Sob as bênçãos de Deus! - Capitulo 5
Comumente chamamos a nós antigos companheiros de aventuras infelizes, programando-lhes a volta em nosso convívio, a prometer-lhes socorro e oportunidade, em que se lhes reedifique a esperança de elevação e resgate, burilamento e melhoria.[1]
Marisa morava na mansão que se localizava do outro lado da rua e ao chegar em casa viu a ambulância estacionada diante da casa vizinha e foi saber o que se passava encontrando o tumulto instaurado, e tão logo foi percebida pela governanta que veio em sua direção, julgando tratar-se de alguém que conhecia os Monteiro.
- A senhora pode me auxiliar, eu não sei quem devo chamar, todos os números que eu identifico na agenda da Dona Leontina não atendem, eu não sei o quê fazer, preciso de que alguém se responsabilize pela internação, há depósitos a fazer no hospital...
Marisa tomou-se de compaixão. Algo em sua alma sensível dizia que era necessário ajudar naquela situação. Não tinha qualquer relação de amizade com a vizinha, pois achava-a fútil e vazia nas poucas vezes que se encontraram em algum evento. Fora convidada algumas vezes para o Réveillon e desculpava-se para não se fazer presente, pois gostava mesmo era de ficar recolhida em seu lar nesses dias, onde cultivava o hábito de reunir a família em cerimônia simples e reservada.
- Olá ...
- Rosa... sou a governanta, mas sou nova e sei quase nada aqui.
- Acalme-se, eu também não conheço muito os donos da casa, mas vamos fazer o melhor que pudermos. Reúna todos os trabalhadores da casa aqui, porque eles devem ter as informações.
Médium em atividade há longos anos, Marisa percebeu de pronto a atmosfera espiritual que reinava ali, em especial sentiu a presença de Emília que, em desespero, corria de um lado para outro tentando resolver as muitas situações que surgiram, embora sabendo que não conseguiria interferir no plano físico. Mentalmente, enquanto reunia os empregados foi fazendo uma prece para dissipar as densas nuvens miasmáticas espalhadas pela casa.
- Sou a Marisa, a vizinha da casa da frente, e vou tentar ajudar no que for possível. Para nos acalmar eu convido os que quiserem a fazer uma oração, pelo restabelecimento da Leontina, pela saúde do Monteiro e por todos nós. Afinal estamos encerrando um ciclo das nossas vidas, depois de um reflexo desta pandemia que causou tantas dores e tristeza, mas estamos aqui, saudáveis, vivos!
Os olhos de Marisa brilhavam de emoção e suas palavras foram ditas em um timbre que tocou aqueles corações. As pessoas foram silenciando, pararam o que estavam fazendo e se reuniram em torno dela que pronunciou sentida rogativa:
Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome! Venha o teu Reino. Faça-se a tua vontade, assim na Terra como no Céu. Dá-nos o Pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, como perdoamos aos que nos devem. Perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos ofenderam. Não nos deixes entregues à tentação, mas livra-nos do mal. Assim seja.
O efeito da prece fez-se sentir de imediato, mesmo para quem não possui qualquer matiz de percepção extrassensorial ou até para os incrédulos. Muitos dos que se divertiam com a situação da anfitriã, chafurdando-se em deboches e chistes silenciaram, respeitosamente; muitos enxugavam os olhos com o dorso da mão visivelmente emocionados pelas vibrações que se espalharam no ar; vários se aproximaram de Marisa, agradecendo e trazendo informações valiosas para o momento.
Emília, ao influxo da oração proferida, foi modulando as suas vibrações e assim foi retirada do ambiente pela equipe do Dr. Carlos Barbosa, que juntamente com o Irmão Honório, estabeleceram um protocolo de assistência à Monteiro e Leontina.
Referência bibliográfica: [1] Xavier, Francisco Cândido; Emmanuel (Espírito). Vida e sexo. FEB - Federação Espírita Brasileira. Edição do Kindle.
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