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Velhofobia




Sonia Hoffmann

 

Preconceitos, estigmas e tabus associados ao envelhecimento recebem o nome de velhofobia, embora especialistas utilizem igualmente a palavra gerontofobia. O pânico, aversão ou medo patológico de alguém pelo próprio processo de envelhecimento também recebe esta nomenclatura, mesmo sabendo-se ser algo absolutamente natural no ciclo vital de uma pessoa.

Como qualquer rótulo designando o preconceito, velado ou ostensivo, uma gama de prejuízos são causados, como ansiedade, desvalorização, depressão e assustadores atos excludentes no âmbito familiar e social do idoso. Contudo, estes e outros danos não afetam somente a pessoa idosa, pois a sociedade como um todo se empobrece ao furtar-se do convívio com esta geração e se enfraquece ao desconsiderar a importância do intercâmbio de aprendizagens e saberes os quais foram conquistados ao longo dos anos pela experiência e observação.

Contudo, a construção desta barreira etária, e consequente entrechoque, não é algo atual. No livro Boa Nova (Campos, S.d.]), é abordado no capítulo Velhos e moços, as reflexões de Pedro por sentir-se humilhado pelas conversações dos discípulos mais jovens sobre as suas capacidades e energia para pregações em outras cidades e por sentir que, pelo fato de estar mais envelhecido, a sua idade não coadunava com os serviços do Evangelho do Reino, perguntando a si mesmo o que seria de seu esforço singelo, embora em espírito se conservasse firme e vigilante. O apóstolo, então, decide expor para Jesus suas dúvidas e do Mestre recebe a carinhosa observação: "poderíamos acaso perguntar a idade de Nosso Pai? E se fôssemos contar o tempo, na ampulheta das inquietações humanas, quem seria o mais velho de todos nós? A vida, na sua expressão terrestre, é como uma árvore grandiosa. A infância é a sua ramagem verdejante. A mocidade se constitui de suas flores perfumadas e formosas. A velhice é o fruto da experiência e da sabedoria. Há ramagens que morrem depois do primeiro beijo do Sol, e flores que caem ao primeiro sopro da Primavera. O fruto, porém, é sempre uma bênção do Todo-Poderoso. A ramagem é uma esperança; a flor uma promessa; o fruto é realização. Só ele contém o doce mistério da vida, cuja fonte se perde no infinito da divindade!..." [...] "Esta imagem pode ser também a da vida do espírito, na sua radiosa eternidade, apenas com a diferença de que aí as ramagens e as flores não morrem nunca, marchando sempre para o fruto da edificação. Em face da grandeza espiritual da vida, a existência humana é uma hora de aprendizado, no caminho infinito do Tempo; essa hora minúscula encerra o que existe no todo. É por isso que aí vemos, por vezes, jovens que falam com uma experiência milenária e velhos sem reflexão e sem esperança" (p.62-63).

Pedro, então, indaga se a velhice é a meta do espírito, respondendo Jesus:

- "Não a velhice enferma e amargurada que se conhece na Terra, mas a da experiência que edifica o amor e a sabedoria. Ainda aqui, devemos recordar o símbolo da árvore, para reconhecer que o fruto perfeito é a frescura da ramagem e a beleza da flor, encerrando o conteúdo divino do mel e da semente" (p.63).

O discípulo retoma sua condição particular e pondera: - “A verdade, Senhor, é que me sinto depauperado e envelhecido, temendo não resistir aos esforços a que se obriga a minh’alma, na semeadura da vossa doutrina santa. - Mas, escuta, Simão - redarguiu-lhe Jesus, com serenidade enérgica -, achas que os moços de amanhã poderão fazer alguma coisa sem os trabalhos dos que agora estão envelhecendo?!... Poderia a árvore viver sem a raiz, a alma sem Deus?! Lembra-te da tua parte de esforço e não te preocupes com a obra que pertence ao Todo-Poderoso. Sobretudo, não olvides que a nossa tarefa, para dignidade perfeita de nossas almas, deve ser intransferível. João também será velho e os cabelos brancos de sua fronte contarão profundas experiências. Não te magoe a palestra dos jovens da Terra. A flor, no mundo, pode ser o princípio do fruto, mas pode também enfeitar o cortejo das ilusões. Quando te cerque o burburinho da mocidade, ama os jovens que revelem trabalho e reflexão; entretanto, não deixes de sorrir, igualmente, para os levianos e inconstantes: são crianças que pedem cuidado, abelhas que ainda não sabem fazer o mel" (p.63).

Assim, o significativo é saber envelhecer, lembrando sempre que o Espírito amadurece sem necessariamente envelhecer. É preciso, por tais razões, respeitar e adotar na instituição espírita medidas includentes, apresentando à criança e ao jovem as preciosas possibilidades da pessoa idosa, reunindo as várias gerações em eventos nos quais todos tenham a sua função e a sua importância reconhecidas. O esclarecimento sobre os motivos pelos quais, muitas vezes, pessoas com idade mais avançada não conseguem realizar com a destreza da juventude movimentos, deslocamentos e elaboração de atividades devem ser trazidos para conversações, entendendo-se que, em diversas ocasiões o ritmo pode estar prejudicado, mas a capacidade de entendimento e de percepção estão extremamente presentes: o que está acontecendo no corpo físico é motivado por desgastes, por redução vital, por despreparo para enfrentamento de dificuldades por vias alternativas.

Além destas medidas de inclusão, é importante a observação da disponibilização de rampas, corrimão, sanitários mais elevados e a colocação de barras. O piso deve ser apropriado para não ocasionar quedas, a luminosidade estar adequada, letras e apresentações precisam ter caracteres ampliados, definidos e contrastados, com as imagens e som nítidos. A flexibilização de horários é significativa, pois algumas situações podem impedir a presença ou o deslocamento por motivos de saúde, de acompanhamento ou pela própria condição financeira porque algumas pessoas idosas têm um gasto substancial com medicações, alimentação equilibrada e cuidados médicos.

A formação e o convite para participação em grupos nos quais sejam discutidos sentimentos, posturas e entendimentos sobre o processo de envelhecimento é algo extremamente valioso, pois oportuniza o idoso a pensar e falar da sua percepção e antecipa para muitas pessoas o quanto temer o envelhecimento pode trazer muitos mais danos do que ganhos. Comemorações e momentos de descontração auxiliam no humor e sentimento de pertencimento da pessoa, assim como fazer contatos telefônicos e visitas para estas pessoas colaboram para elas sentirem-se valorizadas. A mensagem a ser sempre divulgada é aquela dada por Jesus para Simão Pedro: "- Em verdade, Simão, ser moço ou velho, no mundo, não interessa!... Antes de tudo, é preciso ser de Deus!..." (p. 66).

 

Referências

CAMPOS, Humberto de (Espírito). Boa nova. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB, [S.d.] p. 62-66. Cap. Velhos e Moços.

GERONTOFOBIA. Disponível em: https://www.academia.org.br/nossa-lingua/nova-palavra/gerontofobia. Acesso em: 21 jul. 2024.

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