TOD e ação inclusiva
Sônia Hoffmann
Irritabilidade continuada, ausência ou precária empatia, culpabilização do outro, mau-humor constante, irresponsabilização, desobediência deliberada, reações emocionais e comportamentais agressivas desproporcionais e desconsideração da autoridade dos pais, familiares e até de amigos são aspectos que configuram o transtorno opositivo desafiador (TOD). Normalmente, o diagnóstico com mais precisão acontece entre seis e doze anos de idade porque até então muitos pais pensam ser tal comportamento infantil uma teimosia, rebeldia ou vontade caprichosa de contrariar passageiras. No entanto, quando percebem a persistência e os agravos afetivos e sociais que a criança causa para si mesma e para as demais pessoas é buscada uma investigação junto à profissionais da área da saúde, mas o caos já está instalado. A infelicidade é generalizada, pois até mesmo a socialização com o grupo familiar, professores e colegas se encontra comprometida e mesmo corrompida. Programações e passeios conjuntos não são realizados simplesmente pelos pais saberem que confusões e constrangimentos irão surgir, irmãos e colegas começam a se afastar e a tentativa da colocação de limites (mesmo com argumentos lógicos e convincentes) de familiares e professores se esgota por perceberem que pouco ou nada resolve. Como a criança e o adolescente se mantêm nesta insistência comportamental, sofrem por sentirem-se isoladas e o risco do uso de drogas e álcool se potencializa logo que possível, assim como a prática de crueldades como revide. Alguns estudiosos indicam ser o TOD um dos maiores prenunciadores de psicopatologia na vida adulta de alguém. (CAPONI, 2018)
Médicos e outros especialistas desta situação ainda não definiram causas para o TOD, pois, de acordo com o DSM-5, não é possível identificar nenhum mecanismo neurobiológico específico. Alguns determinantes considerados para o seu surgimento podem ser relacionados a abusos sofridos e vivenciados; falta de atenção do cuidador; crescimento em um ambiente com comportamentos inconsistentes, agressivos, negligentes ou permissivos.
O tratamento para este transtorno consiste na terapia familiar, objetivando principalmente promover uma interação dos pais com a pessoa com TOD. A psicoterapia também é recomendada para que os danos não se ampliem e até possam se reverter (quando a interação terapêutica é feita precocemente). Caso haja a presença de algum outro tipo de transtorno psicológico associado, o médico pode receitar medicamentos.
Espiritualmente, existem outras possíveis causas que partem da insatisfação ou desarmonia da pessoa com seu planejamento reencarnatório, com a sua realidade e mesmo a necessidade de uma reeducação moral intensa e daqueles com quem convive. O TOD está inserido na imensa gama de sofrimentos desafiantes para a adoção de atitude fraterna e compreensiva pela sociedade. Esta tarefa nem sempre ou quase nunca é fácil, pois, como alerta Joanna de Ângelis (2014), algumas pessoas se encontram tão doentes moralmente e tão descrentes da caridade, que se fazem agressivas e difíceis de serem ajudadas. Paciência perseverante e desinteressada consistem em medidas úteis para os alcançar. Outros tantos, por suas reações afetivas encolerizadas, constituem prova áspera que a paciência deverá suplantar com bondade e compaixão. Quanto mais doente, mais atendimento paciente necessita e exige a ave humana ferida no seu vôo de crescimento interior.
Este conflito é encontrado em crianças, adolescentes e mesmo adultos, percebendo-se claramente que a solução não está em atos excludentes e sim em esforços conjuntos da rede social na tarefa de tornar saudável a relação com uma mediação adequada e assertiva (categórica, clara, indiscutível e definida), paciente, estável, coerente e com atividades que promovam o exercício do respeito aos limites e da empatia desde a reflexão à ação. Com exemplos e atitudes generosas e benevolentes, de acordo com Joanna de Ângelis, a paciência (como ciência da paz) adquire profundo significado quando direcionada aos que sofrem. A amiga espiritual ainda reforça que a paciência é a exteriorização da paz, sendo o mecanismo não violento de que se utiliza a fim de alcançar determinados objetivos.
Para conquista do amadurecimento psicológico é proposto que cada atividade tenha lugar no seu momento apropriado, que cada desafio seja atendido no instante correto no momento no qual se apresente. Alguém apresentando autocompaixão diante dos problemas e sagacidade para fugir deles sem solucioná-los demonstram mecanismos infantis que em nada os resolvem. Quando a infância se caracteriza por problemas e desafios não solucionados, provavelmente as dificuldades são transferidas do inconsciente do indivíduo para todos os diferentes períodos da vida futura. Então, o amadurecimento psicológico fica dificultado, sendo procurado permanente refúgio no período infantil que prossegue desafiador. Muitas vezes, a necessidade de autopunição se torna extrema, como mecanismo de justificação das pequenas travessuras, das irresponsabilidades, das mentiras ou quaisquer outros mecanismos de evasão daquela realidade, por meios nem sempre ideais. Consequentemente, podem surgir os criminosos, que havendo sido crianças maltratadas, sentem necessidade de punir a sociedade por aquilo a eles ocorrido, tornando-se dessa forma bandidos. Necessário, por tal razão, inicialmente redescobrir a criança que permanece no seu âmago e avaliar o seu estado de crescimento, suas necessidades, seus anseios. Se os jogos e despreocupações permanecerem possivelmente há transferência de responsabilidade para os outros e culpa sempre dos outros, impondo-se urgentemente a psicoterapia a fim de auxiliar no crescimento e na libertação dos traumas daquela fase (ÂNGELIS, 2013).
Assim, atitudes excludentes apenas superdimensionam o sofrimento de todos, nada ou pouco os atenuando. Neste sentido, encontramos no importante aconselhamento de Joanna de Ângelis (2013) procedimento adequado a ser estabelecido é não retirar a criança do cenário existencial, mas auxiliar que ela ocupe o seu verdadeiro lugar no alicerce do inconsciente, a fim de não perturbar a pessoa da atualidade. Os limites de normalidade devem prevalecer a quaisquer condicionamentos de tempo e de lugar. Um bom relacionamento social é sempre fator relevante para a plenitude do indivíduo, porque é animal gregário e o seu convívio com os demais seres é fator de desenvolvimento das suas aptidões, propiciando-se os atritos e os choques que naturalmente fazem parte da existência, sem derrapar nas animosidades e sim, pelo contrário, desenvolvendo a tolerância, superando a prepotência de submeter todos os demais à sua vontade. Quem vive sozinho foge da realidade de si mesmo, que vê projetada nos outros. Sente medo do convívio com os demais, porque não sabe transitar senão nos seus domínios, onde impõe a sua vontade, suas normas e realiza os seus desejos, sem o sentimento de reparti-los, ou, por sua vez, de compartilhar as experiências alheias.
Quem está com o TOD desafia porque gosta da manipulação e sente prazer em exibir sua agressividade. Por isso, em continuidade ao aconselhamento de Ângelis (2013), é importante auxiliar estes seres na conquista da humildade (parte do programa de crescimento interior), evitando, o exibicionismo perturbador por gerar alteração na visão da realidade e de si mesmo, agredindo, por isso, os outros com a aparência em função de não ter segurança dos próprios valores (capazes de oferecer harmonia no conjunto humano onde se encontra). Tal humildade tem início na conscientização de si mesmo, pois observa que faz parte do Universo, cuja grandeza demonstra-lhe a pequenez em que ainda se encontra e o quanto deverá crescer para entender a grandiosidade e a harmonia do mundo no qual vive. Deste modo, reconhece a necessidade de crescer mais e tornar-se melhor.
Portanto, é importante atitude fraterna, coerente e precisa na interação inclusiva com as pessoas que se encontram com este transtorno. Agregada a esta conduta, a educação moral desde a primeira infância e atenção genuína são ações preventivas e atenuantes para o panorama do TOD ser menos complicador para quem com ele convive, direta ou indiretamente.
Referências
ÂNGELIS, Joanna de. A Paciência. In:____. Jesus e o evangelho à luz da psicologia profunda. Psicografia de Divaldo Pereira Franco. 5. ed. Salvador: LEAL, 2014.
ÂNGELIS, Joanna de. Fatores de insegurança. In:____. Vida: desafios e soluções. Psicografia de Divaldo Franco. 12. ed. Salvador: Livraria Espírita Alvorada, 2013.
CAPONI, Sandra Noemi. Dispositivos de segurança, psiquiatria e prevenção da criminalidade: o TOD e a noção de criança perigosa. Saúde e Sociedade. São Paulo, v. 27, n. 2, p. 298-310, 2018.