência, da autonomia e emancipação e da evolução de um pertencimento saudável, eficaz, seguro e apropriado, alinhamento com as Leis Morais Divinas.

Por mais difícil que pareça ser, é urgente o nosso rompimento com crenças e valores inadequados: sustentabilidade e atos biopsiquicodegradáveis inclusivos precisam ser incorporados na atitude do ser humano, em qualquer ambiente.

 

Referências

 

SCHEILLA (Espírito). Virando páginas.  Psicografado por Jairo Avellar. Contagem: Editora Ilapua, 2013.

SOLER, Jaume; CONANGLA, María Mercé. Ecologia emocional. Rio de Janeiro: Best Seller, 2011.

Comentarios


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square

Fergs, um século de luz.

Correspondências:

Caixa Postal 4715

Floresta - Porto Alegre, RS

CEP 90220-975

Redes

Ativo 7.png
Ativo 4.png
Twitter-X-White-Logo-PNG.png
waths branco.png

Travessa Azevedo, 88 - Bairro Floresta - Porto Alegre, RS Fone: (51) 3224.1493

© 2024 Assessoria de Comunicação da Federação Espírita do Rio Grande do Sul

NÚMERO DE VISITANTES

bottom of page